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domingo, 3 de julho de 2011

Pais se negam a vacinar filhos e apostam apenas em "vida saudável"

A falta de vacina foi uma das causas do recente surto de sarampo na Europa

A falta de adesão à vacinação é a principal causa do surto de sarampo na Europa, segundo as autoridades mundiais de saúde. No Brasil, a vacina contra a doença está disponível gratuitamente nos postos de vacinação, ao mesmo tempo em que uma campanha reforça a necessidade da dose em oito Estados e para quem for viajar ao continente.
De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), até abril deste ano 33 países europeus informaram ter, no total, 6.500 casos em 2011. Só a França teve 5.000. E no Brasil, 15 foram notificados, todos importados da Europa, segundo o Ministério da Saúde.

No entanto, mesmo diante da ameaça de contrair doenças como essa, entre outras, alguns pais se recusam a vacinar seus filhos por diferentes razões.

Desconfianças

Famílias com alta escolaridade desconfiam da boa vontade do governo em fornecer vacinas. Segundo as famílias entrevistadas pelo R7, existem interesses de indústrias farmacêuticas e pouca informação sobre a composição das doses e de se há efeitos colaterais. Para elas, é melhor investir em hábitos saudáveis do que expor crianças às vacinas.

É o caso da família do tradutor Alexandre Nogueira Penna , de 42 anos. Ele e a mulher Mayra Mayumi Moraes Penna nunca vacinaram os filhos André, de três anos, e Daniel de um ano e nove meses. Com um estilo de vida bastante natural, o casal segue a dieta macrobiótica (que prega a exclusão de carnes, ovos e laticínios do cardápio), que já foi repassada aos filhos.

- Com esse estilo de vida, nós não ficamos doentes, mesmo quando em contato com a população das comunidades vizinhas. Eles só foram vacinados contra pólio; nunca mais vacinamos.

Moradores do distrito de São Francisco Xavier, no Alto da Serra da Mantiqueira, na divisa entre São Paulo e Minas Gerais, o casal tem o privilégio de oferecer aos filhos somente alimentos retirados de uma horta plantada no quintal de sua casa. E como a mãe fica em tempo integral com os pequenos em casa, tudo o que é consumido por eles é feito por lá, e o caçula ainda é amamentado.

- Combinando uma série de elementos conseguimos viver sem vacinas. Nosso dinheiro deveria ser empregado em boa alimentação e informação, e não em remédios.

A designer Ana Basaglia, de 44 anos, também criou os três filhos sem apostar na vacinação para preveni-los de doenças como o sarampo. Ela diz que quanto mais se informava sobre as vacinas, menos sentia confiança em levar os filhos aos postos de vacinação.

- Eu não acredito na segurança das vacinas, eu não acho que saúde se garante tomando remédio preventivamente, prefiro investir em outros meios para ser saudável.

Tanto que seu filho mais velho, Roberto, de 23 anos, foi o que tomou mais vacinas, diminuídas ao longo dos anos com as filhas Beatriz, de 17 anos, e com a caçula Gabriela, de 7, que só tomou vacina na maternidade por uma “bobeada”, como ela mesmo diz.

Para Ana, faltam informações mais precisas acerca dos efeitos da vacinação oferecida pelo governo.
- Precisa ser mais conversada essa questão. Acho que tem que ser uma escolha da família. O grande problema é que pouco se conversa. As pessoas não sabem que existem efeitos colaterais, prazo de validade, que elementos químicos ficam depositados no corpo.

Assim como Alexandre, ela e sua família procuram adotar uma alimentação mais saudável e manter uma “vida regrada, com equilíbrio entre lazer, trabalho e descanso”.

O sarampo é causado por um vírus que se propaga no ar. É uma doença aguda, altamente contagiosa, transmitida de pessoa para pessoa por meio das secreções expelidas ao tossir, espirrar, falar ou mesmo respirar.


Médicos ressaltam importância da vacinação

Para o presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações, Renato Kfouri, apesar da boa intenção, a alimentação saudável não garante a prevenção contra o sarampo e outras doenças infectocontagiosas.
- Não é garantia que pessoas que comem direito não adoecem. Já que 90% dos casos de sarampo acontecem em indivíduos saudáveis.

A infectologista pediátrica Helena Sato ressalta a importância das campanhas de vacinação, em especial a do sarampo, que conseguiu extinguir a doença do país.

- Os dados e os números mostram que a estratégia de vacinação é muito importante – chegamos a 2011 e podemos dizer que eliminamos o sarampo [do país] com uma vacina que está há mais de 40 anos no calendário. Nós fazemos campanhas sistemáticas de vacinação há 24 anos, e não há 24 horas. Não tem motivo para não vacinar.

A médica pede cautela quanto às informações veiculadas sobre vacinas. Entre elas uma que causou grande polêmica. Uma pesquisa publicada na revista Lancet, nos anos 90, relacionou a vacina tríplice viral (sarampo, rubéola e caxumba) com o autismo. Suas análises repercutiram e ainda são consideradas reais por muitas pessoas, mesmo tendo sido desmentidas publicamente neste ano. Uma das consequências da repercussão foi a queda brusca da vacinação na Europa.

- Teve gente achando que a vacina contra o sarampo poderia estar associada ao autismo, mas isso não existe.

Uma reportagem do jornal El Pais mostrou ainda que uma das principais causas da disseminação do sarampo na Europa é justamente a recusa da vacinação por famílias que participam de grupos antivacinação, o que para a infectologista pediatra Lily Yin Weckx, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), não passa de um prejuízo à saúde.

- Lá fora nós temos esses grupos naturalistas que atuam contra a vacina e dá no que dá. O prejuízo é de todos, porque eles podem manter a circulação do vírus. De vez em quando essas doenças voltam na Europa por causa disso. No caso do Brasil isso não ocorre. Nós temos um dos melhores programas de vacinação.

Já para Kfouri, a escolha pode indicar comodismo, já que atualmente o Brasil está em uma posição confortável quanto à eliminação de algumas doenças, graças à vacinação de grande parte da população.

- É um exercício de não cidadania a meu ver você não proteger seu filho, seu paciente, porque essa pessoa uma vez infectada pode passar a doença para os outros, inclusive porque existem pessoas que não podem ser vacinadas, que é o caso de quem tem câncer e Aids.

Para o presidente da Asbin, também não dá para acreditar que interesses comerciais estariam à frente na distribuição de vacinas no país, já que testes são analisados por cientistas idôneos.

- Claro que existem interesses comerciais das indústrias em vender as vacinas, mas a comunidade científica só vai usar se tiver benefícios. Vale lembrar que elas são testadas em um monte de pessoas, mesmo em crianças e idosos, antes de serem autenticadas. E foi pelas vacinas que várias doenças que matavam milhares de pessoas foram extintas.

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