Percepção dos movimentos do próprio corpo é essencial na fisioterapia e um caminho para a alta performance
A propriocepção é um conceito muito difundido e utilizado na fisioterapia. Nada mais é do que a percepção que você tem de si e do mundo a sua volta. Quando você abraça uma pessoa, por exemplo, precisa saber onde ela está no espaço, com que velocidade, aceleração e intensidade vai se mover em direção a ela. Esse cálculo é realizado por receptores presentes em nosso corpo que entendem o ambiente e a ação, enviam as informações ao cérebro, que devolve uma resposta eficiente (no caso, o abraço).
É com base nesse conceito que fisioterapeutas trabalham para recuperar lesões ou mesmo evitá-las. “Desde pequeno, armazenamos informações sobre nossos movimentos no cérebro. À medida que crescemos, vamos refinando-as. Mas, quando temos uma lesão, essas informações são perdidas. A fisioterapia usa os elementos da propriocepção para treinar o cérebro, a fim de que ele volte a criar planos motores, informações”, afirma Gil Lucio Almeida, presidente do Conselho de Fisioterapia do Estado de São Paulo.
Em cirurgias de hérnia de disco, exemplifica o médico, a forma de andar e a postura acabam mudando. Com a propriocepção, o paciente usa as informações vindas dos músculos e articulações para reprogramar a postura. Quando uma pessoa engessa alguma parte do corpo por 30 ou 40 dias, terá que ensinar novamente o movimento a aquele membro. Dessa forma, lesões graves vão, aos poucos, sendo curadas até que o corpo volte a ser tão eficiente quanto antes.
A propriocepção é inerente ao ser humano, mas pode ser aperfeiçoada e treinada. “A ideia é gerar instabilidade para ganhar mais estabilidade”, afirma Marcelo Luiz de Souza, fisioterapeuta e professor de educação física. Os exercícios funcionais são, em sua maioria, baseados nesse conceito.
Para quem corre ao ar livre, por exemplo, o treino é feito para fortalecer as articulações e músculos. Pular com um pé só em uma cama elástica, mudar a direção com que sempre se faz um movimento ou subir em uma bola oferecem bons resultados. “Tudo o que envolva equilíbrio, ritmo e agilidade está trabalhando os proprioceptores. É uma propriocepção cosciente”, afirma Souza.
Exercícios como esses também podem levar atletas à alta performance. “Os esportistas usam bastante as informações arquivadas no cérebro e de forma bem precisa. O treino ajuda a refinar essas informações e os movimentos passam a ser realizados mais eficientemente”, diz Almeida.
“Treinar na areia fofa, na grama ou em algum terreno instável manda novos sinais para o cérebro, que tem de criar novas respostas a esse estímulo, o que leva a um aprimoramento”, aconselha Marcelo Luiz de Souza.
Segundo Gil Almeida, o conceito pode ser utilizado ainda para corrigir posturas durante a realização de exercícios. O médico sugere a realização de movimentos em frente a um espelho para que a pessoa possa ver seu erro, tomar consciência dele e mudá-lo.
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