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terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Índice de partos normais do SUS de Curitiba é seis vezes maior que na rede particular

Índice de partos normais do SUS de Curitiba é seis vezes maior que na rede particularMedidas para humanizar o parto e dar mais segurança às mães têm contribuído para esse índice favorável na rede pública

O percentual de partos normais realizados no Sistema Único de Saúde (SUS) em Curitiba é seis vezes maior que na rede particular. Este ano, até novembro, foram realizados mais de 16 mil partos pelo SUS, dos quais 65% de forma normal. Já no sistema privado, apenas 9% dos cerca de 19 mil partos foram normais. Medidas para humanizar o parto e dar mais segurança às mães têm contribuído para esse índice favorável na rede pública.
 
Desde o ano passado a Secretaria Municipal da Saúde desenvolve com as seis maternidades da capital que atendem o SUS um trabalho para incentivar o parto normal e garantir a presença do acompanhante desde o pré-parto até o pós-parto, o contato pele a pele e a diminuição da episiotomia (corte na vagina no momento do parto). O procedimento, que acontecia em 90% dos partos, hoje ocorre em apenas 15%.
 
“Nestes quase dois anos tivemos grandes avanços. Conversamos semanalmente com as maternidades e temos tido progressos importantes. Além da redução do número de episiotomias, a lei do acompanhante é respeitada por todas as maternidades e o contato pele a pele também. Mas ainda precisamos diminuir o número de cesarianas”, afirma Wagner Dias, coordenador do programa Mãe Curitibana/ Rede Cegonha.

Além de ser o desfecho natural da gravidez – e não aconselhado apenas em caso de perigo para mãe ou para o bebê –, o parto normal apresenta vantagens como a recuperação mais rápida da mãe; o aleitamento precoce, logo após o nascimento; e a passagem do bebê pelo canal do parto, que ajuda a eliminar parte do líquido que traz no pulmão, melhorando a respiração.

A maternidade com o melhor índice de partos normais realizados é a do Bairro Novo, com 78%, seguida pela Vitor Ferreira do Amaral, com 72%, o que se justifica por ser um hospital que acompanha gestantes de baixo risco. Em seguida, vêm o Mater Dei e Hospital do Trabalhador, com 66%, Evangélico (55%) e Hospital das Clínicas (35%). “Mesmo os hospitais que atendem gestantes de risco podem diminuir o número de cesarianas. Muitas vezes ela pode ser evitada e é sobre isso que estamos conversando com nossos parceiros”, ressaltou Dias.
 
Humanizado
A Maternidade do Bairro Novo é um exemplo de como funciona o parto humanizado. Lá tudo é feito com carinho e atenção, desde a chegada da gestante, até a alta da mamãe com o bebê. São ações de acolhimento e humanização para proporcionar qualidade no atendimento às mulheres da região Sul da cidade que têm seus bebês pelo SUS.

“Jerson Junior é meu sétimo filho. Nunca fui tão bem tratada”, diz Gabriela Elizabeth, que ficou feliz com o atendimento. “Foi tudo muito rápido. Desde o acolhimento, quando recebi todas as informações sobre o que iria acontecer, quais os meus direitos até o parto, feito pela enfermeira obstetra. Fiquei tranquila, pois aqui ensinam até como fazer força”, disse ela.

Localizada no Sítio Cercado, a Maternidade Bairro Novo presta serviços exclusivamente pelo Sistema Único de Saúde. “Aqui a gestante pode escolher até a posição do parto natural. De cócoras, apoio de quatro, lateralizada ou semi-sentada”, explica a diretora executiva da maternidade, Tereza Kindra. “Além disso, nas horas que antecedem o parto, oferecemos várias opções para que a mulher se sinta mais segura, como a permanência do pai na sala antes, durante e após o parto; massagens e duchas relaxantes durante o trabalho de parto e a utilização de bolas plásticas de fisioterapia para as mães realizarem exercícios que auxiliam o trabalho de parto”, afirmou. Ela diz que o principal compromisso da maternidade é garantir que a mulher conheça seus direitos para expor seu desejo. “Quando a gestante tem a informação, ela se sente mais segura”, ressalta.

Gabriela Xavier, de 19 anos, ganhou Isabela Vitória há um mês. Acompanhada do marido Gabriel Costa, ela pode escolher o tipo de atendimento durante o acolhimento. “Minha bolsa rompeu e prontamente fui atendida e encaminhada à sala de parto”, disse Gabriela. O marido foi junto e só não cortou o cordão umbilical porque ficou tenso com a novidade. “Tremi da cabeça aos pés de emoção e nervoso. Mas fiquei junto com a minha esposa neste momento importante”, disse Gabriel.

Nos últimos dois anos, mais de 4 mil mulheres tiveram seus bebês na Maternidade Bairro Novo, que prioriza o parto normal. “Um índice de 75%, acima do recomendado pela Iniciativa Hospital Amigo da Criança (IHAC), que é de 70%”, explicou Tereza.

Em maio deste ano, a portaria 1.153 do Ministério da Saúde redefiniu os critérios de habilitação da Iniciativa Hospital Amigo da Criança (IHAC). As orientações reforçam a estratégia de promoção, proteção e apoio ao aleitamento materno e à saúde integral da criança, além de propor medidas que garantam à mãe o protagonismo no momento do parto.Na Maternidade Bairro Novo, estes critérios já são seguidos. “Tem sido um processo de mudança gradativo, de transformação na cultura do atendimento, mas já evoluímos bastante”, descreve a diretora executiva Tereza Kindra.

As mudanças são bem aceitas. As gestantes se sentem mais seguras na hora do parto. “São sete pontos que enfatizam os direitos de escolha da gestante, que vão desde a presença de um acompanhante durante a internação até a utilização de métodos não farmacológicos para alívio da dor e promoção do conforto: massagem, exercícios respiratórios, caminhada, banho terapêutico, exercícios na bola e a presença do acompanhante”, explica a gerente médica, a pediatra Wilma Silva. “Cada paciente que interna recebe atendimento individualizado, observando suas condições clínicas”, diz Wilma, lembrando que a inserção dos enfermeiros obstetras no atendimento é um dos principais avanços para a humanização do atendimento. A Maternidade Bairro Novo foi a primeira em Curitiba a realizar processo seletivo para a contratação de profissionais com essa especialidade.

A classificação de risco é outra medida implantada. A avaliação da condição clínica da mulher garante um atendimento diferenciado ou prioritário aos casos mais graves. “Não tive dilatação e fui encaminhada para a cesárea”, contou Rafaela Correa, que teve seu primeiro filho Nicolas, na Maternidade Bairro Novo. “Só tenho a elogiar o atendimento mais humano, carinhoso. As atendentes fizeram massagem e até um escalda-pés. Isso é reconfortante”, disse ela. Também esta é a opinião de Milkléia Bispo Baez, de 22 anos, que ganhou Miguel. “Este tratamento diferenciado faz toda a diferença. A gente chega nervosa e com pequenos mimos e a explicação dos passos que serão realizados até que o bebê nasça, tudo fica mais tranqüilo”, disse.

A enfermeira obstetra Marcelexandra Rabello disse que, com o serviço de humanização no parto, várias ações foram implantadas como a visita específica dos irmãozinhos do recém-nascido para apoiar os vínculos afetivos familiares e contribuir para a recuperação da mãe e do bebê, o momento do conhecimento (onde a gestante tem informações sobre os tipos de parto), as práticas integrativas, como o relaxamento e a liberdade da mulher caminhar e agachar durante o trabalho de parto, massagens na região lombar, banhoterapia e a presença do acompanhando que ela escolher durante todas as fases do parto. “São medidas para diminuir a mortalidade materna e infantil que incluem ainda o contato pele a pele, quando o bebê é colocado em cima da mãe”, explicou.

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