Foto: Carlos Moraes / Agência O Dia A Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Penha sofre com a sobrecarga de pacientes, que buscam alternativa aos hospitais públicos |
Rio - Idealizadas para fazer atendimentos de urgência e emergência e providenciar rapidamente transferências de pacientes em casos graves, as UPAs do estado e do município se transformaram em unidades de internação devido à falta de vagas em hospitais públicos.
Médicos não conseguem leitos disponíveis para a remoção dos pacientes e são obrigados a mantê-los nas UPAs, quando o caso envolve risco de vida.
Pacientes com doenças graves, mas que não estejam com a vida em jogo no momento, acabam recebendo alta com a orientação de procurarem vaga hospitalar por seus próprios meios. Em meio à esta situação, a Secretaria Municipal de Saúde alega que abriu 233 leitos de UTI nos últimos anos e que a sobrecarga na sua rede se deve à greve nos hospitais federais, que dura mais de um mês. Já a Secretaria Estadual informou que está reforçando a estrutura para receber mais pacientes com quadros graves.
O DIA visitou quatro UPAs na terça-feira — três estaduais e uma municipal. Em todas elas havia pessoas internadas nas salas vermelha (estado grave) e amarela (média e baixa complexidade).
“Minha mãe está morrendo aos poucos nessa UPA. O médico me deu um laudo e mandou que eu procurasse o Ministério Público para conseguir a transferência dela para um hospital”, contou Jorgete Guimarães Oliveira, filha de Maria Helena dos Reis Guimarães, de 68 anos, que chegou na UPA de Rocha Miranda (municipal) em 7 de março.
Maria Helena tem sérios problemas respiratórios, está entubada e sem se alimentar há pelo menos dez dias, porque a UPA não dispõe de suporte alimentar por sonda. Avisada do caso às 17h29 de terça-feira, 24 horas mais tarde a Secretaria Municipal de Saúde ainda não tinha providenciado a transferência.
André Luís Ramos só conseguiu levar a mãe para o Hospital da Piedade porque entrou com ação na Justiça e obteve liminar determinando transferência imediata. Cardíaca, Maria Benvinda Ramos, 48 anos, chegou na UPA do Alemão (municipal) em 2 de março. A transferência foi feita três dias depois.
Pacientes com doenças graves, que deveriam ser internados para exames e tratamento, também penam em busca de socorro. Um deles é Rivaldo Ferreira Torres, 70 anos, que chegou à UPA da Penha (estadual) dia 10, sentindo dores na barriga. Uma tomografia constatou que ele tem um tumor na região abdominal.
O paciente ficou seis dias internado até que estivesse estabilizado, e teve alta terça-feira. “Mandaram que eu arranjasse consulta ambulatorial para ele no Hospital do Câncer”, dizia o filho Jorge Luiz Torres. Na contramão dessa realidade está o porteiro Cleverson dos Santos, 45 anos. Com crises convulsivas, foi levado ao Hospital Getúlio Vargas na terça-feira. Não houve atendimento. Mandaram-no procurar uma UPA.
Greve na rede federal é complicador
Às 17h29 de terça-feira o caso de Maria Helena dos Reis Guimarães, que está internada na UPA de Rocha Miranda desde o dia 7 foi passado para a Secretaria Municipal de Saúde. Porém, mais de 24 horas depois, ela continuava na UPA, em estado gravíssimo, sem que o sistema de saúde do Rio providenciasse sua transferência.
Às 17h29 de terça-feira o caso de Maria Helena dos Reis Guimarães, que está internada na UPA de Rocha Miranda desde o dia 7 foi passado para a Secretaria Municipal de Saúde. Porém, mais de 24 horas depois, ela continuava na UPA, em estado gravíssimo, sem que o sistema de saúde do Rio providenciasse sua transferência.
A Secretaria Municipal de Saúde deu explicações sobre a escassez de leitos de emergência em seus hospitais. “Até 2013 foram abertos mais de 120 leitos de UTI para adultos, de um total de 233 novos leitos de terapia intensiva”, diz em nota, atribuindo o problema à greve em hospitais federais, que já dura 35 dias.
Segundo a SMS, sem possibilidade de encaminhamento de pacientes para esses serviços de referência, as transferências são dificultadas. O caso de Maria Helena não foi mencionado na nota . A Secretaria Estadual de Saúde, por sua vez, afirma que está comprando leitos de UTI e leitos clínicos de retaguarda, para reforçar seu atendimento.
Proposta foi desvirtuada, diz Cremerj
Na avaliação do vice-presidente do Conselho Regional de Medicina do Rio de janeiro (Cremerj), Nilson Nahon, a proposta original das UPAs acabou sendo desvirtuada. “A atenção básica não funciona. Os postos de saúde não dão vazão ao atendimento, e os doentes vão parar nas UPAs, que na verdade foram criadas para casos de urgência e emergência”, diz Nahon.
Segundo ele, as UPAs não têm “porta de saída”: os pacientes entram, mas como não há vagas nos hospitais públicos, principalmente em UTI e CTI, acabam permanecendo em regime de internação. Nahon diz que a proposta inicial era o paciente ficar até 48 horas na UPA, aguardando alta ou remoção: “Já fiscalizamos a maioria das unidades no Rio de Janeiro e em todas havia pessoas internadas há dias, até semanas.”
Nahon contou que a prefeitura inaugurou o Hospital Evandro Freire, na Ilha do Governador, onde 26 leitos de CTI e mais 20 de enfermaria estão sem uso. “Os leitos não podem ser disponibilizados porque as equipes médicas não foram contratadas até agora”, denuncia o vice-presidente do Cremerj.
Uma conta que não fecha
A curto e médio prazos, parece não haver perspectiva para as secretarias municipal e estadual de Saúde equacionarem o problema crônico da falta de vagas em hospitais públicos.
A curto e médio prazos, parece não haver perspectiva para as secretarias municipal e estadual de Saúde equacionarem o problema crônico da falta de vagas em hospitais públicos.
Ambas admitem que a demanda é maior que a oferta, mas não acenam com estratégias suficientes para zerar a conta paciente-leito, que nunca fecha. As redes de saúde estadual e municipal alegam que os pacientes acabam ficando internados na Unidades de Pronto Atendimento porque não há leitos em hospitais públicos.
No entanto, assim que a famílias conseguem obter uma liminar na Justiça obrigando a transferência de algum paciente, o leito acaba aparecendo. “Vive-se uma crise na área de saúde no Rio de Janeiro”, denuncia Nilson Nahon, do Cremerj. Um exemplo disso é a UPA da Penha, onde, na terça-feira, a média de tempo de espera para atendimento era de quatro a seis horas.
O Dia
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