Pesquisa de brasileiros no MIT simplifica identificação da doença e permite que ela seja monitorada antes de se tornar grave
Pesquisadores desenvolveram aplicativo de celular capaz de identificar catarata
A catarata, doença ocular mais predominante no mundo, vai poder ser diagnosticada e ter sua evolução acompanhada por meio de um aplicativo de celular. O software ainda em testes é projeto de uma equipe de pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts. O projeto, que conta com a participação de dois brasileiros, recebeu recentemente 300 mil dólares como prêmio do Vodafone Wireless Project Award e mais 10 mil em prêmios de incentivo do MIT.
O dinheiro será usado para fazer testes clínicos em pacientes na Índia, país com maior incidência da doença no mundo. Testes também estão sendo feitos no Hospital da Conceição, em Porto Alegre. A equipe já desenvolveu outro aplicativo que mede o grau de miopia, hipermetropia, presbiopia e astigmatismo.
“Ainda é difícil falar em custo e comercialização, pois muitos testes para regulamentação médica precisam ser feitos. Mas acredito que o aplicativo poderia ser baixado gratuitamente e os acessórios sairiam por uns três dólares”, disse ao iG Vitor Pamplona, um dos pesquisadores do projeto.
Além do custo baixo, o aplicativo consegue fazer teste de contraste por região do cristalino e também mede o quanto a catarata está se espalhando. “Podemos medir o quanto cada ponto da doença interfere na visão do indivíduo e com isto simular a visão específica de cada. Assim, é possível montar imagens para ajudar o paciente a decidir se deve operar a catarata”, disse.
Pamplona explica que normalmente os testes para catarata são subjetivos, apenas com notas de um a quatro dadas pelos oftalmologistas, que determinam a gravidade da doença. No entanto, com o simulador, fica mais fácil decidir se a operação deve ser feita, já que ele faz a comparação de uma imagem vista por olhos saudáveis com a de olhos com a doença.
Vale lembrar que a retirada do cristalino na operação da catarata faz com que o paciente perca a capacidade de focar, o que o impede de ler sem óculos para presbiopia. A doença é bastante comum na terceira idade.
Pontos na tela do celular ajudam paciente a mapear onde há catarata no cristalino
Como funciona o aplicativo
O software, chamado de Catra, cria um mapa do olho, identificando a catarata. Ele também permite a comparação da evolução da doença. Instalado no celular, tem como “acessório” uma espécie de lente ocular e uma máscara.
São ao todo cinco testes. O primeiro identifica a catarata: pontos imóveis verdes são projetados na tela do celular por 10 segundos. Se o paciente vir os pontos alterados, é sinal de catarata. No segundo teste ocorre o mapeamento. “Para cada região ocular, o celular espera entre 1 e 2 segundos para identificar se houve borrão. O paciente deve marcar onde ocorreu o borrão”, disse.
Depois é avaliada quão densa é a catarata, o que em testes clínicos atuais é feito em tomografia computadorizada. No aplicativo, um dos pontos onde foi identificado o borrão é comparado com um que não tenha ocorrido.
Os dois últimos testes só o Catra faz. No teste de contraste, os tons claros e escuros ficam mais acentuados, realçando a imagem, e o voluntário precisa assinalar em que ponto de contraste a imagem aparece para ele. “O teste de contraste é tão novo que a gente nem sabe para que vai usar, só que ele dá o percentual de catarata”, disse Pamplona. Por fim, o último teste mede quanto a catarata se espalhou pelo cristalino, permitindo fazer um quadro de como a doença atrapalha a visão do indivíduo.
Pamplona conta que ainda são necessários vários testes, pois não se sabe ainda se o fato de o aplicativo ser usado em um paciente com catarata e miopia, por exemplo, afetaria o resultado do exame. "Só com os exames clínicos feitos nas vilas indianas e no hospital aqui no Brasil poderemos descobrir se há interferência. Um dos integrantes do projeto vai passar dois meses na Índia para isto", disse.
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