Foto: Joni Byker / AFP: O médico Kent Brantly, que foi infectado por ebola na África e levado para os EUA |
Nova York - Três frascos de uma droga experimental secreta,
armazenados em temperaturas abaixo de zero, foram levados à Libéria na
semana passada em um último esforço para salvar dois missionários
americanos que tinham contraído ebola, de acordo com uma fonte
familiarizada com os detalhes do tratamento que deu as informações à
rede de TV americana CNN.
Em 22 de julho, o médico Kent Brantly
acordou febril. Temendo o pior, ele imediatamente se isolou. Os sintomas
de Nancy Writebol começaram três dias depois e um exame de sangue
rapidamente confirmou a infecção em ambos, depois que eles apresentaram
sintomas de febre, vômito e diarreia. Horas depois da aplicação do
medicamento secreto, ambos teriam apresentado melhoras.
Acredita-se que os dois missionários americanos, da organização
Samaritan's Purse, contraíram ebola de um terceiro profissional de saúde
no hospital da Libéria, embora a investigação dos Centros de Controle
de Doenças ainda não tenha sido divulgada.
Um representante do
Instituto Nacional de Saúde teria entrado em contato com o Samaritan's
Purse na Libéria e oferecido o tratamento experimental, conhecido como
ZMapp, para os dois pacientes, segundo a CNN.
A droga foi
desenvolvida pela empresa de biotecnologia Mapp Biopharmaceutical. Os
pacientes foram informados que se tratava de um tratamento nunca tentado
antes em humanos mas testado com sucesso em macacos.
De acordo
com documentos da empresa, quatro macacos infectados com ebola
sobreviveram após terem feito o tratamento dentro de 24 horas após a
infecção. Dois dos quatro macacos adicionais que iniciaram a terapia
dentro de 48 horas após a infecção também sobreviveram. Um macaco que
não foi tratado morreu no prazo de cinco dias de exposição ao vírus.
Droga impede que o vírus contamine novas célular
Os
familiares de Brantly e Writebol contaram que os dois sabiam do caráter
experimental da droga e consentiram seu uso. Brantly só foi tratado
depois de nove dias com a doença.
O medicamento é um anticorpo
monoclonal desenvolvido em ratos. Esses roedores foram expostos a
fragmentos do vírus ebola e, em seguida, os anticorpos gerados no sangue
dos ratos foram colhidos para criar o medicamento. A droga atua
impedindo o vírus de entrar e infectar novas células.
O vírus
ebola provoca febre hemorrágica viral, que faz parte de um grupo de
vírus que afeta vários sistemas orgânicos no corpo. Os sintomas incluem
febre repentina, fraqueza, dor muscular, dor de cabeça e garganta seca.
Em seguida, começam os vômitos, diarreia, comprometimento da função dos
rins e fígado - às vezes com sangramento interno e externo.
O
ZMapp chegou ao hospital na Libéria onde Brantly e Writebol estavam
sendo tratados na quinta-feira de manhã. Os médicos foram instruídos a
permitir que os frascos descongelassem naturalmente, sem qualquer calor
adicional. A expectativa era de oito a 10 horas antes de o medicamento
pudesse ser administrado, de acordo com uma fonte familiarizada com o
processo.
Brantly pediu que a primeira dose fosse dada a Writebol,
porque como ele é mais jovem que ela, achava que tinha mais chances de
combater a doença sozinho, e ela concordou. No entanto, como o primeiro
frasco ainda estava descongelando, a condição de Brantly deu uma guinada
súbita para o pior.
Brantly começou a passar muito mal e começou a
respirar com dificuldade. Ele disse aos médicos "eu vou morrer". E aí
ele e os médicos decidiram que ele tomaria a primeira dose intravenosa
do medicamento. Uma hora depois a condição de Brantly estava quase
revertida: a respiração melhorou, a erupção sobre seu tronco desapareceu
quase por completo e os médicos descreveram o quadro como "milagre".
Na
manhã seguinte, Brantly já conseguiu tomar banho sozinho antes de voar
de volta aos EUA.Writebol também recebeu o medicamento. Sua resposta não
foi tão sensacional, segundo as fontes, mas depois da segunda dose ela
reagiu à droga e foi considerada estável o suficiente para voltar aos
EUA, onde espera chegar nesta terça-feira.
O ZMapp ainda não foi
aprovado para uso em humanos nem passou pelo processo de testes clínicos
com padrões de segurança e eficácia. Com a recente experiência no
médico e na missionária o medicamento pode cair em "uso compassivo" na
regulação do FDA, agência que regulamenta medicamentos e alimentos nos
EUA, o que significa que seu uso pode ser permitido ainda na fase de
investigação.
Obter a aprovação para uso compassivo é muitas vezes
longo e trabalhoso, mas no caso de Brantly e Writebol, eles receberam a
medicação dentro de sete a 10 dias após a sua exposição ao vírus ebola.
Em
30 de julho, a Agência de Redução de Ameaça de Defesa, um braço do
militar responsável por quaisquer ameaças químicas, explosivos
biológicos, radiológicos, nucleares e de alto rendimento, deram um
financiamento adicional para Mapp Biofarmacêutica devido a "resultados
promissores".
O Globo
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