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domingo, 14 de agosto de 2011

Dr. Google: pacientes arriscam saúde com ajuda da internet

MorguefileAprenda como filtrar as informações corretas e não virar um cybercondríaco
Um diagnóstico ao alcance de alguns cliques. Parece utópico. E é. Procurar sintomas e vasculhar manifestações de doenças em sites de buscas, por mais tentador que possa parecer, tem tudo para ser uma enrascada daquelas.

No Brasil, 75 milhões de pessoas possuem acesso à internet de alguma forma e 30% dos gaúchos navegam em casa. Com tantas facilidades na rede, fica difícil conter o impulso de se receitar com o Dr. Google. E esta autoprescrição pode ser uma das maiores armadilhas na área da saúde. Em 2008, 28% das internações hospitalares por intoxicação foram provocadas por medicamentos no Estado, segundo o Centro de Informação Toxicológica (CIT) do Rio Grande do Sul. A maior parte, por analgésicos.

O neurologista Sergio Haussen, especialista em Esclerose Múltipla, já viu pacientes cometerem loucuras levando fé em receitas milagrosas. Se arrepia ao lembrar de uma mulher que descobriu por meios virtuais que uma substância contida na picada de abelha solucionava a doença. São mais de 2 mil links no Google falando sobre a receita.

— Quando o produto estava em falta, pegava a abelha e fazia com que picasse o braço dela. Além de ser uma atrocidade, ela perdeu meses de tratamento certo com a aventura — conta Haussen.

Preocupado com a quantidade de gente com ideias deturpadas, o neurologista Alessandro Finkelszten decidiu lutar por informação de qualidade. Participou de uma pesquisa cujo mote era encontrar discrepâncias entre os resultados de buscas feitas por médicos em revistas especializadas e o que aparece de maneira geral na internet. Por fim, encaminharam às maiores publicações na área de saúde um pedido para que os artigos mais importantes em cada segmento fossem divulgados gratuitamente à população.

— Queremos que a pessoa tenha o direito a discutir com o médico com base em artigos científicos, não de especulações descabidas — explica Finkelszten.

Enquanto o apelo não surte efeito, pessoas como Luana Gabriela Maciel Mitto, 36 anos, passam por poucas e boas a cada navegação na internet. Grávida de quatro meses, Luana pesquisa cada passo da evolução de sua barriga e gela com o que descobre.

— Fiz uma média entre vários sites e pelo o que vi já era para o meu bebê estar mexendo. Fui no médico e ele mandou eu parar de futricar nessas páginas. Tento me controlar, mas não consigo — se diverte Luana.

Pânico e sofrimento também acompanharam Giuseppe Pessoa por quase um ano. Em 2008, uma íngua apareceu no pescoço do paraibano de 41 anos, que mora em Caxias do Sul. Correu para o computador. Os resultados das pesquisas levavam a crer que era HIV. O exame de sangue negou a hipótese. Foram meses de aflição até que chegasse o diagnóstico: um princípio de tumor na região da garganta.

— A íngua foi aumentando e eu me apavorando com o que aparecia na internet. Meu sono ficou alterado. Me debilitei. Depois, quando comecei a investigar com o médico, cada exame era uma caça na rede. Um dos primeiros médicos que consultei me dizia para parar de pesquisar. Não conseguia. Estava ansioso e tomava a internet como verdade absoluta — lembra Pessoa.

Maiores enrascadas online
1 - Automedicação
Ao pesquisar o termo “dor de cabeça: o que tomar?”, por exemplo, quase 3 milhões de resultados aparecem no Google. Os médicos insistem que cada paciente deve ser tratado de forma única e que um remédio é receitado a partir de uma avaliação global. O chefe da Unidade de Cardiologia Intensiva do Hospital São Francisco da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, Eraldo de Azevedo Lúcio, deixa claro que o médico receita com base na doença, mas também leva-se em consideração outros itens, como alergias.

2 - Busca por sintomas
Sempre que você digitar um sintoma no Google encontrará uma ou mais doenças bem possíveis de que você tenha. Dor abdominal persistente pode significar uma desordem passageira ou até doenças mais sérias no pâncreas ou no intestino, por exemplo. Essas buscas só devem servir para
discutir posições com o médico.

3 - Somatizar
Muitas doenças estão ligadas ao sistema nervoso, como a úlcera. E elas podem ser agravadas ou desenvolvidas a partir de uma série de informações mal interpretadas. Também pode acontecer de sintomas serem confundidos, atrapalhando o real diagnóstico. Ana Cláudia Tonelli de Oliveira, clínica geral, diz que é comum receber gente em seu consultório com a queixa “lapidada”, ficando evidente que as reclamações são fruto de uma ampla pesquisa anterior. São os chamados “pacientes experts”.

4 - Soluções miraculosas
Soluções com plantas miraculosas ou compostos “bons para tudo” são dignos de desconfiança. Mesmo naturais, certas substâncias possuem princípios ativos capazes de alterar o funcionamento do organismo.

5 - Abandonar o tratamento
Com tantas opções e gente de todos os lados falando sobre infindáveis tipos de tratamento, pode acontecer da pessoa deixar de se tratar da forma adequada. A função do especialista é de indicar um tratamento embasado em longos anos de estudos com uma alta margem de segurança. Há um risco muito alto em abandonar os métodos alopatas em detrimento de gotas ou imersões promissoras.

Como usar?
:: Em vez de pesquisar um sintoma, procure um médico da sua confiança que seja capaz de fazer um diagnóstico correto ou indicar um colega que o faça.

:: Depois de constatada a doença, aí sim a internet pode ser válida, para conhecer as formas de lidar com o problema, dicas de cuidados para o dia a dia.

:: Lembre-se que cada ser humano é único. Uma doença depende de um conjunto de manifestações que não cabem em apenas um texto da internet.

:: Grupos de e-mails e comunidades virtuais são úteis quando há a troca de experiência. Fuja daquelas onde é permitido falar em doses de medicações ou que sugiram tratamentos sem comprovação.

Quem é mais suscetível às armadilhas?
:: Pessoas ansiosas têm propensão a somatizar porque se apavoram mais. Elas exigem que o médico esteja muito bem preparado para justificar e informar adequadamente.

:: Pacientes hipocondríacos e que têm a síndrome do pânico são mais suscetíveis a se impressionarem com informações disseminadas na internet.
Fonte Zero Hora

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