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terça-feira, 19 de agosto de 2014

Pesquisa da USP estuda como canabidiol, componente da maconha, combate a insônia

Pesquisadores querem entender como o canabidiol atua no cérebro e melhorar
a qualidade do sono
Voluntários terão atividade cerebral medida após ingestão de comprimido de canabidiol; a partir de resultados, uso pode ser alternativa a medicamentos contra insônia e distúrbios do sono A Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP vai estudar os efeitos do canabidiol (CDB), um dos componentes da maconha, no sono

Este será o primeiro estudo realizado no Brasil para testar os efeitos do canabidiol no sono e para isto, os pesquisadores estão buscando 40 voluntários saudáveis com idade mínima de 18 anos para participar do estudo.

A pesquisa tem como objetivo entender como o canabidiol age no cérebro e na chamada arquitetura do sono. Os testes serão feitos em duas noites: em uma, os voluntários tomarão o comprimido de canabidiol, substância isolada da maconha, e, na outra, um placebo.

Fatores como atividade elétrica cerebral, respiração, relaxamento muscular, movimentos oculares, oxigenação sanguínea e batimento cardíaco serão medidos nas duas noites pelo exame de polissonografia.

 “Ainda não se sabe como o canabidiol atua no cérebro e interfere no sono. O objetivo destes primeiros testes é ver se ocorre diferença no padrão de sono. Pesquisas realizadas em outros países sugerem que o canabidiol melhora a qualidade do sono”, diz a psicóloga Ila Linares, que fará o estudo como tese de doutorado.

A segunda fase do estudo será feita com voluntários que têm insônia primária, para então compreender como o composto melhora a qualidade do sono.

Para José Alexandre de Souza Crippa, orientador do estudo, o mais interessante da pesquisa é que os resultados podem fazer com que o canabidiol seja uma alternativa aos medicamentos contra insônia e outros distúrbios do sono.

“Existe uma parcela grande da população com insônia e existem medicamentos indutores do sono. Porém as drogas para insônia podem causar tolerância”, disse. Ele ressalta que o canabidiol não causa tolerância, dependência, nem alteração cognitiva , como problemas na memória ou atenção.

Estudos realizados em humanos e em animais mostraram que o composto melhora a qualidade do sono. "Um estudo que fizemos com pacientes com parkinson, que geralmente apresentam distúrbios do sono, mostrou que 70% apresentou melhora na qualidade do sono", disse Crippa. 

O canabidiol, assim como outros componentes da maconha, é uma substância proibida no Brasil. Para fazer pesquisa com o uso destes componentes no País é preciso a autorização da Anvisa. “Normalmente não demora muito para conseguir a liberação da pesquisa. Temos conseguido fazer estudos nesta área”, diz Crippa.

A maconha contém mais de 480 componentes, sendo que 86 são os chamados canabinoides que atuam no cérebro. Os mais estudados são o delta- 9 - tetrahidrocanabinol, que produz efeitos alucinógenos, em doses altas, e o canabidiol que protege o cérebro dos efeitos do THC.

O grupo do professor no Departamento de Neurociências e Ciências do Comportamento da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP é o que mais estuda o canabidiol no Brasil. Os pesquisadores já fizeram estudos sobre os efeitos do CDB em pacientes com Parkinson, ansiedade, fobia social, esquizofrenia, epilepsia, dependência de craque e até no tratamento de uma viciada em maconha.

“Acredito que em breve, no máximo no ano que vem, o CDB será liberado”, disse.

Este ano o assunto ganhou repercussão depois que o juiz da 3ª Vara Federal do Distrito Federal, autorizou uma mãe a importar um remédio com princípio ativo do canabidiol. O medicamento não tem venda permitida no Brasil e era importado ilegalmente por Katiele Fischer para tratar crises convulsivas da filha de 5 anos. Desde abril, a agência autorizou 37 dos 59 pedidos de importação de medicamentos a base de canabidiol (CBD).

Interessados em participar da pesquisa devem procurar o Departamento de Neurociências e Ciências do Comportamento da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP).

iG

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