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sexta-feira, 3 de junho de 2011

Vitamina A: maioria das mulheres não precisa de suplemento

Suplementação não reduziu índice de mortalidade de bebês ou de gestantes, revela estudo

Vitamina A: suplementação pode não se aplicar à grande maioria das gestantes

Um novo estudo de Bangladesh leva especialistas à conclusão de que a maioria das mulheres do mundo não precisa de suplementos de vitamina A.

Na zona rural desta nação asiática emergente, a suplementação de vitamina A em gestantes não reduziu o índice de mortalidade dos bebês ou das mulheres por problemas relacionados à gravidez, é o que mostra o novo estudo.

Entretanto, os pesquisadores afirmam que garantir que as gestantes recebam a quantidade necessária de vitamina A através da dieta ou de suplementos é “um importante objetivo de saúde pública” por outras razões. Mas, especialistas questionam se os suplementos são realmente úteis.

“Em minha opinião, existem muito poucas evidências no momento em prol da suplementação de vitamina A em mulheres”, disse Anthony Costello, do University College London Institute for Global Health, em entrevista à Reuters Health.

“Aparentemente, ou a suplementação não surte efeito ou o mesmo só pode ser observado em populações com níveis de vitamina A extremamente baixos. Para grande parte das mulheres do mundo, isso provavelmente não se aplica”, disse Costello, que já realizou pesquisas sobre o tema, mas não participou do estudo atual.

No estudo de Bangladesh, publicado no periódico Journal of the American Medical Association, a equipe liderada por Keith West, do Johns Hopkins Bloomberg School of Public Health, de Baltimore, acompanhou uma população de aproximadamente 60.000 pessoas por mais de cinco anos.

A equipe de pesquisa identificou todos os domicílios da região onde residissem mulheres casadas entre os 13 e os 45 anos de idade. A cada cinco semanas, pesquisadoras visitavam tais casas para verificar – através de conversas e de exames de urina – se alguma das mulheres estava grávida.

Em caso afirmativo, as mulheres recebiam doses semanais de vitamina A, betacaroteno, ou pílulas de placebo, ministradas até a décima segunda semana após darem à luz. Elas também recebiam material educativo sobre cuidados e alimentação durante a gravidez. Os grupos eram designados aleatoriamente, com base na localização dos domicílios.

Em torno de 60.000 gertações foram observadas durante o período de estudo, com as mães distribuídas uniformemente entre os grupos que receberam suplementos de vitamina A, betacaroteno ou placebo.

Um total de 138 mulheres participantes do estudo morreu por causas relacionadas à gravidez. Este número representou um total de 20 a 25 mulheres em cada 10.000 gestações, independentemente do tipo de suplemento que receberam.

Os índices de partos de natimortos e mortalidade de bebês também não apresentaram variações com base no tipo de suplementos ministrados. Em cada um dos três grupos ocorreram entre 45 e 51 casos de partos de natimortos para cada 1.000 nascimentos, e entre 65 e 70 mortes de bebês nas 12 semanas após o nascimento para cada 1.000 nascimentos.

Mudanças necessárias?

A deficiência de vitamina A vem sendo relacionada à cegueira noturna em gestantes e também à morte delas em algumas regiões. A Organização Mundial de Saúde informa que tais riscos são mais altos nos últimos três meses de gestação. No estudo de Bangladesh, nenhuma mulher com cegueira noturna foi tratada com vitamina A, independentemente do tipo de suplementação que recebida durante o estudo.

Costello, porém, acredita que a deficiência de vitamina A no mundo emergente se tornou um problema menor nos últimos 30 anos, com mudanças econômicas e agrícolas – que afetam também a nutrição. Estudos anteriores, incluindo aquele liderado por West, analisaram o efeito da suplementação de vitamina A em gestantes de Gana e do Nepal, não encontrando quaisquer efeitos nos índices de partos de natimortos ou de mortalidade de bebês. Entretanto, os estudos conduzidos no Nepal revelaram um número menor de mortes entre gestantes que recebiam suplementação de vitamina ou betacaroteno.

Na opinião de West, pode ser que as mulheres de Bangladesh tenham um consumo maior de alimentos ricos em vitamina A do que as nepalesas. Elas também apresentam chances geralmente menores de morrer na gravidez por outras razões – por exemplo, talvez por terem maior probabilidade de darem à luz com acompanhamento de um profissional de saúde.

Costello diz que mesmo que a deficiência de vitamina A esteja se tornando menos comum, a suplementação é importante – principalmente para afastar as infecções – em pessoas deficientes, dentre elas as crianças.

“Acredito que a suplementação em crianças ainda seja necessária. Mas, devemos estar atentos a mudanças que podem levar a um declínio nos benefícios dos programas de suplementação”. Costello complementa: “Não há necessidade de pressa em prescrever vitamina A para todas as mulheres do planeta”.

West também acredita que a alimentação esteja melhorando em muitas partes do mundo emergente, possivelmente transformando a suplementação de vitamina A menos essencial em algumas regiões - dentre elas a zona rural de Bangladesh.

“Este ainda é um nutriente vital. Se ele não é ingerido, juntamente com outros micronutrientes, as coisas não irão bem. Mas, o perfil nutricional está mudando. Estaria isso ocorrendo por toda parte? Eu diria que não, mas provavelmente é uma tendência geral”, disse West à Reuters Health.

Porém, ele complementa que devemos nos manter vigilantes às necessidades nutricionais da população pobre das zonas rurais do mundo emergente para evitar deficiências.

Sem solução mágica

Prakesh Shah, que também estudou a suplementação de micronutrientes e a gravidez, vê uma mensagem diferente nas descobertas.

“Analisar a relação entre um único nutriente e a morte de gestantes é esperar demais de um estudo”, disse Shah, pesquisador da Universidade de Toronto que não participou do estudo. Ele complementa que se mães e bebês terão benefícios de algum suplemento, este deve conter mais nutrientes – dentre eles a vitamina D, o ácido fólico e o ferro.

O índice de mortalidade entre gestantes e bebês ainda é bem mais alto no mundo emergente do que em países como os Estados Unidos e o Canadá. Ele complementa: “Será que iremos encontrar uma única solução, como a vitamina A, para curar todos os males? É bem provável que isso não aconteça.”

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