Médicos de lá temem que necessidade de tomar três comprimidos por dia, em vez de um, aumentaria o risco de que alguns pacientes percam doses
Um estudo americano está causando polêmica ao defender que o uso disseminado de medicamentos genéricos anti-HIV nos EUA pode fazer com que mais pacientes tenham problemas no tratamento.
No artigo, publicado no Annals of Internal Medicine, médicos do Hospital Geral de Massachusetts calculam que os medicamentos genéricos, que logo estarão à disposição da maior parte dos pacientes no mercado americano, podem representar uma economia de quase US$ 42.500 por paciente, mas também tendem a ser menos eficazes.
Um dos maiores problemas seria que o tratamento com genéricos nos EUA exige que sejam tomados três comprimidos por dia, em vez de apenas um, o que aumentaria o risco de que alguns pacientes percam doses. Segundo os médicos americanos, isso faria com que cada paciente tratado com genérico tenha em média 4,4 meses de vida a menos que os tratados com medicamentos tradicionais.
Polêmica
Para a organização Aidsmap, responsável por divulgar informações sobre HIV, porém, o modelo que serviu de base para a pesquisa é pouco confiável. Um porta-voz da organização também levantou a preocupação de que ela cause alarde entre pacientes sobre os genéricos, cujo uso continua sendo apoiado pela Aidsmap.
Especialistas concordam que os antiretrovirais genéricos deram uma grande contribuição para a contenção do HIV no mundo – particularmente nos países em desenvolvimento.
"O estudo não leva em conta o fato de que são as patentes dos medicamentos que impedem que pacientes tenham acesso a tratamentos mais simples e mais baratos (com genéricos)", disse Sharonann Lynch, assessora de políticas sobre HIV/AIDS do grupo Médicos Sem Fronteira.
"Versões genéricas da combinação (das três substâncias do tratamento anti-HIV) já existem em países em que patentes não bloqueiam seu uso por US$200 por ano – menos de 1% do seu custo nos EUA."
A assessoria de comunicações do Ministério da Saúde brasileiro também ressalta que a pesquisa foi feita com genéricos disponíveis nos EUA e seus resultados são restritos ao país – só podendo ser avaliados por quem tenha um entendimento amplo sobre os produtos e o funcionamento do mercado americano.
Segundo o ministério, no caso do Brasil, já há genéricos que combinam três medicamentos em uma única pílula e eles só entram no mercado após passarem pelo teste de bioequivalência da ANVISA, que comprova que têm a mesma eficácia.
Genéricos Medicamentos genéricos são cópias mais baratas de remédios de grandes farmacêuticas. Eles geralmente atuam da mesma maneira que os remédios de marcas tradicionais e contêm os mesmos princípios ativos. Hoje, o tratamento recomendado para pacientes recém-diagnosticados com HIV nos EUA é uma pílula que combina três antiretrovirais – tenofovir, emtricitabina e efavirenz.
O genérico de um medicamento que atua de forma semelhante a emtricitabina chegou ao mercado americano em janeiro de 2012 e um genérico do efavirenz é esperado para breve. Logo, os pacientes americanos poderão fazer um tratamento que combina essas duas drogas com o tenofovir.
"Esta é uma troca que muitos de nós achará difícil ou até impossível recomendar por questões emocionais e éticas", diz Rochelle Walensky, pesquisadora-chefe do estudo.
Rochelle admite, porém, que para os pacientes propensos a seguir à risca o tratamento com os três medicamentos, a opção entre o genérico e o medicamento de marca seria mais complexa – já que a eficácia do tratamento pode ser a mesma.
Dilema
Segundo Rochelle, a troca poderia ser mais aceitável se a economia feita pelo com genéricos fosse redirecionada para outros aspectos do tratamento, como o combate a hepatite C em pacientes que também contraíram a doença.
Apesar das reações negativas de muitos médicos, para Jason Warrier, da ONG britânica Terrence Higgins Trust, que apoia pessoas que contraíram HIV, a pesquisa é oportuna. Ele diz que cerca de 7,000 pessoas são diagnosticadas anualmente com HIV no Reino Unido e o custo de medicamentos está aumentando ano a ano.
"Com o sistema de saúde britânico sob uma pressão financeira sem precedentes, a propagação dessa epidemia é um desafio não apenas de saúde pública, mas para os recursos públicos", diz Warrier.
"Usar medicamentos genéricos seria um caminho para o serviço de saúde reduzir suas despesas, mas isso não deve ser feito às custas da saúde do paciente. Tudo o que compromete a eficácia dos medicamentos anti-HIV, ou torna as pessoas menos propensas a manter seus tratamentos, representa uma economia que não vale a pena."
Fonte iG
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