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quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Psicoanalista que escreveu sobre perversões sexuais morre aos 82, em NY

Louise J. Kaplan, psicoanalista e escritora que usava as lentes da psicologia, alusões literparias e uma sensibilidade feminista para definir e explicar com sobriedade tópicos aparentemente espinhosos, como fetiches e perversidades sexuais, morreu no dia 9, em Manhattan, Nova York. Ela tinha 82 anos.

A causa foi câncer no pâncreas, disse sua filha, Ann. E. Kaplan.

Madame Bovary
Seu livro "Female Perversions: The Temptations of Emma Bovary" ("Perversões femininas: as tentações de Ema Bovary"), de 1991, chamou muita atenção a sua tese de que as perversões das mulheres são mais sutis do que as dos homens.

Kaplan argumenta que, quando uma mulher se veste compulsivamente como um objeto sexual ou deseja obsessivamente itens de luxo, essas atividades são máscaras criadas inconscientemente para extravasar luxuria e agressividade sexual na forma de papéis femininos socialmente aceitáveis.

Kaplan usou a personagem Madame Bovary - descrita por Flaubert como uma dona de casa provinciana adúltera - para ilustrar como as mulheres são escravizadas por estereótipos.

Analisando Madame Bovary como se ela fosse uma paciente, Kaplan descobriu perversões autodestrutivas em atitudes como o desejo fetichista por objetos de luxo da alta classe, sapatos caros e bijuteria elegante, e o fato de se vestir em certas ocasiões como um homem e, em outras, de forma extravagantemente feminina.

Em artigo para o "New York Times Book Review", Michael Vincent Miller elogiou Kaplan por resistir à tendência de reduzir a literatura a sintomas, ressaltando que ela respeitava "tanto a textura do romance quanto a atitude complexa de Flaubert em relação a seu personagem."

Em 1996, Susan Streitfeld dirigiu um filme baseado no livro, "Perversões Femininas". A personagem principal, Eva, encarnada por Tilda Swinton, é uma advogada que passa por episódios tirados dos estudos de caso do livro de Kaplan.

Excertos do livro surgem no filme em locais surpreendentes. Bordada em uma fronha, está a frase: "Perversões raramente são o que parecem"; um grafite traz a mensagem: "Cenários de perversão são sobre carência desesperada".

A revista "Variety" chamou o filme de "uma meditação feminista hard-core" que era "de uma beleza chocante e de uma complexidade intrigante". Outros comentadores apontaram que as cenas de sexo não eram gratuitas.

Fetichismo
Em 2006, Kaplan retornou a suas reflexões psicossociais para escrever "Cultures of Fetishism" ("Culturas do fetichismo"). Como no livro anterior, a obra examina como as perversões tanto dos homens quanto das mulheres limitam sua vitalidade humana.

Sua definição abrangente de culturas fetichistas inclui o antigo costume chinês de amarrar os pés das mulheres ao advento dos "reality shows" na TV.

Outro dos sete livros de Kaplan, "Oneness and Separateness: From Infant to Individual" ("unidade e separação: de criança a indivíduo"), de 1978, investiga como bebês se tornam conscientes de que são seres separados, um momento que ela chama de "segundo nascimento".

Adolescência
Outro livro,"Adolescence: The Farewell to Childhood" ("adolescência: o adeus à infância"), de 1984, encara a puberdade como um esforço dos adolescentes na luta entre alcançar o poder adulto e a lamentação inconsciente por terem de se separar dos pais.

Seu livro de 1987, "The Family Romance of the Impostor-Poet Thomas Chatterton" ("O romance familiar do poeta-impostor Thomas Cahtterton") conta a história de um jovem do século 18 que escrevia versos sob o nome de um padre medieval fictício, cujas obras o jovem dizia ter encontrado no sótão de uma igreja. Chatterton se suicida aos 17 anos e, depois que sua farsa se torna conhecida, poetas românticos como Wordsworth e Keats passam a elogiar seu talento.

Kaplan faz uma análise psicológica do jovem, com a teoria de que a morte do pai antes de o menino nascer levou Chatterton a buscar uma figura paterna, que ele encontra em seu poeta inventado.

Trabalho e família
Louise Janet Miller, nascida no Brooklyn, Nova York, em 18 de novembro de 1929, graduou-se no Brooklyn College e recebeu seu doutorado na Universidade de Nova York.

Ela atendia pacientes como psicoanalista e teve cargos como o de diretora da unidade de pesquisa sobre mães e crianças da Universidade de Nova York, em meados dos anos 1970.

Ela era uma das discípulas prediletas de Margaret Mahler, psicoanalista conhecida por suas pesquisas sobre desenvolvimento infantil, as quais Kaplan deu continuidade na Fundação de Pesquisa Margaret Mahler.

O marido de Kaplan, Donald, com quem ela editou a revista psicanalítica "American Imago", morreu em 1994.

Além da filha Ann, Kaplan deixa um filho, David, e duas netas.

Alguns insights de Kaplan são tão peculiares quanto perspicazes. Ela observou em seu livro sobre adolescência que o parente geneticamente mais próximo ao homem, o chimpanzé, perde a curiosidade aos cinco ou seis anos, mas os seres humanos continuam explorando, investigando e inventando até a chegada da senilidade. "Seres humanos de todas as eras, em todas as sociedades e de todas as idades são mais parecidos como os bebês chimpanzés", ela escreveu.

Fonte Folhaonline

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