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quinta-feira, 18 de julho de 2013

Tecnologia de US$ 100 pode auxiliar especialistas no tratamento de dislexia

Tecnologia de US$ 100 pode auxiliar especialistas no tratamento de dislexia Fabrizio Motta/Agencia RBS
Foto: Fabrizio Motta / Agencia RBS
Dislexia é dificuldade de aprendizado que atinge até
17% da população mundial
Pacientes têm escrita mapeada ao mesmo tempo em que passam por ressonância magnética
 
Uma caneta esferográfica vazia, dois fios de fibra óptica, um papel impresso com cores em degradê e um pequeno suporte de madeira. Com esses componentes, uma equipe da Universidade de Washington (UW) criou um dispositivo que permite gravar a escrita dos pacientes durante exames de ressonância magnética. A ideia é simples, mas deve ajudar a compreender melhor desordens como a dislexia e a disgrafia.
 
Desenvolvida desde 1995 pela equipe de Todd Richards, professor de radiologia da instituição, a tecnologia foi apresentada na reunião anual da Organização para Mapeamento do Cérebro Humano (OHBM) no mês passado nos Estados Unidos.
 
– Os cientistas precisavam de uma ferramenta que permitisse ver em tempo real o que uma pessoa está escrevendo enquanto tem o cérebro escaneado – diz Thomas Lewis, diretor do Laboratório de Desenvolvimento de Instrumentos do Centro para Desenvolvimento Humano e Deficiência da UW.
Além de inovador, o sistema é extremamente barato: custa cerca de US$ 100.
 
– Ele faz o mesmo que dispositivos 10 vezes mais caros – comemora Frederick Reitz, engenheiro responsável pelo desenvolvimento eletrônico do sistema.
 
Ele acrescenta que os outros aparelhos não gravam as ações em sincronia com os estímulos, nem medem o tempo de resposta durante os testes.
 
A ferramenta pode ser utilizada para analisar o funcionamento cerebral de pacientes com dislexia e disgrafia, subsidiando tratamentos mais eficazes para esses problemas.
 
– É possível observar quais áreas cerebrais são acionadas no momento da escrita e da leitura e identificar padrões neurais. (A tecnologia) pode ajudar os profissionais a oferecerem um treino cognitivo específico para cada criança – avalia a psicóloga especializada em neurociência e cognição da Universidade Federal do ABC (UFABC) Rosimeire Oliveira.
 
Além do estudo das desordens de aprendizagem, a caneta de fibra óptica e o quadro podem ser usados para comparar os padrões da atividade cerebral durante a escrita em indivíduos saudáveis e pacientes com doenças neurológicas, como a esclerose múltipla e a doença de Parkinson.
 
Funcionamento
Para utilizar o sistema, os especialistas levam o paciente a uma máquina de ressonância magnética. Deitada, a pessoa segura uma caneta esferográfica comum que teve a carga removida e substituída por dois fios de fibra óptica, com 2mm de espessura e 10m de comprimento cada. Ela, então, deve simular a escrita em um papel impresso em degradê de cores, que fica apoiado no suporte.
 
O segredo está nos fios. Um deles possui uma luz de LED, que ilumina o papel colorido, e o outro tem um sensor de cor. Um programa de computador consegue ler as informações obtidas pelo sensor e identificar os comportamentos da escrita durante os testes.
 
O software registra o tempo que o paciente leva para escrever as letras e os momentos em que a caneta sai do papel. Todas as informações podem ser gravadas em tempo real e arquivadas.
 
A equipe da UW realizou testes com crianças de 11 a 14 anos, sendo que algumas delas tinham sido diagnosticadas com dislexia e disgrafia. As crianças olhavam para instruções que apareciam em uma tela posicionada em frente aos olhos e usavam a caneta de fibra óptica para escrever. Cada uma passou por tarefas de leitura e escrita que duravam 4 minutos. Os voluntários precisavam pensar em escrever uma redação e completar palavras.
 
– Imaginar a produção de um texto já provoca muitas respostas cerebrais similares às da escrita em si. Se você se imagina escrevendo uma letra, tem uma parte do cérebro que se ilumina como se você estivesse realmente escrevendo – explica Richards.
 
Os resultados da pesquisa realizada ainda estão sendo avaliados, mas o pesquisador ressalta algumas conclusões preliminares:
 
– Existem certos centros e caminhos neurais que nós não esperávamos ver ativados. Nós conhecemos bem as áreas neurais relacionadas à linguagem, mas como elas se conectam com os movimentos da mão é uma questão que ainda precisa ser entendida.
 
Cuidados a serem tomados
Para a psicóloga especializada em distúrbios de aprendizagem e de comportamento Sabrina Gasparetti, a pesquisa neurológica é importante para entender a dislexia e a disgrafia, mas ela destaca que não se pode esquecer o contexto cultural e pedagógico da aquisição da linguagem e da aprendizagem da escrita.

– É preciso analisar a linguagem em seu contexto dialógico. Não como uma questão de codificação e decodificação de sinais, pois ela envolve mais do que isso – afirma.
 
A caracterização da dislexia e da disgrafia como doenças neurológicas é questionada, e grande parte dos psicólogos as entende como dificuldades de aprendizagem. Para Sabrina Gasparetti, é preciso lidar com os diferentes modos de aprender sem classificá-los como uma doença.
 
– A gente tem que sair do âmbito eminentemente médico e neurológico, pois a dislexia é uma questão pedagógica. O mais importante é entender a história do processo de cognição da criança – aconselha a especialista.

A dislexia
A dislexia é uma dificuldade de aprendizado que afeta de 0,5% a 17% das pessoas no mundo de acordo com dados da Associação Brasileira de Dislexia (ABD). Ela pode se manifestar em pessoas com inteligência normal ou mesmo superior à média e persistir na vida adulta. Já a disgrafia é caracterizada por uma falta de habilidade ou um atraso no desenvolvimento da linguagem escrita, percebida por meio do excesso de erros ortográficos, inversões de letras, sílabas e números e pela falta ou troca de letras.
 
Fonte Correio Braziliense

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