Enquanto a indústria aposta em novos produtos, nutricionistas pedem cautela sobre os efeitos prometidos
O dia começa com um rápido pingado com leite, fast food no almoço e pizza no jantar, o cardápio diário sempre justificado pela falta de tempo. Neste contexto de corrida contra o relógio, os chamados “alimentos funcionais” vêm ganhando fôlego. A aposta da indústria é que o segmento supere até mesmo o boom dos light/diet – produtos que durante anos dominaram o mercado.
A fórmula usada pelas empresas alimentícias é simples: agregar à margarina, ao iogurte ou ao pãozinho componentes extras com a promessa de facilitar a vida de quem precisa ser mais saudável, mas não resiste aos apelos da alimentação industrializada. De olho no público, na prateleira do supermercado ficam expostas as maneiras “fortificadas” de reduzir colesterol, intestino preso ou melhorar a saúde cardiovascular com o consumo de produtos da popular cesta básica, agora fortificada.
Na última semana, até o ramo dos refrigerantes – bebida apontada como vilã pelos nutricionais – decidiu surfar na onda dos funcionais. A Coca-Cola anunciou a aposentadoria da versão light para, no lugar, lançar a “Coca-Cola Light Plus”, enriquecida com mais vitaminas e sais minerais.
Outras marcas, como a Becel, deixaram de concentrar esforços só na margarina que protege contra o colesterol ruim para, no ano passado, lançar iogurte e leite com o mesmo propósito. “Partimos do índice de que 32% das mortes brasileiras são provocadas por problemas cardiovasculares. Nossa proposta foi auxiliar o consumidor a diminuir a incidência dessas doenças, sem deixar de consumir produtos saborosos”, afirma a gerente de marketing da Becel, Fernanda Pereira.
De olho no lucro
A concorrência por mais produtos funcionais é despertada pelas vendas galopantes de alimentos do tipo. Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o ramo cresce, em média, 20% ao ano. Isso porque existe do outro lado uma população que almeja menores índices de obesidade e melhores indicadores de colesterol, pressão alta e diabetes.
De acordo com o International Foods Information Council – organização norte-americana sem fins lucrativos que divulga informações científicas sobre o tema – a saúde é um fator determinante na hora da compra de alimentos. Mas, apesar de 80% das pessoas estarem insatisfeitas com o funcionamento do organismo, apenas 29% fazem algo para melhorar a dieta (conforme mostrou um estudo feito com os norte-americanos em 2008). É com este pano de fundo – e para melhorar a equação descrita acima – que as indústrias concentram esforços nos funcionais.
Cautela
Apesar das deliciosas novidades, os nutricionistas pregam cuidado com o tema. Em artigo publicado no final do ano passado, a presidente da Sociedade Brasileira de Alimentos Funcionais, Jocelem Salgado, sugere calma antes da confiança cega nos efeitos prometidos pelos fabricantes destes produtos. Segundo ela, ainda é preciso que pesquisas atestem com mais clareza a efetividade dos benefícios. “Apenas o empenho multiorgazacional (empresas, academia e governo) trará informações mais claras e esclarecedoras ao consumidor”.
No ano passado, a Anvisa suspendeu duas propagandas de iogurtes funcionais por veicularem os produtos como se fossem verdadeiros “remédios” para prisão de ventre e depressão. Por conta disso, a nutricionista clínica Denise Carreiro – autora de vários artigos sobre o assunto – é muito mais enfática ao classificar os industrializados funcionais. Segundo ela, no fim das contas, os prejuízos superam os benefícios. “Não existe alimento melhor do que o fornecido pela natureza. O apelo da indústria sobre a funcionalidade do produto pode dar a falsa sensação de que a pessoa está protegida mesmo sem comer legumes”, acredita. “É muito mais fácil convencer alguém a consumir refrigerante sem açúcar e com sais minerais, do que colocar vegetais na rotina”, adverte.
Vale lembrar que cebola, tomate, brócolis, feijão in natura já são funcionais e previnem contra doenças quando consumidos como parte de uma dieta balanceada.
Fonte IG
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