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segunda-feira, 30 de março de 2015

Pesquisa consegue regenerar tecido cardíaco lesionado com RNA

Em ratos, as moléculas genéticas impulsionaram o crescimento de novas células, regenerando o coração
 
Praticamente todos os seres têm a capacidade de regeneração celular. O processo é mais lento que nas histórias em quadrinhos e pode até passar despercebido para muitos humanos, mas existe — exceto para alguns órgãos nobres, como o cérebro e o coração. Resultados iniciais de um estudo divulgado na revista Science Translational Medicine podem acabar com essa ressalva. Pesquisadores da Universidade de Pensilvânia (EUA) reativaram vias do desenvolvimento dos mamíferos que podem influenciar e até mesmo estimular a regeneração cardíaca. Ainda que o avanço seja considerável, especialistas veem a proposta com cautela.

O tecido cardíaco de mamíferos tem a capacidade limitada de se regenerar. Segundo Ed Morrisey, diretor científico do Instituto de Medicina Regenerativa da Escola Perelman de Medicina da universidade, isso acontece, em parte, devido à incapacidade para reativar um programa de proliferação de células do músculo cardíaco. Estudos anteriores indicam baixo nível de proliferação de células desse músculo, as cardiomiócitos, em mamíferos adultos, o que é insuficiente para reparar o coração danificado.
 
A equipe de Morrisey mostrou, a partir de experimentos com camundongos, que um subconjunto de moléculas de RNA, chamado microRNAs, é importante para a proliferação celular durante o desenvolvimento dos cardiomiócitos. Mais que isso: seria suficiente para induzir a proliferação dessas células musculares no coração de animais adultos.

A perda do aglomerado de microRNA miR302-367 nas cobaias levou à diminuição da proliferação celular durante o desenvolvimento dos cardiomiócitos. Contudo, o aumento da expressão do aglomerado no coração adulto levou à reativação da proliferação.

Esse processo aconteceu pela repressão da via hippo, que reprime a proliferação celular quando ligada. “O aglomerado miR302-367 mirou nos três dos principais componentes da hippo, reduzindo sua atividade, o que permite que os cardiomiócitos sejam reinseridos no ciclo celular e comecem a rejuvenescer o músculo cardíaco”, detalha Morrisey. Seria a repressão de um repressor.

Riscos
Em ratos adultos, essa “re-expressão” do aglomerado de microRNA resultou na formação de cicatriz reduzida no miocárdio após infarto. Nos mesmos bichos, houve aumento do número de cardiomiócitos. Porém, a expressão a longo prazo das moléculas genéticas fez com que algumas células do músculo cardíaco se tornassem menos funcionais. “Isso nos sugere que a reativação persistente do ciclo celular em cardiomiócitos adultos pode ser prejudicial e fazer com que o coração falhe”, explica Morrisey.

Os investigadores suspeitam que essas células provavelmente precisarão se diferenciar de volta, mas há o risco de perderem a capacidade de se contrair. “Nós superamos essa limitação com a injeção de microRNAs sintéticos com uma meia-vida curta.” Imitar o tratamento por sete dias após o infarto levou ao aumento na proliferação de cardiomiócitos, que “brotaram” novamente no músculo cardíaco, resultando a diminuição da fibrose e na melhora das funções do coração.

Vice-presidente da Sociedade de Cardiologia do Rio de Janeiro (Socerj), Ricardo Mourilhe explica que o microRNA é a partícula de um DNA com centenas de RNAs, sendo que a maior parte deles é estudada como marcadores de doenças e de processos inflamatórios. Ele tem uma linha de pesquisa na Universidade Estadual do Rio de Janeiro focada em dois microRNAs como marcadores do risco de morte por cardiomiopatia hipertrófica.

Para Mourilhe, é preciso considerar que nem sempre o que dá certo em camundongos também funciona com animais maiores. “É apenas o primeiro passo de milhares que ainda precisam ser alcançados para saber a aplicabilidade desse trabalho. Mas isso é muito distante ainda. Tirar da bancada e chegar ao ser humano leva entre cinco e 10 anos.”
 
"É apenas o primeiro passo de milhares que ainda precisam ser alcançados para saber a aplicabilidade desse trabalho (…) Tirar da bancada e chegar ao ser humano leva entre cinco e 10 anos” - Ricardo Mourilhe, vice-presidente da Sociedade de Cardiologia do Rio de Janeiro
 
Correio Braziliense

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