Thinkstock/Getty Images: Verdade que dói: antes de expor a sua opinião, coloque-se
no lugar do outro, sugere psicólogo
|
Falar tudo o que pensa, doa a quem doer, nem
sempre é uma virtude. Veja se você não está exagerando na sinceridade e
aprenda a moderar as palavras ao expor sua opinião
A vida não é um tribunal em que é obrigatório dizer somente
a verdade. No entanto, muita gente se aproveita deste artifício para
alfinetar e até mesmo magoar os outros com a justificativa de que não
ter papas na língua é uma grande virtude.
Para o psicólogo Jan
Luiz Leonardi, mestre em análise do comportamento pela PUC-SP ser
sincero a qualquer custo revela um defeito, o egoísmo – afinal, ninguém é
dono da verdade.
“A sinceridade funciona como um medicamento. Na
dose certa, é saudável, mas se passar do ponto pode ser um veneno”, diz o
especialista.
Daí vem o termo ‘sincericídio’, ato ou efeito de
dizer a verdade sem medir as consequências e que, pode sim, ser um
verdadeiro tiro no pé.
“A verdade extrema pode gerar afastamento e gerar situações de conflito”, reforça Leonardi.
Autor do livro ‘Sincericído’(Ed. Ofício das Palavras),
Pablo Nobel defende que é fundamental falar a verdade, pois isso é
libertador.
“A verdadeira sinceridade precisa ter um olhar de compaixão, mais do que de crueldade”, argumenta o escritor.
Por
isso, utilizar-se de palavras ásperas que machucam não é o caminho
certo para expressar o que se pensa. Em muitas situações é crucial
filtrar o que vai ser dito e, em especial, ter tato na hora de
apresentar uma opinião.
“A maldade tem um efeito
agressivo, que incomoda e, neste caso, a sinceridade deixa de ser um
aspecto positivo”, avalia o psicólogo. Portanto, quem se aproveita disso
está, na verdade, indo na contramão dos benefícios que uma palavra
sincera pode gerar.
“Ser sincero significa dizer aquilo que pensa e
que honestamente pode ajudar a harmonizar, equilibrar e positivar quem e
o que quer que seja”, afirma a coach de relacionamento, Margareth
Signorelli.
Mas, afinal como ser sincero sem ser maldoso? Sim,
existe uma regra até mesmo para dizer a verdade. A proposta é usar o
recurso da sinceridade para somar. Por isso, o psicólogo Jan Luiz
Leonardi enumera três pontos básicos que podem e devem ser observados:
- Se colocar no lugar do outro antes de dizer o que pensa
- Prestar atenção na reação do outro
- Atentar à forma como irá falar, colocando sua opinião sempre de maneira assertiva e delicada
De
acordo com Leonardi, ao seguir essa linha é quase certo que a
sinceridade irá prevalecer em seu aspecto positivo. Afinal, quem
intenciona ser maldoso, não costuma ponderar tais questões.
“É
importante ressaltar que uma mentira leve e cuidadosa pode ser mais
saudável do que uma verdade sem limites que, com certeza, pode causar
mais prejuízos que mudanças”, alerta o psicólogo.
Na prática,
antes de sair falando tudo o que pensa, Margareth ensina que é
fundamental se questionar: minha sinceridade pode ajudar ou trazer algo
de positivo para esta pessoa e para mim? Vou ofendê-la? O que eu ganho
com isto? Existe outra maneira de colocar as coisas de modo que a minha
opinião contribua para um resultado positivo para ambas as partes?
“Essas
são boas medidas para encontrar um equilíbrio, pois em qualquer tipo de
relacionamento é importante filtrar os excessos”, sugere Margareth.
Dose certa
Falar
a verdade e manter a harmonia nas relações sociais exige jogo de
cintura. E, para cada situação, vale uma coisa – o grau de intimidade
com o outro também altera o tom da sinceridade. O escritor Pablo Nobel
defende: ser sincero é uma maneira de olhar o mundo, e isso tem mais de
virtude do que de equívoco.
“É possível dizer a verdade sem magoar
e, o melhor, sem subestimar o outro. Ao mentir estou menosprezando a
capacidade dele assimilar o que é realmente verdadeiro”, pondera.
Para facilitar, Margareth Signorelli, sugere como se comportar de forma sincera em diferentes âmbitos da vida:
Em família
Dentro
dela é sempre mais difícil controlar as opiniões e não ofender. As
pessoas crescem juntas e conhecem muito bem as fragilidades de cada um.
Neste caso, a melhor maneira é usar o que se sabe não como a ‘carta da
manga’ para ser usada a qualquer minuto, mas sim que não deve ser usada
nunca. A generosidade de se colocar no lugar do outro deve prevalecer.
Thinkstock/Getty Images: Escritório: ambiente de trabalho exige atenção dobrada
na exposição de opiniões
|
No trabalho
Esse ambiente
exige atenção dobrada na exposição de opiniões. Aqui, a sinceridade deve
ser usada para mostrar quem você é, sua opinião sobre diferentes
assuntos, pontuando seus interesses.
Tudo
que for dito deve priorizar a melhora do ambiente de trabalho e seu
crescimento profissional. Sua opinião passa a ser respeitada a partir do
momento em que as pessoas percebem que o que você diz é valioso e, não
apenas críticas que não acrescentam nada de positivo no trabalho. É
importante ter discernimento para escolher se você quer ser um
colaborador ou um fofoqueiro.
No amor
É
importante alimentar a franqueza desde o primeiro encontro. Não ter medo
de dizer quem é, o que gosta, suas necessidades e seus limites. Ser
sincero é ser honesto.
“É muito positivo pontuar coisas como ‘não
gostei como você falou comigo na frente das pessoas, por favor, não faça
mais isto’. Isso é sinceridade, que une e constrói a confiança
necessária em um relacionamento”, diz Margareth.
Nas relações sociais
Interações
cotidianas com o vizinho, o porteiro do prédio, o atendente da loja, o
caixa da padaria, o cabeleireiro e a manicure, entre outros, exigem
generosidade e educação. Você pode dizer o que quer, mas antes pense se
você gostaria que isso fosse dito para você. Em muitas ocasiões,
respirar fundo e esperar o melhor momento para fazer suas colocações
também pode mudar o que ia ser dito e assim amenizar um pouco a forma
como você coloca as palavras.
Delas
Nenhum comentário:
Postar um comentário