Rio - Há três anos, a dermatologista Laíse Leal, de 30 anos, decidiu trocar a pílula anticoncepcional por um “implante hormonal”. Mas o motivo não foi apenas a proteção contraceptiva e, sim, a vontade de ganhar tônus muscular. O que uma coisa tem a ver com a outra? Entre os efeitos prometidos pelo tal “chip fashion” ou “chip da dieta’’, como é chamado no boca a boca o polêmico e controverso implante, estão a perda de peso, a redução de medidas e, acredite, o desaparecimento de celulites.
As supostas mil e uma maravilhas têm seu preço. E, naturalmente, suas desvantagens e riscos. Entre elas, a possibilidade de aumentar a oleosidade da pele, de alterar o timbre da voz e até de estimular a produção de pelos — quase como faz um anabolizante.
— Meu primeiro pensamento foi o corpo. Eu sou muito magrinha e não tinha muita curva. Por isso, coloquei o implante. Também deixei de ter sangramento, TPM... — conta Laíse, que desembolsa R$ 6 mil por ano para manter o procedimento.
Ela diz que o chip mudou sua vida:
— Senti diferença na retenção de líquido do meu corpo. Fez com que as celulites sumissem, e também fiquei mais definida.
O chip, porém, não deu conta sozinho das mudanças no corpo da dermatologista, que faz musculação três vezes por semana e toma um comprimido diário para controlar a oleosidade da pele:
— Sozinho, o implante não funciona. Desde o início, faço um tratamento casado. Então, não saberia dizer como está a minha pele sem o medicamento.
Os chips ainda têm prazo de validade. Podem ter duração de três, seis ou 12 meses, a depender da necessidade de reposição hormonal. Para cada caso, é feita uma “radiografia”, que identifica que hormônios precisam ser estimulados. Então, depois de passar por uma bateria de exames (de sangue, de saliva e alguns ginecológicos), o implante é fabricado num farmácia de manipulação especializada (só existem duas no Rio que fazem).
— Através de exames de sangue e de saliva, é possível identificar se existe um desequilíbrio hormonal e determinar quais hormônios são atuantes ou não, para, consequentemente, tratá-los — afirma Theo Webert, especialista em modulação hormonal. — Meu foco é alinhar a prática de exercícios físicos e a alimentação à produção hormonal.
Entusiasta dos implantes, o clínico geral e endocrinologista Fabiano Serfaty começou a trabalhar com a técnica ao lado do pai, Alberto Serfaty.
— Os chips manipulados foram criados para tratar patologias típicas das mulheres. E existem várias combinações possíveis (são seis tipos de hormônios) de implantes. Por isso, estudamos previamente cada caso para avaliar a parte clínica e traçar o perfil hormonal — explica Fabiano, que trabalha em parceria com um especialista em São Paulo, que é precursor na técnica, o doutor Elsimar Coutinho.
Em sua forma física, o chip hormonal é um tubinho de silicone de mais ou menos três centímetros. Sua aplicação é feita com anestesia local e, depois, com um aparelhinho que injeta o chip na região do quadril (“perto da marquinha do biquíni”, precisa Laíse Leal). O procedimento não dura mais do que cerca de 20 minutos, e o tubinho não é palpável. Em alguns casos, raros, é possível que o corpo rejeite o implante.
— O implante ganhou o apelido de “chip fashion’’ porque é muito usado por modelos, devido à praticidade e à capacidade de mudar o corpo e a vida da mulher quando indicado de forma correta.
Caso contrário, ela pode ter vários efeitos colaterais, como ficar com a voz mais grossa — diz Fabiano.
O especialista Theo Webert alerta ainda sobre a composição dos implantes de hormônio.
— Muitas fórmulas contêm elementos sintéticos, que não indico.
O segredo, para Fabiano, está na dosagem.
— Eu sempre digo que a diferença entre o veneno e a poção mágica está na dose. Ou seja, na dose e na combinação hormonal que a gente escolhe colocar — conclui o especialista.
O Globo
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