Por Dra. Rosane Bergwerk
Reação adversa a
medicamento segundo a ANVISA é qualquer efeito nocivo, não intencional e
indesejado de uma droga, observado nas doses terapêuticas habituais em
seres humanos para fins terapêuticos, profiláticos ou diagnósticos.
As reações adversas a drogas dividem-se em dois tipos.
Reações previsíveis
Podem ocorrer em qualquer indivíduo e são relacionadas à ação farmacológica da droga, geralmente dose-dependente. Representam aproximadamente 75% das reações adversas a drogas. Há quatro variedades deste tipo de reação:
Podem ocorrer em qualquer indivíduo e são relacionadas à ação farmacológica da droga, geralmente dose-dependente. Representam aproximadamente 75% das reações adversas a drogas. Há quatro variedades deste tipo de reação:
1) Toxicidade: os
efeitos são relacionadas com a quantidade da droga no organismo,
acontecem quando o limite for ultrapassado. Como exemplo, temos a
depressão do distema nervoso central com barbitúricos, lesão hepática
pelo uso de paracetamol.
2) Efeito
secundário ou indireto: é um efeito relacionado de forma indireta à ação
farmacológica da droga. Por exemplo, a administração de um antibiótico
estimula a produção de uma toxina que provoca colite membranosa.
3) Efeito Colateral: efeito indesejável mesmo com doses usualmente empregadas. Como sentir sonolência com anti-histamínicos.
4) Interação de
drogas: medicamentos administrados simultaneamente podem interagir
aumentando ou diminuindo uma resposta esperada ou determinando uma
resposta inesperada. Como a fenitoína pode aumentar no soro se
administrada junto com fluoxetina ou sulfonamida.
Reações não previsíveis
Ocorrem em pacientes suscetíveis (devido a características próprias dele) não relacionadas com ação farmacológica da droga, mas com a resposta individual, deficiências genéticas ou com uma resposta imunológica, em geral dose independentes. Também existem quatro variedades deste tipo de reação:
Ocorrem em pacientes suscetíveis (devido a características próprias dele) não relacionadas com ação farmacológica da droga, mas com a resposta individual, deficiências genéticas ou com uma resposta imunológica, em geral dose independentes. Também existem quatro variedades deste tipo de reação:
1) Intolerância
medicamentosa: trata-se de um limiar diminuído para a ação farmacológica
de uma droga em indivíduos suscetíveis. Para uma mesma dose de
medicamento, um indivíduo com intolerância a essa substancia responderá
com uma ação indesejável mais evidente do que a maioria dos indivíduos
expostos a ela, como a hipotermia por ácido acetilsalicílico em
crianças.
2) Reação
idiossincrática: é uma reação anormal a droga por inibição de uma
atividade enzimática, sem mecanismo imunológico envolvido. Pode
acontecer de pacientes com que quando ingerem primaquina desenvolvem
anemia hemolítica (uma deficiência genética relacionada ao metabolismo
da droga que se manifesta quando se expõe ao medicamento).
3) Reação de
hipersensibilidade ou alergia: é uma reação a drogas resultante de
resposta ao mecanismo imunológico, isto é, quando há a participação de
anticorpos circulantes específicos (IgE, IgM e IgG) ou linfócitos
específicos sensibilizados. Essa reação não tem relação com a quantidade
de droga administrada. Correspondem a 10 a 20% das reações adversas a
medicamentos. Uma reação alérgica não costuma acontecer na primeira
exposição do medicamento, porque é preciso um período de sensibilização
anterior. A re-exposição à droga acarretará em uma nova reação
geralmente mais rápida que a anterior. Como exemplo, temos a urticária
provocada por penicilinas.
4) Reação
anafilactoide ou pseudo-alérgica: é uma reação que não envolve
anticorpo específico ou linfócitos T sensibilizado. Ocorre liberação de
mediadores diretamente de mastócitos ou basófilos e ou ativação de um
sistema chamado complemento. As manifestações clínicas são semelhantes a
de uma reação alérgica. Um exemplo é a urticária relacionada ao acido
acetilsalicílico.
Tipos de alergias
A maior parte dos
medicamentos que provocam reações adversas, não é por mecanismos
imunológicos, ou seja, não é uma reação alérgica. Porém, quando elas
acontecem, existem algumas classificações específicas.
1) Reação imediata
tipo I: tem a participação do anticorpo IgE, resultando num quadro
clínico com rinite, asma, urticária, angioedema (edema da derme profunda
atingindo pálpebras e lábios) e anafilaxia (em que o paciente pode
apresentar coceira na pele, vermelhidão, sensação de desmaio, falta de
ar, chiado no peito, queda de pressão, choque, náuseas, vômitos e
diarreia, urticária e angioedema. A obstrução progressiva das vias
aéreas e colapso circulatório podem levar a coma e óbito).
2) Reação tipo II:
ação direta do anticorpo IgM ou IgG no tecido ou orgão, com ativação do
sistema complemento. Pode atingir pele, pulmão, fígado, músculos,
nervos periféricos e células sanguíneas. Pode provocar anemia
hemolítica, diminuição de plaquetas e nefrite intersticial.
3) Reação tipo
III: Envolve a formação de um complexo antígeno-anticorpo que provoca
lesão do tecido com ativação do sistema complemento. O quadro clínico
envolve febre, urticária, presença de gânglios, inflamação das
articulações, vasculite e envolvimento renal.
4) Reação tipo IV: que é mediada por linfócitos T sensibilizados com produção de linfocinas, como a dermatite de contato.
As reações
alérgicas podem ser imediatas (30 minutos até 2 horas após a
administração da droga), aceleradas (2 a 48 horas após a administração
da droga) e tardias (48 horas após a administração da droga).
A reação adversa a
medicamentos é adquirida. É possível nunca ter sido alérgico a um
medicamento e de repente se tornar. Pacientes atópicos (com asma, rinite
e/ou dermatite atópica) podem apresentar reações IgE mediadas mais
graves. A via de administração parenteral, ou seja, por soro ou
aplicação tópica, provoca reações mais complexas. A incidência de reação
alérgica ao medicamento é maior quando administrado de forma
intermitente. O uso contínuo está associado a menor incidência de
sensibilização alérgica.
Às vezes as drogas
apresentam estruturas químicas semelhantes e por este motivo dizemos
que apresentam reação cruzada, ou seja, podem provocar os mesmos
efeitos. Isso explica porque pode ser necessária a suspensão de um grupo
de medicamentos. A incidência de reações cutâneas alérgicas é 35% mais
frequente em mulheres. Os fármacos que mais provocam reações adversas
são os antibióticos e os anti-inflamatórios não hormonais.
Diagnóstico de alergia a um medicamento
Os testes para
detecção de alergia a medicamentos não mostram eficácia e especificidade
para todos os fármacos. A maioria das reações a drogas não é dependente
de mecanismo IgE mediada, portanto não respondem a um teste alérgico
Muitas reações imunológicas são provocadas por metabólitos e não pela
droga principal. Estes metabólitos são de difícil identificação.
Os testes mais utilizados são:
- teste cutâneo de hipersensibilidade imediata
- teste de provocação
- teste de contato
- detecção de anticorpos IgE, IgM, IgG específicos.
Muitos destes
testes não são realizados em consultório, porque necessitam de
monitorização em ambiente hospitalar. O que melhor caracteriza o
diagnóstico é a minuciosa história clínica. Os testes ficam reservados
para o paciente que não tem como substituir o medicamento.
Tratamento
A medida mais
importante é o afastamento do medicamento suspeito. Como muitas vezes há
reação cruzada com outras drogas, portanto é necessário evitar o grupo
todo. O médico especialista deve orientar a substituição por um fármaco
semelhante.
Há um tratamento
realizado em Hospital Escola chamado de dessensibilização, que consiste
em, por meio de protocolos bem definidos, induzir a tolerância do
medicamento. O tratamento farmacológico específico das reações adversas
inclui administração de corticosteroides, anti-histamínicos e
adrenalina, além de todo suporte em caso de anafilaxia (oxigênio e
estrutura de UTI).
Minha Vida
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