Valores saltaram de R$ 11 milhões para R$ 104 milhões entre o final de 2012 e o início deste ano; prática mascara contas, segundo especialista, e foi questionada pela agência reguladora
Renato S. Cerqueira/Futura Press -29.9.15
Durante a crise que culminou, em outubro, com a obrigação de se desfazer de seus 740 mil clientes, e sob acompanhamento presencial de um representante do governo federal, a Unimed Paulistana turbinou os adiantamentos a fornecedores diversos. A prática, que não é ilegal em si, foi questionada pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), segundo um documento obtido pelo iG, e pode ter contribuído para mascarar a real situação da operadora, que deixou na mão milhares de beneficiários e cerca de 2,5 mil médicos cooperados.
No fim de 2014 – cerca de 1 ano antes, portanto, de de ser reconhecida como financeiramente inviável pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) – a Paulistana declarou ter R$ 87 milhões em adiantamentos diversos, um aumento de 680% ante os R$ 11 milhões declarados no final de 2012 – ano a partir do qual os adiantamentos diversos passaram a ser declarados exatamente da mesma forma nas demonstrações contábeis divulgadas pela ANS.
Na contabilidade, tais adiantamentos servem para abarcar pagamentos feitos por uma companhia por bens ou serviços a receber e que não cabem em outras linhas, como estoques ou antecipações a trabalhadores.
Ao atingir R$ 87 milhões no final de 2014, os adiantamentos diversos da Paulistana não só destoaram em muito desses itens – os estoques, à época, somavam R$ 5,5 milhões, e os adiantamentos a funcionários, R$ 1,2 milhão – como superaram os R$ 51,4 milhões de patrimônio imobilizado da operadora, o que inclui os hospitais e equipamentos usados no atendimento ao público.
Parte do aumento decorreu da assinatura de um contrato de gestão de um hospital em Bragança Paulista, cidade do interior paulista, firmado em 2013, quando 86% dos clientes da Paulistana estavam na Região Metropolitana de São Paulo. Pelo negócio, a Paulistana contabilizou como adiantamentos R$ 18 milhões.
Procurada, a Paulistana não comentou os dados e a ANS atribuiu a responsabilidade ao gestores. O advogado do presidente da operadora até o primeiro trimestre deste ano alega que todos os adiantamentos foram legais, transparentes e serviram como alternativa ao aumento dos juros cobrados pelos bancos.
Antecipações a fornecedores da Unimed Paulistana disparam em meio à crise e superam o patrimônio imobilizado da operadora
Laranja - adiantamentos diversos
Amarelo - estoque
Laranja Escuro - ativos imobilizados, (imóveis, etc)
Fonte ANS, elaboração da reportagem
iG
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