Lactobacillus gasseri, encontrada na comunidade microbiana dentro da vagina |
Rio - Bactérias que normalmente vivem em nosso organismo têm impressões genéticas que lhes permitem produzir milhares de moléculas que agem como remédios, e algumas dessas moléculas podem servir como base para novas terapias humanas, de acordo com pesquisadores da Universidade da Califórnia em São Francisco (UCSF) em estudo publicado nesta quinta-feira na revista “Cell”
Os cientistas purificaram e colocaram em solução a estrutura de uma das moléculas identificadas, um antibiótico que eles chamaram de “lactocilin”, feito por uma espécie de bactéria comum, Lactobacillus gasseri, encontrada na comunidade microbiana dentro da vagina. O antibiótico está intimamente ligado a outros que já foram clinicamente testados por companhias farmacêuticas. O lactocilin mata vários patógenos bacterianos vaginais, mas poupa espécies conhecidas por habitar inofensivamente na vagina.
Este exemplo sugere que pode haver um papel importante para muitos medicamentos naturais - feitos por nossos próprios micróbios - na manutenção da saúde humana, disse o autor sênior do estudo, Michael Fischbach, professor assistente de bioengenharia da Escola de Farmácia da UCSF, que estabeleceu uma maneira de descobrir moléculas interessantes feitas por micróbios.
- Nós costumávamos pensar que os remédios foram desenvolvidos por empresas farmacêuticas, aprovados pela Food and Drug Administration (FDA), e prescritos por médicos, mas agora acho que há muitas drogas de igual potência e especificidade sendo produzidas pela microbiota humana - afirmou Fischbach.
Segundo o professor, cerca de um terço de todos os medicamentos utilizados na clínica são derivados de microorganismos e plantas. Estes incluem antibióticos como a penicilina, vários medicamentos usados em quimioterapia e medicamentos para baixar o colesterol. Embora aqueles que querem encontrar medicamentos de micróbios estejam buscando nas profundezas dos oceanos e sondando solos exóticos ao redor do globo, só agora os cientistas começaram a olhar para dentro de nossos próprios corpos.
Existem centenas de espécies de bactérias associadas a cada um de nós. Nem todos abrigam as mesmas espécies, e espécies diferentes são encontrados em diferentes locais do corpo.
Através de pesquisa financiada pelo Projeto dos Institutos Nacionais de Saúde Humana Microbiana e de outros estudos, os cientistas nos últimos anos começaram a descrever os microbiomas - ecossistemas formados por muitas espécies microbianas - encontrados no intestino, pele, fossas nasais, boca e vagina.
Desenvolvimento
Ao colocar um novo software de análise de dados desenvolvido para trabalhar em um extenso banco de dados genético feito a partir de amostras de bactérias humanas, a equipe do laboratório identificou um conjunto de genes de bactérias que são comutadas de maneira coordenada para guiar a produção de moléculas que são biologicamente ativas em humanos.
O programa de tradução de linguagem - algoritmo matemático que a equipe de Fischbach desenvolveu, chamado ClusterFinder - utiliza princípios de aprendizagem de máquinas para desenhar conclusões de novos dados, baseado em o que já se sabe - nesse caso, relações entre conjunto de genes no solo e espécies de bactérias marinhas previamente identificadas e as moléculas que elas produzem.
Usando o ClusterFinder, a equipe de Fischbach pela primeira vez analisou sistematicamente os genomas de espécies microbioma e dados sobre a atividade de genes de amostras humanas para identificar 3.118 grupos distintos de genes de bactérias que são encontradas em vários locais do corpo humano. O gene agrupa sua equipe identificada no código das enzimas que servem como fábricas moleculares para produzir moléculas específicas de remédios do tipo que se encaixam em classes conhecidas de produtos farmacêuticos.
- Precisamos saber o que essas moléculas são e o que eles estão fazendo - disse Fischbach. - Isso poderia representar um conjunto de moléculas com muitos candidatos tentadores para a terapia medicamentosa.
O Globo
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