Theo Marques/Folhapress Cláudio Ushiwata, dono de um café em Curitiba, é um consumidor de carne orgânica |
No entanto, tem ganhado força o movimento dos "carnívoros éticos": gente que
não pensa em ser vegetariana, mas faz questão de uma postura mais sustentável e
de respeito ao animal.
Segundo Leonardo Leite de Barros, presidente da ABPO (Associação Brasileira
da Pecuária Orgânica), a quantidade de animais criados segundo os preceitos
orgânicos (sem confinamento, com uso restrito de remédios, alimentação no pasto
e abate humanizado) tem crescido.
"Hoje as fazendas da associação estão abatendo de 800 a mil animais por mês.
Quando começamos, em 2007, eram cerca de 200", diz ele.
O empresário curitibano Cláudio Ushiwata é um desses consumidores mais
atentos e só leva para casa carnes cuja procedência e produção ele considere
adequadas.
"Na minha casa temos o hábito de consumir carne orgânica. Não tenho
dificuldade de encontrar, mas ela é restrita a poucos estabelecimentos e a
poucos cortes."
O engajamento do consumidor tem potencial de transformar a indústria, diz
Luís Fernando Guedes Pinto, gerente de certificação agrícola do Imaflora
(Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola).
"O consumidor não deve aceitar animais vivendo em condições ruins ou rebanhos
vindos de áreas de desmatamento na Amazônia."
Nos últimos anos, as agências reguladoras também estão mais exigentes. A
Europa passa, neste ano, a ter regras mais duras quanto às condições de criação,
transporte e abate de animais. Quem quiser vender para o bloco --incluindo
frigoríficos brasileiros-- precisa se adequar.
"Ser vegetariano não é a única opção para quem quer um tratamento ético dos
animais", diz José Rodolfo Panim Ciocca, gerente do programa de abate
humanitário da WSPA (Sociedade Mundial de Proteção Animal).
William Mur/Ed. de arte/Folhapress |
O abate humanitário faz o animal perder a consciência antes que o estímulo da
dor chegue ao cérebro.
Nos bovinos, isso é feito com uma pistola especial. Em suínos e em aves, a
insensibilização deve ser feita com uma descarga elétrica.
O presidente da Abrafrigo (Associação Brasileira de Frigoríficos), Péricles
Salazar, afirma que há realidades distintas quanto a isso no Brasil. "Os
frigoríficos sujeitos à inspeção federal têm controles rígidos. O problema está
na esfera dos Estados e municípios. É lá que se encontram barbaridades como o
abate de bois a marretadas."
A crueldade tem consequências na qualidade do produto. Muita tensão antes do
abate deixa a carne pálida e mole, com liberação excessiva de água. Já nos
bichos com estresse crônico, a carne costuma ser mais dura, escura e ressecada.
Quando eles são conduzidos com violência, usando bastões elétricos ou
apanhando, são formados hematomas que devem ser descartados.
Em breve, o Ministério da Agricultura deve lançar novas normas mais rígidas
para a criação e o abate. A consulta pública sobre o tema acaba de terminar e o
texto sofre agora ajustes finais.
Fonte Folhaonline
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