Há 78 anos, no dia 1º de junho de 1933, era fundada a Escola Paulista de Medicina, que resultou na Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) – referência em saúde no Brasil. Por acaso, na mesma data, em 2011, a relação entre prestadores de saúde, operadoras e médicos foi debatida durante o “II Colóquios de Saúde”, idealizado pela IT Mídia.
A mesa de diálogo foi composta por seis integrantes, mediados pelo filósofo e professor da Fundação Dom Cabral e PUC- SP, Mario Sergio Cortella. Apesar da troca harmônica de ideias, com participação ativa da plateia, ficou evidente que o setor de saúde é gerido sob situação de conflito.
Diversos temas foram levantados pelos participantes como, por exemplo, modelo de remuneração, financiamento, melhores práticas de gestão, valorização do médico, comunicação entre as partes e, claro, tudo dentro do contexto de mercado em que o País está inserido.
Em meio a muitas opiniões divergentes, um aspecto consensual ficou evidente: o médico deve participar e ser peça chave no processo decisório dos hospitais. “Temos que ter a ideia clara de que o mercado é um negócio e a profissão médica está inserida neste modelo. E, por isso, os médicos tem que participar dessa visão de negócio”, disse o diretor médico do hospital Albert Einstein, Miguel Cendoroglo Neto.
O médico é o profissional responsável pela escolha dos procedimentos e materiais a serem usados. Portanto, segundo os participantes do Colóquio, sua atuação na gestão da instituição é fundamental. “Ele tem que ser parceiro da entidade”, enfatizou o presidente da Associação Paulista de Medicina (APM), Jorge Cury.
Para se ter ideia, mais de 50% dos gastos dos hospitais brasileiros, hoje em dia, são com insumos.
Remuneração x valorização
Protagonista e líder foram dois substantivos bastante usados para exemplificar a importância do médico na relação com operadoras e hospitais. Por outro lado, existe um aspecto contraditório: todos os players do setor concordam que a remuneração da categoria está defasada. Atualmente o preço de uma consulta particular gira em torno de R$ 30,00 a R$ 40,00.
“Existe pouco dinheiro tendo em vista os grandiosos avanços tecnológicos no setor, mas a valorização do médico é necessária. Hoje ele está fragilizado, o que acaba gerando distorções e encarecendo o sistema. Um exemplo disso são as consultas cada vez mais curtas e a busca de incentivos ilícitos pagos pela indústria”, afirmou Cury.
A necessidade de um novo modelo de remuneração é outro consenso entre os profissionais, mas parece não haver ainda uma proposta unânime. Para o diretor técnico do Hospital Santa Catarina, Jayme Cobra, o ideal seria sair do fee for service para um pagamento baseado em indicadores de saúde.
“É preciso um modelo em que todos ganhem. Hoje para um ganhar outro tem que perder”, ponderou o diretor da Amil, Paulo Marcos Senra Souza.
Na mesma linha de raciocínio o presidente da Lincx, Jair Monaci, enfatizou que a gestão da saúde atual está repleta de vítimas. “O fornecedor passou a ser o principal representante na conta hospitalar. Nenhum hospital consegue relacionar os materiais utilizados. Essa estrutura estimula o desperdício. Quanto mais desperdício, mais se ganha”, enfatizou.
A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) juntamente com as classes médicas e de planos (Abramge, Fenasause, Unidas, Unimed, Anahp, CMB, CNS, FBH, AMB) está trabalhando para mudar o modelo de cobrança.
Para os eventos com alta previsibilidade em termos de utilização de recursos e de desfecho, a cobrança seria feita por meio de um preço fixo. Os procedimentos com uma previsibilidade menor continuam com uma conta aberta. E para eventos cirúrgicos seria negociado um pacote com as operadoras.
De acordo com o superintendente geral de operações do Hospital Samaritano, Sérgio Lopez Bento, com o novo modelo, os hospitais assumiriam mais risco em prol de uma melhor gestão de recursos e de maior poder de negociação com os panos.
Para Monaci, o principal desafio não está na remuneração e, sim, no diálogo entre os agentes da cadeia. “Os interesses são mútuos, mas os objetivos deveriam ser mais comuns”, comentou.
Na visão do superintendente geral do Hospital Nove de Julho, Luiz de Luca, a urgência está na mudança do eixo de valor. Segundo ele, o paciente deve estar no centro e ter o direito de escolher o médico. “A palavra é co-participação entre paciente, médico, hospital e operadora. O paciente não pode ter um plano irrestrito como é hoje”.
Não precisou de muito mais do que 40 pessoas – entre médicos, administradores hospitalares, e de planos – para expor os inúmeros problemas por que a Saúde brasileira enfrenta no dia a dia. Apesar da aparente falta de resolução para tantos conflitos, uma coisa é certa: “Nunca se discutiu tanto. A expectativa para o futuro é positiva”, concluiu otimista o diretor Geral do Hospital Ribeirânea, José Henrique Germann.
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