Estudo analisou gastos com mamografias que dão resultado falso-positivo e tratamento de tumores que não ameaçam a vida da mulher
Washington - Um novo estudo intensificou o debate sobre os custos e benefícios da detecção do câncer ao estimar que os Estados Unidos gastam US$ 4 bilhões ao ano em mamografias e tratamentos desnecessários. Publicado no “Health Affairs”, a pesquisa divide os custos da seguinte maneira: US$ 2,8 bilhões por mamografias que têm resultados falsos-positivos e US$ 1,2 bilhão atribuído ao excesso de diagnóstico do câncer de mama, que inclui o tratamento de tumores que crescem lentamente e têm poucas chances de se converter em uma doença que ameace a vida da mulher.
As mamografias anuais a partir dos 40 anos são consideradas o padrão de cuidados preventivos, já que o câncer é mais fácil de tratar se detectado em sua etapa inicial. Mas recentemente, houve divergências sobre comprovações científicas que indiquem o rastreamento a partir desta idade. Este é o mesmo debate no caso do câncer de próstata para homens. No Brasil, o rastreamento é indicado a partir dos 50 anos, mas o tema também levanta uma intenso debate.
Os autores, Mei-Sing Ong, do Hospital Pediátrico do Boston, e Kenneth Mandl, da Escola de Medicina de Harvard, dizem que o custo do diagnóstico excessivo do câncer de mama parece ser muito maior do que se estimava.
Além do desperdício financeiro, os falsos-positivos e o excesso de diagnóstico expõem a mulher a riscos de procedimentos adicionais, sem mencionar o estresse por que passam. Não é raro que as mamografias apresentem alguma anomalia que tenha que ser analisada com mais testes ou biópsia.
— Esperamos que o custo financeiro deste problema ajude a reduzir o custo humano — afirmou Mandl. — Ambas as mensagens são poderosas. Isto não é apenas um problema, mas um problema muito caro. Esperamos que o estudo ajude a acelerar as intenções de melhorar as práticas de análises.
Enquanto isto, outro especialista defendeu as práticas de rastreamento e disse que o estudo é parcial.
— Não houve a intenção de equilibrar os custos com os benefícios — destacou Richard Wender, que encabeça as iniciativas de prevenção, detecção e apoio a pacientes da Sociedade Americana de Câncer. — Realmente acredito que cada estudo que revisa os pontos negativos de qualquer teste de diagnóstico tem que estar equilibrado com os benefícios.
Mandl defende, no entanto, que os resultados da pesquisa estão respaldados por vários estudos e que não há benefício médico de mamografias que produzem falsos-positivos.
A Sociedade Americana de Câncer recomenda mamografias anuais para mulheres a partir de 40 anos, enquanto que um grupo de assessoria governamental — o Grupo de Trabalho de Serviços Preventivos — recomenda que as análises regulares comecem a ser realizadas a partir dos 50 anos. O estudo detectou que as mulheres entre 40 e 49 anos tinham mais possibilidade de dar falsos-positivos.
O Globo
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