Gio Mendes - O Estado de S.Paulo
A dona de casa Daiane Francelina da Silva, de 23 anos, mal consegue falar com o atendente do Centro de Operações da Polícia Militar (Copom). Ela está desesperada, pois o filho Kauã Silva Pereira dos Santos, de 1 mês, se engasgou com a própria saliva. O bebê ficou com o rosto roxo porque tem dificuldade para respirar. Do outro lado da linha, o soldado Juvenal Barbosa da Silva, de 25 anos, tenta acalmar Daiane e a orienta como salvar o filho, ao mesmo tempo que envia uma viatura para a casa dela, na Penha, zona leste de São Paulo. Em menos de cinco minutos, Kauã começa a chorar. É um sinal de que está bem.
Cenas como essa são comuns em São Paulo. Por telefone, a PM salva um bebê engasgado a cada dois dias, somente na capital, segundo dados da corporação. “Desde 2010, a PM atende 15 casos desse tipo por mês”, afirma o capitão Cleodato Moisés do Nascimento, porta-voz do Comando de Policiamento da Capital.
Segundo ele, a polícia começou a divulgar as ocorrências de salvamento de bebês engasgados em 2009, quando eram atendidos, em media, 10 casos por mês. “As mães tomaram conhecimento do nosso serviço pela mídia e passaram a ligar mais para o 190”, diz o capitão.
Os atendentes do Copom instruem a solicitante a fazer um procedimento conhecido como manobra de Heimlich. “O atendimento por telefone é muito mais eficaz para garantir a vida da criança do que os pais dela entrarem num carro para ir ao hospital. Cada minuto vale ouro”, observa Moisés.
A convite do Jornal da Tarde, Daiane foi conhecer o Copom na quarta-feira, dia 10, nove dias depois de o soldado Barbosa ter recebido a ligação aflita dela. Ela relembra que ficou descontrolada ao ouvir o marido se lamentar com o estado em que o filho se encontrava. “Meu Deus, não faz isso comigo”, dizia o montador de móveis Jairo Pereira dos Santos, de 29 anos, segurando o filho inerte no colo. “Foi aí que eu entrei em desespero e liguei para a PM, pois já tinha visto esses casos na televisão”, conta a dona de casa. Para mostrar sua gratidão, Daiane convidou o soldado Barbosa para ser padrinho de seu filho. “Fiquei surpreso, pois o reconhecimento sempre vem através de palavras”, diz Barbosa, o futuro padrinho.
Ao contrário de Daiane, a comerciante Gislene da Conceição Saraiva, de 28 anos, estava tranquila quando ligou para o Copom, no dia 17 de julho. O filho Carlos Miguel Saraiva Nascimento tinha dez dias e havia se engasgado durante a amamentação. “Até eu me pergunto como consegui ficar calma. Meu filho estava todo roxo e, antes de ligar na PM, já tinha tentado tirar o leite, mas não adiantou”, conta Gislene, moradora de Guaianases, zona leste.
O soldado Gilberto Lidio da Silva, de 33 anos, diz que o estado emocional da comerciante o ajudou a passar a orientação. “Ela estava super calma e receptiva. A mãe desesperada sempre pega a gente de surpresa, mas somos treinados para lidar em qualquer situação”, diz Silva.
Fonte Estadão
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