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sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Cocaína provoca ‘autocanibalismo’ cerebral

Estudo mostra como droga faz com que neurônios consumam a si mesmos e abre caminho para tratamentos


Altas doses de cocaína compatíveis com o uso recreacional da droga fazem as células do cérebro consumirem a si mesmas, em um tipo de “autocanibalismo”. A conclusão é de um experimento realizado por cientistas da Universidade Johns Hopkins, nos EUA, relatado na edição desta semana do periódico científico “Proceedings of the National Academy of Sciences” (PNAS). Segundo os pesquisadores, a cocaína desregula um mecanismo natural de “limpeza” celular dos neurônios conhecido como autofagia, fazendo com que digiram estruturas fundamentais para sua sobrevivência e acabem morrendo.

– Uma célula é como uma casa que está constantemente gerando lixo – explica Prasun Guha, líder da pesquisa. – A autofagia seria então como o zelador que joga o lixo fora, o que normalmente é uma coisa boa. Mas a cocaína faz o zelador jogar fora coisas realmente muito importantes, como as mitocôndrias, que geram a energia para a célula.

A descoberta de como a cocaína provoca a morte de neurônios, no entanto, abre caminho para o uso de um possível antídoto a esta ação tóxica. Batizado CGP3466B, o composto experimental se mostrou capaz de interromper a rota bioquímica pela qual a droga bagunça o sistema de limpeza das células do cérebro de camundongos.

Para isso, no entanto, é preciso primeiro entender como funcionam os mecanismos naturais de morte celular e os processos de comunicação entre os neurônios. No primeiro caso está a chamada apoptose, morte programada essencial para o bom desenvolvimento do organismo, como a que leva à separação dos dedos dos pés e das mãos ainda na fase embrionária, e cujo descontrole está por trás de algumas variedades de câncer e outras doenças.

Recentemente, no entanto, os cientistas descobriram três outros destes mecanismos que fazem as células cometer “suicídio” como resposta a diversos tipos de agressão externa, controlados por três proteínas diferentes: a própria autofagia, a piroptose e a necroptose. Ao medirem os níveis das proteínas que controlam cada um destes processos, os pesquisadores da Johns Hopkins puderam determinar que a cocaína provoca a morte neuronal apenas pela via da autofagia.

Já na comunicação entre neurônios, descoberta de 1990 mostrou que eles podem fazer isso com o gás óxido nítrico, por meio da interação com uma enzima chamada GAPDH. E é justamente ao impedir esta interação que o CGP3466B evita que os neurônios consumam a si mesmos. Além disso, os experimentos mostraram que o composto pode resgatar as células cerebrais do caminho de destruição induzido pela cocaína, inclusive os neurônios de fetos de camundongos cujas mães receberam a droga durante a gravidez.

– Como a cocaína age exclusivamente na modulação da autofagia e não em outras formas de morte celular programada, há uma chance maior de desenvolvermos novas terapias direcionadas a suprimir esta toxicidade – destaca Maged M. Harraz, pesquisadora da Johns Hopkins e coautora do estudo no PNAS.

Segundo Snyder, ele e sua equipe esperam que seu estudo leve ao desenvolvimento de medicamentos para proteger adultos e crianças dos devastadores efeitos da cocaína no cérebro. Mas, apesar de o CGP3466B já estar na fase 2 de ensaios clínicos (mal sucedidos) para tratamento do mal de Parkinson e Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), e então já se sabe que seu uso é seguro em humanos, muitos anos de estudos ainda serão necessários para saber se o composto de fato pode prevenir danos cerebrais provocados pela droga. Eles também esperam criar e testar derivados do CGP3466B para compreender melhor como a cocaína induz a autofagia dos neurônios e se a droga leva à morte de células em outros órgãos do corpo.

Foto: Reprodução

O Globo

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