Por Dr. João Duda
A fissura anal
é uma doença frequente, que se caracteriza por uma descontinuidade
("ferida") do epitélio que reveste o canal anal e/ou a margem anal. Pode
ser aguda ou crônica, sendo que na primeira o ?corte? tende a ser
superficial, com bordos sem fibrose, normalmente com menor tempo de
evolução. Na fissura anal crônica, a ferida torna-se uma úlcera
facilmente reconhecível pelo médico especialista, com fibrose e
enduramento dos bordos, plicoma sentinela (pele sobressalente na margem
anal), com maior tempo de evolução.
Essa doença acomete igualmente a homens e mulheres, e numa população
mais jovem (média de 38 anos). Quase sempre há uma fissura apenas, mas
alguns pacientes se apresentam com duas.
O principal fator causador
da fissura é um traumatismo (ferimento) na região anal, quase sempre
por fezes endurecidas, que durante sua evacuação causam uma lesão no
canal anal. Um quadro diarreico intenso, bem como a prática de sexo
anal, podem também ser causas de mais de 90% dos casos. Outras causas
menos frequentes se devem a doenças específicas, secundárias a Doença de Crohn, sífilis, tuberculose, herpes, câncer, etc.
Como saber se eu tenho uma fissura anal?
A
dor é o principal sintoma. Tende a ser severa, e pior na manifestação
aguda, como se algo estivesse arranhando, cortando ao evacuar, e
persistindo após a defecação. Quase sempre há sangramento, que vai se
reduzindo à medida que vai se tornando crônica. Ao se tornar crônica,
gera uma hipertrofia da pele na borda do ânus onde se encerra a ferida,
chamado plicoma. As pessoas tendem a fazer nesse momento confusão com
hemorroidas, pois entendem ser o plicoma uma hemorroida, bem como
acreditam ser a pele a causadora da dor. Na verdade a dor se deve à
fissura em si.
Buscando tratamento
O tratamento da fissura anal
tende a ser difícil e trabalhoso, tanto para o paciente quanto para o
médico. Isso porque tanto o tratamento clínico como o cirúrgico possuem
falhas e costuma haver demora para que haja a cicatrização da fissura. A
primeira medida a ser tomada é a tentativa de tratamento clínico
(conservador). Esse consiste em manter uma boa função intestinal, com
fibras e emolientes fecais, banhos de assento com água morna e
medicamentos de uso tópico, como o diltiazem 2% e a nifedipina 0,3%.
O
índice de sucesso é de até 70% com oito semanas de tratamento, ou seja,
nem sempre há resolução e o tempo de tratamento é longo. Além disso, o
índice de recorrência é de 30%. Outra opção conservadora é a injeção de
toxina botulínica, com taxas de cicatrização em torno de 75%. Sua
desvantagem é o custo elevado. Os estudos demonstram haver menor índice
de cicatrização com o tratamento clínico do que com o cirúrgico.
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O tratamento cirúrgico, realizado mais frequentemente nos casos de insucesso com o tratamento clínico, consiste na esfincterotomia lateral interna (incisão parcial no esfíncter anal interno) e excisão do plicoma. Proporciona redução da hipertonia e com isso, melhora-se a irrigação sanguínea da fissura, favorecendo sua cicatrização. Este é o tratamento "padrão ouro", com cicatrização em mais de 90% dos casos, mas que tem com complicação incontinência em 5% dos casos. Esta tende a regredir com o tempo. Outra opção cirúrgica é a remoção da fissura e recobrir o seu local com rotação de um retalho cutâneo-mucoso.
Portanto,
visite um coloproctologista quando estiver com dor anal e sangramento. O
médico poderá fazer um diagnóstico correto e em caso de fissura anal,
iniciar seu tratamento o mais breve. Fissura anal é uma doença difícil,
onde o tratamento clínico nem sempre é capaz de resolver. Quanto antes
tratar, maiores são as chances de sucesso.
Minha Vida
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