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segunda-feira, 30 de maio de 2011

Medidas simples fazem mortes por enfarte caírem 28% em 5 hospitais

Treinamento de médicos, organização da rede de atendimento e introdução de um único remédio na emergência compõem estratégia adotada em um projeto-piloto em São Paulo que, estima-se, poderia salvar 30 mil vidas por ano em hospitais públicos do País


Um projeto-piloto implementado em cinco hospitais da cidade de São Paulo conseguiu reduzir em 28% a taxa de mortalidade por enfarte. As medidas tomadas foram simples: treinamento de médicos, organização da rede de atendimento e inclusão de um único medicamento na rotina das emergências. Estima-se que 30 mil vidas seriam salvas todos os anos se a iniciativa fosse expandida para todos os hospitais públicos do País.

"Quando se aplica o melhor tratamento, no menor tempo possível, o índice de mortalidade por enfarte é de 8%", afirma Luiz Antonio Machado César, presidente da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp). Na cidade de São Paulo, porém, a média dos hospitais é de 15% - e chega a 35% em locais com menor infraestrutura.

Segundo Machado César, três fatores explicam o alto número de mortes: lentidão do paciente para buscar atendimento, demora dos médicos para diagnosticar o enfarte e falta de terapia adequada nos hospitais. O Projeto Infarto - parceria entre Socesp, Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e Secretarias Municipal e Estadual da Saúde - atuou nos dois últimos itens.

Foram escolhidos para a etapa inicial, que começou em abril de 2010, hospitais de periferia com grande volume de atendimento a enfartados e mortalidade superior a 15%. Das 12 unidades que começaram o treinamento, 5 chegaram ao fim: Hospital Geral do Grajaú, Hospital do Tatuapé, Hospital Tide Setúbal (São Miguel Paulista), Hospital Artur Ribeiro de Saboya (Jabaquara) e Hospital Doutor José Soares Hungria (Pirituba).

O primeiro passo foi treinar médicos da emergência para diagnosticar o problema com agilidade e aplicar, quando necessário, um medicamento que ajuda a restabelecer o fluxo de sangue para o coração - chamado trombolítico. Esse tipo de droga já estava disponível na rede pública, mas numa versão mais antiga e menos eficaz. "Era como usar um computador de 15 anos atrás", afirma Antônio Carlos Carvalho, chefe da disciplina de cardiologia da Unifesp.

Sem acesso. Para evitar que o fluxo de sangue volte a ser interrompido, o ideal é que o paciente passe por uma cirurgia para desobstruir a artéria comprometida. Poucos hospitais, porém, têm condições de realizar esse tipo de procedimento.

Durante o projeto, foi firmado um convênio para que as unidades encaminhassem seus pacientes para o Hospital São Paulo, da Unifesp, onde era feito o atendimento de alta complexidade. Segundo Carvalho, seria preciso fazer convênios semelhantes com outros quatro hospitais para atender a demanda da capital.

Se não houver esse tipo de acordo, dificilmente os pacientes da periferia terão acesso a tratamento cardiológico de ponta, diz Iran Goçalves, da Unifesp. "Somente quando o caso se agrava pedem a transferência, mas aí é preciso enfrentar a burocracia e encontrar uma vaga."

Quando há o remédio certo disponível, profissionais treinados e um local pré-determinado para transferir o paciente, diz Carvalho, é possível recuperar até mesmo casos graves, como o do empreiteiro Ulisses Bernardo, de 44 anos, que sofreu um enfarte e quatro paradas cardíacas. "No Hospital do Tatuapé me entubaram, fizeram tudo o que podiam e me encaminharam para o São Paulo, que deixou a equipe de prontidão. A médica disse que para o motorista da ambulância que minha vida estava nas mãos dele", conta.

Embora tenha perdido 30% da capacidade de seu coração, Bernardo leva hoje vida normal e continua trabalhando. "Evito apenas fazer muito esforço."

Organização. Os primeiros resultados do projeto mostram que a simples articulação da rede fez diferença. Em 2009, foram atendidos 314 enfartados e registradas 79 mortes - porcentual de 25,6%. No ano passado, foram 932 casos e 165 mortes, ou seja, uma mortalidade de 18,6%.

Não apenas houve uma redução na mortalidade de quase 30% como a média de internação após a cirurgia caiu de 10 para 3,6 dias. "A economia de leitos na UTI nos permite atender mais dois pacientes", diz Antonio Célio Moreno, presidente do Comitê de Cardiologia da Secretaria Municipal da Saúde. "Além da pessoa voltar mais rapidamente ao trabalho, tem menos complicações e menor custo para o sistema." Naide de Oliveira, assistente técnica da Secretaria Estadual da Saúde, diz que já foram chamados outros nove hospitais da capital para começar o treinamento. "Devemos também fazer um piloto no interior do Estado ainda este ano", diz.

PARA ENTENDER

Angina pode passar por dor muscular

O empreiteiro Ulisses Bernardo conta que nas semanas anteriores ao enfarte, vinha sentido dores no peito, nas costas e braços. "Achava que era problema de coluna", conta. A dor que Bernardo sentiu, na verdade, chama-se angina. É causada pelo baixo abastecimento de oxigênio ao coração e é um sinal de que alguma artéria que irriga o órgão está obstruída. O desconforto pode afetar toda a região do tórax, os dois braços e até o maxilar. Surge, geralmente, após esforço físico ou emoção forte e some alguns minutos depois. No caso do enfarte, o desconforto é contínuo e tende a aumentar. Pode ser acompanhado de suor frio, enjoo e tontura.

OS SINTOMAS DE UM ENFARTE

Saiba como perceber a ocorrência de um ataque cardíaco. É importante lembrar que não há como ajudar a pessoa no local. A pessoa deve ser levada o mais rápido possível para o hospital mais próximo para o diagnostico e tratamento.


- Dor no peito em pontada, desencadeada por esforço físico ou emocional e que seja persistente ou tenha piorado nos últimos 15 minutos

- Aperto, pressão ou queimação no peito

- Dores nos braços, maxilar, pescoço, costas e estômago

- Sudorese fria

- Falta de ar

- Náusea, vômito e mal estar

- Sensação de cabeça leve

PARA TER UM CORAÇÃO SAUDÁVEL

Uma lista de indicadores para uma boa saúde cardíaca:

- Colesterol abaixo de 200mg/dL

- Pressão sanguínea menor que 120/80 mm Hg

- Glicose menor que 100 mg/gL

- Índice de massa corpórea abaixo de 25, ou seja, fora das faixas de sobrepeso e obesidade

- Circunferência abdominal menor ou igual a: 90 cm para homens e 80 cm para mulheres

- Não fumar

- Evite situações de estresse

- Praticar, semanalmente, no mínimo 150 minutos de exercícios moderados (caminhada, por exemplo) ou 75 minutos de exercícios de alta intensidade (como a corrida)

- Cuidar da alimentação, priorizando o consumo de fibras e controlando a ingestão de gorduras saturadas e sódio.


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