Com apenas quatro anos, Maria Luiza Almeida apresentou os primeiros sintomas que indicariam a doença crônica que mais atinge crianças, o diabetes tipo I. Um xixi na varanda de casa com aspecto melado foi um sinal da doença. “Eu pisei no chão e parecia garapa de açúcar, um suco bem doce quando derrama no chão e fica melado. Além disso, tinha muitas formigas em volta”, relembra a mãe de Maria, Samara Carla, diretora da Farmácia Básica do Município de São Domingos no sertão da Paraíba. Trabalhadora da área de saúde, a técnica percebeu que alguma coisa não estava correta. “Fui com ela ao posto da Saúde da Família e logo ele pediu um teste de glicemia”, comenta.
Após o resultado do exame, com a taxa de glicemia igual a 400 mg/dL, valor acima do nível considerado normal, que é de no máximo 99mg/dL, Maria Luiza ficou internada até que todas as taxas fossem estabilizadas. Ao ser encaminhada para internação, o outro sintoma que chamou muito atenção da Samara foi à sonolência. “Quando ela foi encaminhada para fazer o exame e para internação, ela só queria saber de dormir e dormir, isso também me assustou”, disse a técnica. Hoje, com nove anos, Maria entende sua situação e sabe exatamente os medicamentos que deve tomar e que a sua alimentação deve ser restrita e regrada. “Ela é uma boa menina, não sofre por não comer doce nas festinhas e sabe os horários de tomar a medicação”, relata a mãe.
O que é diabetes
O diabetes é uma doença do metabolismo causada pela falta de insulina, que para de ser produzida pelo pâncreas. Isso interfere na queima do açúcar e na sua transformação em outras substâncias, como proteínas, músculos e gorduras. A doença crônica possui vários tipos. O diabetes tipo I, embora ocorra em qualquer idade, é mais comum ser diagnosticado em crianças. Este tipo acontece quando a produção de insulina do pâncreas é insuficiente, pois suas células sofrem de destruição autoimune. O pâncreas perde a capacidade de produzir insulina em decorrência de um defeito do sistema imunológico, fazendo com que nossos anticorpos ataquem as células que produzem esse hormônio.
Segundo o diretor de Assistência Farmacêutica e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde, Renato Alves Teixeira, ficar atento aos sinais é fundamental para que o paciente tenha atendimento necessário e não chegue ao nível crítico. “Os pais devem ficar atentos quando as crianças derem sinais de emagrecimento sem motivos aparentes, apresentem excesso de suor, crises de desmaios, tonturas e uma frequência urinária maior do que o normal. Esses são os sintomas de um diabetes de fase avançada e sem controle”, ressalta. Outro alerta é para pais que são diabéticos fazerem exames nos filhos para avaliar se há uma hereditariedade.
Medicação
“Sensível à progressão da diabetes no país, e aos danos causados por essa doença, principalmente em crianças, tomamos essa atitude inovadora de colocar uma insulina que é o melhor tratamento disponível”, destaca o diretor Renato Alves.
Confirmado o quadro de diabetes tipo I, Maria é acompanhada por uma endocrinologista pediátrica e consegue os medicamentos pelo SUS. “Eu pego sempre as insulinas da minha filha no posto de saúde. Isso me ajuda muito”, relata Samara. Com o novo investimento do Ministério da Saúde, a partir de agora Maria Luiza e outras crianças com diabetes tipo I terão à disposição no SUS um dos mais modernos medicamentos para o tratamento da doença: a insulina análoga. Estudos apontaram que insulina análoga proporciona um melhor controle glicêmico nos sintomas relacionados à hiperglicemia e diminuição das complicações agudas e crônicas decorrentes do diabetes.
Outra notícia boa é que para todos que já usam seringa para aplicação dos medicamentos poderão utilizar as canetas. “Vamos mandar de forma progressiva, aos poucos os municípios receberão o produto é de fácil aplicação, sua embalagem é uma caneta, resposta rápida e com doses que podem ser adaptadas a situação do paciente”, destacou Renato Alves.
Diabetes no Brasil
Atualmente, o diabetes atinge 8,9% da população adulta do Brasil, de acordo com o sistema de vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico (Vigitel) 2016. Desde 2006, o índice cresceu 61,8%, tendo maior prevalência nas mulheres. O avanço das doenças crônicas no país preocupa, já que são consideradas um sério problema de saúde pública, sendo responsáveis por 63% das mortes no mundo, segundo estimativas da Organização Mundial de Saúde (OMS). No Brasil, o diabetes são a causa de 72,6% dos óbitos.
O Ministério da Saúde dispõe de linha de cuidado para Diabetes mellitos, com o objetivo de controlar a glicemia e desenvolver o autocuidado nos pacientes. Parte da estratégia inclui a prescrição de insulinas em esquema intensivo. Para tratamento do DM1, estão à disposição no SUS, entre outros medicamentos, as insulinas humanas NPH - para a manutenção da glicemia - e a insulina humana regular (de ação rápida), a ser administrada cerca de 30 minutos antes das refeições.
Esses produtos estão disponíveis nas unidades de saúde ou por meio do Aqui Tem Farmácia Popular, que está presente em mais de 4 mil municípios. Por meio deste programa, em 2016, mais de 6,2 milhões de pacientes buscaram medicamentos gratuitos para diabetes. Esse número é mais que o dobro do total beneficiado em 2011 (2,6 milhões).
Por Luíza Tiné, para o Blog da Saúde