Cesariana se mostrou associada a todas as cinco medidas de adiposidade aumentada utilizadas na pesquisa |
Estudo da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP comprova que o parto cesariano é um fator de risco para a obesidade em adultos jovens, se comparado com os nascidos de parto normal. Segundo a pesquisadora Denise Nascimento Mesquita, uma das explicações para essa conclusão é que as mudanças na microbiota intestinal induzidas pela cesariana é que aumentam esse risco.
– Fatores ambientais, genéticos, fisiológicos e comportamentais sempre foram considerados riscos para a obesidade em adultos jovens. O que conseguimos identificar pela primeira vez é que a cesariana também pode contribuir para a obesidade abdominal e subcutânea na idade adulta, e não somente para a obesidade total medida pelo índice de massa corporal, como já fora demonstrado em outro estudo com essas mesmas pessoas.
Além do tipo de parto, a pesquisa avaliou se outros fatores, como as condições da mãe, da gestação e do recém-nascido influenciaram na obesidade abdominal e subcutânea na vida adulta dessas crianças. Avaliou, ainda, se os hábitos de vida e fatores socioeconômicos do adulto jovem eram fatores de risco para esse tipo de obesidade.
Como indicadores de obesidade abdominal, utilizam a circunferência da cintura (CC), a razão cintura-altura (RCA) e a razão cintura-quadril (RCQ); e como indicadores de obesidade subcutânea a prega cutânea tricipital (PCT) e a prega cutânea subescapular (PCS).
A pesquisadora explica que utilizou esses indicadores porque o objetivo era investigar a associação da adiposidade (tecido de gordura) com o parto cesáreo, uma vez que a associação com o Índice de Massa Corporal (IMC) já era descrita pela literatura. A análise da relação do parto com esses indicadores (de obesidade abdominal e subcutânea) foi realizada por meio de regressão de Poisson, modelo estatístico que estima o risco de um fator estar associado ao risco estudado.
Cesariana e gordura corporal
O estudo foi realizado com 2.063 jovens entre 23 e 25 anos, nascidos entre 1978 e 1979 (veja a seguir). Eles foram divididos em dois grupos. Num, foram avaliadas as variáveis do nascimento (sexo, peso do recém-nascido, tabagismo materno durante a gestação, escolaridade materna no momento do parto, idade gestacional e paridade). Já no segundo, além das variáveis do nascimento, também foram levadas em conta as variáveis do agora adulto (escolaridade, renda familiar atual, tabagismo, prática de atividade física, consumo de calorias na dieta, porcentagem de gordura na dieta, idade e cor da pele).
Os resultados mostraram que 32% das pessoas avaliadas nasceram de cesariana. Embora outros fatores avaliados no estudo, tanto na época do nascimento como na idade adulta, tenham se mostrado associados com a adiposidade aumentada, como por exemplo, sexo feminino (associado à PCT e PCS aumentados), peso ao nascer igual ou maior que 4 quilos (associado somente a CC aumentada); paridade materna igual ou maior que 5 partos (associado a RCQ aumentada) e maior idade do adulto jovem (associada a CC aumentada), o parto cesariano se mostrou associado a todas as cinco medidas de adiposidade aumentada.
A pesquisa confirma que o aumento de gordura corporal é multifatorial. Porém acrescenta mais um fator para esse aumento, a cesariana.
– Até o momento, este é o primeiro trabalho que associa o parto cesariano com outros indicadores de obesidade no adulto jovem, que não o índice de massa corporal – afirma Denise.
A pesquisadora alerta para o fato de que ambos, cesariana e obesidade, têm aumentado mundialmente, sendo alvos de investigações a respeito de suas causas e consequências. Assim, como a cesariana contribui para a ocorrência da obesidade, também a obesidade em mulheres gestantes contribui para a realização do parto por meio da operação cesariana. — Ambos são considerados problemas de saúde pública, necessitando de atenção para estratégias voltadas para diminuição destes e de ações que visam controlar o aumento desenfreado tanto de um como do outro.
A pesquisa Parto cesáreo e outros fatores de risco para adiposidade aumentada no adulto jovem foi defendida em janeiro de 2013, no programa de pós-graduação em Saúde da Criança e do Adolescente, sob orientação do professor Marco Antonio Barbieri, do Departamento de Puericultura e Pediatria da FMRP.
Entre 1978 e 1979, equipe coordenada pelo professor Marco Antonio Barbieri, do Departamento de Puericultura e Pediatria da FMRP, foi responsável pelo primeiro estudo epidemiológico mais abrangente feito no País. Cadastraram 6.750 crianças nascidas vivas em Ribeirão Preto, acompanhando seus desenvolvimentos, possibilitando comparações e informações em diferentes etapas de suas vidas até a maioridade. Em 1994, realizaram novo estudo. Desta vez, com uma amostra de 2.846 pessoas, também nascidas em Ribeirão Preto. Em 2010, reiniciaram a pesquisa, acompanhando não uma amostra, mas todos os nascidos em Ribeirão Preto (cujas mães moram na cidade).
Fonte Zero Hora
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