Não se deixe seduzir pelo arsenal de novidades anunciadas para perder peso: especialistas recomendam cautela
Mais da metade da população adulta brasileira está acima do peso. Uma rechonchuda parcela dela sonha em ingerir uma substância que lhe ajude a se sentir saciada por mais tempo, mandando os quilos a mais embora sem muito sofrimento. Para essa legião de pessoas, há duas notícias: uma boa e uma má.
A má é que indústria farmacêutica ainda não lançou uma opção eficiente e segura para ajudara emagrecer quem tem sobrepeso e obesidade sem co-morbidades — condição que se instala em decorrência de outra ou outras doenças — crônicas associadas. A notícia boa é que esse dia pode estar mais próximo do que nunca, o que pode significar um divisor de águas para quem sofre com excesso de peso e, por inúmeros motivos, tem fracassado com os métodos naturais. E é justamente em meio à polêmica da proibição dos anorexígenos (remédios que inibem a fome) e da sibutramina pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que surgiu o Victosa, do laboratório Novo Nordisk, cujo princípio ativo é a liraglutida.
Há apenas três meses no país, a liraglutida é indicada para quem sofre de diabetes tipo 2. Seu funcionamento no organismo foi comparado na imprensa brasileira como um milagre, pois a substância contribui para aumentar a sensação de saciedade e reduzir a fome o que, logicamente, diminui a quantidade de comida ingerida. Além disto, ela atua no trato digestivo, reduzindo o esvaziamento gástrico e a mobilidade intestinal – o que também aumenta a saciedade. Desta forma, quem usa o medicamento perde peso porque come menos. E perde bastante: cerca de sete quilos, em média, em apenas cinco meses.
Antes de correr para a farmácia, porém, muita calma: tanto a Anvisa quanto a Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso) alertam que o uso para pacientes que não têm diabetes, o chamado uso off label (quando um medicamento é aprovado para uma determinada indicação, mas tem outras possíveis), pode acarretar em sintomas como hipoglicemia, dores de cabeça, náusea e diarreia, além de outros riscos, como pancreatite, desidratação e alteração da função renal e da tireoide.
— Isso ocorreu recentemente, com o rimonabanto (Acomplia) — a pílula da barriga. Foi observado que a prerrogativa da prescrição da medicação era do paciente: ele já chegava ao consultório pedindo a medicação. Não deveria voltar a acontecer com uma medicação que poderá ser muito útil para pacientes com diabetes e talvez, com obesidade sem diagnóstico de diabetes. Temos que ter mais paciência e bom senso — afirma Rosana Radominski, endocrinologista e presidente da Abeso.
A professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a endocrinologista Helena Schmid, ressalta, que pacientes diabéticos serão muito beneficiados: gente que precisa emagrecer tão ou mais do que qualquer outro paciente.
— Para pessoas com doenças crônicas ou idosos que precisam realizar alguma atividade física que suas articulações suportem, o Victosa pode ser muito útil — pondera.
Sinergia é tudo
Portanto, se você não é diabético, e precisa emagrecer — e não quer esperar de três a quatro anos pela aprovação off label do Victosa —, o jeito é investir em dois métodos que, entra e sai geração, nunca saem de moda: reeducação alimentar e exercícios físicos.
— A reeducação alimentar funciona porque não é milagre, e, sim, matemática: para nosso corpo funcionar e perdermos peso, precisamos ingerir uma alimentação balanceada, que contenha em média 55% de carboidratos, 15% de proteínas, 30% de lipídios, além de 45 outros micronutrientes. É a sinergia dos alimentos que vai possibilitar a absorção correta dos nutrientes e levar à tão sonhada saciedade — revela a nutricionista Sirlete Abreu.
De acordo com a especialista, é importante que as pessoas saibam que há maneiras naturais para ajudar na tão sonhada saciedade, utilizando fibras, por exemplo.
— Também podemos acelerar o metabolismo recorrendo aos alimentos termogênicos, como pimenta vermelha, canela, chá verde, gengibre e vinagre de maçã, que aceleraram a queima calórica. Mudar hábitos não é fácil, mas é que vai garantir que a pessoa se mantenha magra para o resto da vida, independente de tomar ou não remédio — alerta a nutricionista.
:: Reeducação alimentar: a mais eficaz
Comer de maneira balanceada é a forma mais segura e duradoura de emagrecer. Mesmo que o processo seja mais demorado do que dietas, as mudanças de hábito que o indivíduo adquire costumam se perpetuar.
:: Exercícios físicos: coadjuvante
Promove emagrecimento por meio de queima calórica, além de aliviar a ansiedade. Porém, só funciona para emagrecer quando aliado à reeducação alimentar. Também há restrições, como pessoas muito obesas, que devem, antes, perder peso corporal para diminuir um círculo vicioso de vida sedentária e ganho de peso com outras doenças associadas.
::As dietas da moda: efeito sanfona
Prometem emagrecimento fácil, baseado em princípios científicos questionáveis e não conclusivos. Podem gerar carências nutricionais e alterações metabólicas graves. Ao perder peso rapidamente, a pessoa corre o risco de queimar também massa magra e após recuperar toda a gordura perdida (efeito ioiô).
:: Medicamentos: só com indicação
Seu uso deve ter indicação médica. Quem consome e não muda os hábitos alimentares corre o risco de ganhar peso quando para de tomar.
:: Cirurgias: quando nada mais adianta
As cirurgias para o tratamento da obesidade são indicadas apenas para quem tem obesidade mórbida e exigem uma mudança radical de estilo de vida.
Controle a fome naturalmente
Quem comanda a fome é a grelina, hormônio que aumenta enquanto o da saciedade diminui. O mecanismo é como uma gangorra: quando um sobe, o outro desce. Após a refeição, ocorre o inverso.
> O sistema nervoso leva pelo menos 20 minutos para entender que o estômago está cheio. Depois disso, ordena o corpo para parar de sentir fome. Por isso, é importante respeitar esse tempo e se alimentar com calma. Uma mastigação tranquila favorece esse processo.
> Para manter a balança equilibrada, é recomendado comer de três em três horas. Uma medida eficaz e altamente recomendável é não ficar muito tempo com o estômago vazio e comer poucas quantidades, mais vezes ao dia, também ajuda a acelerar o metabolismo.
> Prefira alimentos ricos em fibra, que aumentam a sensação de saciedade, e opções integrais, que demoram mais para serem digeridas e fazem você resistir mais tempo até a próxima refeição.
> Quanto mais simples as preparações, mais adequada será a refeição. Assim, optar pelos legumes cozidos, em vez de gratinados ou fritos, irá reduzir a quantidade de gorduras.
> Restrinja carboidratos, sobretudo à noite, quando o metabolismo desacelera, o que ajuda a controlar os níveis de insulina.
> Adote alimentos como castanhas, quinua e soja. Grãos, em geral, fornecem gorduras monoinsaturadas, conhecidas por aplacar o apetite, entre outros benefícios. Como elas evitam os picos de açúcar circulante, a produção de insulina se mantém estável.
> Exercite-se. Pesquisas mostram que a atividade física potencializa o efeito dos hormônios leptina e insulina no hipotálamo, órgão situado na região do sistema nervoso central e responsável pelo controle de funções como fome, sede e pressão arterial, entre outros benefícios.
Fonte Zero Hora
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