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domingo, 22 de dezembro de 2013

Por que faz bem fazer o bem?

Por que faz bem fazer o bem? Diego Vara/Agencia RBS
Foto: Diego Vara / Agencia RBS
Sentimento de felicidade ao fazer o bem ao próximo tem fundamento biológico
 
Frequentemente, os silenciosos corredores do Asilo Padre Cacique, que abriga mais de 150 idosos da Capital (RS), são inundados pelos melodiosos acordes do saxofone de Fernando Prati. É por volta das 15h, quando o lanche da tarde é servido, que o fisioterapeuta de 57 anos aparece para encher os ouvidos dos moradores de ritmos e recordações. Ao som de clássicos de MPB, jazz e "o que mais eles gostarem", Fernando promove momentos de descontração, alegria e emoção.
 
Foi há cerca de cinco anos que o fisioterapeuta descobriu o prazer de promover a felicidade dos demais. Ele, assim como milhares de pessoas ao redor do mundo, passou a dedicar parte do seu tempo, energia e dinheiro para fazer o bem. E se sente muito bem com isso.
 
Altruístas, generosos, solidários. Ainda que os termos tenham algumas diferenças em sua definição, todos se referem a pessoas que fazem o bem ao próximo sem esperar nada em troca - e mesmo que isso tenha algum custo. As boas ações são uma esperança para a humanidade, mas seguem um mistério para a ciência. O que motiva esse tipo de comportamento, pouco comum em outras espécies, vem sendo estudado há anos por diferentes áreas do conhecimento. E tem gerado teorias controversas.
 
O que os estudiosos já conseguiram comprovar é que a felicidade sentida por Fernando cada vez que visita o asilo tem um fundamento biológico. Ao proporcionar momentos bons para os idosos, uma região específica do cérebro do fisioterapeuta é ativada, liberando substâncias que dão a sensação de prazer e alegria. É o sistema cerebral de recompensa, uma região bem primitiva, que faz com que tudo aquilo que é fundamental para a sobrevivência, como a alimentação e o sexo, sejam prazerosos. Por que ele entra em ação quando o fisioterapeuta percebe o sorriso de quem o escuta ainda não tem explicação para a ciência.
 
Para Fernando, nem precisa:
 
- Tocar para este pessoal me completa, e isso me basta. Eu me conecto com eles pela música. É muito gratificante ver que as minhas melodias estão fazendo bem para esse pessoal.
 
A recompensa é tamanha que o fisioterapeuta, além de abrir mão de horas de trabalho no seu consultório particular para tocar, resolveu gastar ainda mais tempo e dinheiro com aulas de saxofone. Quanto mais se aprimora no instrumento, mais diversão proporciona aos idosos.
 
- É uma das poucas coisas boas que nos resta. É tanta diversão que, às vezes, até esqueço de tomar o café - conta o morador do asilo Hélio Torrano, 72 anos, que se anima ao solicitar alguns minutos da atenção do saxofonista para relembrar canções.
 
Pedido este que é recebido com uma felicidade quase indescritível, comenta o fisioterapeuta. Hélio não sabe, mas são situações como essa que motivam Fernando a interromper suas horas de trabalho para ir até o asilo. Há meia década dedicando algumas horas da semana para fazer a alegria dos idosos, ele garante: o dinheiro que deixa de ganhar com as consultas é duplamente recompensado pelos sorrisos acumulados no bolso.
 
Bombou nas redes
Poucas semanas antes do Natal, a pequena Yasmin, dois anos, alegrava-se ao receber o primeiro presente enviado pelo Papai Noel. Mas era o estudante Adriano Lima, 26, quem estampava o maior sorriso no rosto. Enquanto entregava a boneca cuidadosamente embalada para a menina do Lar São José, que abriga mais de 150 crianças e adolescentes na região central de Porto Alegre, Adriano não conseguia esconder a emoção:
 
- É inexplicável, é uma sensação de muita satisfação. Isso mostra que não precisa muito para proporcionar um momento tão legal. Basta ter uma boa iniciativa e disposição.
 
Foi durante uma tarde abafada de dezembro que Adriano e outros dois colegas visitaram a instituição com um único objetivo: doar o seu tempo e energia para os pequenos. A ação, que iniciou a partir de uma proposta da faculdade, acabou tomando rumos muito maiores que os previstos.
 
- Era um projeto só para dentro da instituição que estudamos, mas tive a ideia de divulgar entre amigos e anunciar nas redes sociais. Em duas semanas, conseguimos arrecadar mais de R$ 3 mil. Foram mais de cem pessoas envolvidas, querendo apadrinhar as crianças - comemorou o jovem.
 
Esta foi a primeira vez que o estudante coordenou uma ação com o intuito de ajudar ao próximo. Depois de passar a tarde ensinando aos pequenos a arte da capoeira, preparando um almoço coletivo e distribuindo presentes, ele garante:
 
-Quero repetir sempre. Para o ano que vem, já estamos com um projeto pronto.
 
Está nos genes?
Atos de altruísmo e bondade são instintivos ou aprendidos socialmente? São exclusivos dos seres humanos ou outros animais também o praticam? Essas e outras perguntas vêm instigando pesquisadores ao redor do mundo. Em uma sociedade cada vez mais individualista, a justificativa para aqueles que dedicam seu tempo e dinheiro aos demais ainda gera controvérsias entre pesquisadores. Enquanto boas ações dirigidas ao próximo são explicadas pela teoria da evolução - ajudamos aqueles que carregam os mesmos genes que portamos, com o intuito de propagá-los para as próximas gerações - a energia despendida para ajudar desconhecidos segue deixando os estudiosos sem respostas concretas. 
 
- O altruísmo divide opiniões sobre sua natureza. Para alguns, o ser humano é, em sua essência, autocentrado, narcisista, sendo o altruísmo apenas uma defesa para possibilitar a convivência social. Para outra corrente, é uma manifestação de interesse e conexão com o outro, algo elementar para a formação de vínculos - argumenta o psiquiatra Thiago Rocha, do Hospital de Clínicas de Porto Alegre.
 
Uma das descobertas mais recentes sobre o assunto reforça a tese de que a generosidade está nos nossos genes - ou seja, já nascemos condicionados a fazer o bem. Estudos mostraram que crianças com menos de um ano já têm a capacidade de ajudar outras crianças, mesmo sem recompensa diretamente envolvida na ação. Conforme a psicóloga Maria Emília Yamamoto, professora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, esse comportamento reforça a hipótese de que o altruísmo é uma característica inata, mas que pode ser influenciada pelo meio em que vivemos:
 
- Há uma propensão biológica à cooperação, mas que é modulada pela cultura. Quando, de que forma, quem e em que circunstâncias cooperar são questões que aprendemos ao longo do nosso desenvolvimento, conforme o local em que vivemos.
 
Mensagens de esperança
O Natal chegou mais cedo também para as crianças do Instituto do Câncer Infantil do Hospital de Clínicas de Porto Alegre. E veio de helicóptero. É na festa anual promovida pela instituição, da qual participam pacientes e ex-pacientes, que o técnico judiciário Germano Hofler, 36 anos, tem a chance de colocar a roupa do personagem, voar e arrancar sorrisos e emoções dos pequenos. Há nove anos envolvido em trabalhos voluntários para o instituto, Germano, que é ex-paciente, encontrou na sua história uma forma de ajudar as crianças que sofrem o que ele um dia enfrentou. Diagnosticado com um tipo raro de câncer aos 17 anos, teve de passar por um agressivo tratamento que lhe custou a perna direita.
 
A experiência que passou não o fez perder a motivação de viver. Pelo contrário. Hoje, divide seu tempo entre o trabalho, a família e as visitas ao instituto:
 
- Depois de alguns convites, resolvi voltar ao hospital onde fiz meu tratamento. Lá, conheci um menino que tinha perdido a perna pelo mesmo tipo de câncer que eu. Quando vi o brilho no olho dele ao me ver bem, caminhando com uma perna mecânica, me senti muito feliz. Foi tão bom para ele quanto para mim.
 
Além das visitas que faz frequentemente ao local para conversar com os pacientes, dividir histórias e incentivá-los a ter força para combater a doença, há cinco anos o ex-paciente pede um dia de folga do trabalho para se transformar no Papai Noel da criançada. Vestido a rigor, chega de helicóptero à festa do instituto levando não só presentes, mas principalmente mensagens de esperança.
 
10 dicas para fazer o bem:
 
1) Escolha um tipo de atividade que seja do seu interesse, como esporte, arte ou culinária. Dessa
forma, você terá o prazer duplicado: de fazer o que gosta e de fazer o bem
 
2) Pesquise sobre o público que quer ajudar. Isso facilitará sua comunicação com as pessoas e proporcionará uma maior interação
 
3) Na hora de escolher uma instituição para ajudar, dê preferencia às que ficam mais perto de sua casa. Dessa forma, você poderá visitar com frequência o local
 
4) A internet é uma ótima ferramenta para ajudar o próximo. Você pode encontrar formas de doar, instituições pobres e entidades que fazem serviços voluntários
 
5) Não esqueça que qualquer tipo de ajuda é bem-vinda. Você não precisa dedicar 24h do dia para ações de caridade. Tente encaixar as atividades conforme a sua rotina
 
6) É sempre bom estar aberto para desempenhar tarefas que você nunca realizou
 
7) Se você não tem ideia da instituição com a qual quer colaborar, procure um centro de voluntariado na sua cidade. Eles poderão lhe ajudar com a escolha do local
 
8) Para quem está com tempo escasso mas não quer deixar de fazer o bem ao próximo, uma opção é doar sangue. Sempre tem alguém precisando
 
9) Não se sinta pressionado a trabalhar demais, mas se comprometa com as atividades que promete fazer
 
10) Uma dica simples e que pode ser feita sempre: na próxima vez que for às compras, compre um saco extra de arroz, enlatados ou leite, e deixe em uma instituição que fique no seu caminho de casa
 
Zero Hora

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