Tomar os medicamentos para tuberculose resistente a múltiplas drogas na presença de profissionais de saúde ou parentes que receberam treinamento específico ajuda a evitar o reaparecimento da doença, cujo tratamento dura dois anos.
A constatação está em uma pesquisa que analisou dados de 708 pacientes diagnosticados no Brasil entre janeiro de 2000 e dezembro de 2006 --no país, todos os casos detectados da doença são registrados em um banco de dados mantido pelo Ministério da Saúde.
O estudo foi conduzido pelo Centro de Referência Professor Hélio Fraga, da Fiocruz, em parceria com a MSH (Management Sciences for Health), dos Estados Unidos, e apresentado no final de outubro na 42ª Conferência Mundial sobre Saúde Pulmonar, em Lille, na França.
Do total de pessoas diagnosticadas no período, 402 concluíram o tratamento e foram consideradas curadas. Vinte delas, porém, voltaram a ter a forma resistente da doença em um intervalo de até quatro anos.
A comparação dos dois grupos revelou o fator protetor do tratamento feito sob supervisão de terceiros. Mostrou, ainda, que no Brasil a recidiva da tuberculose resistente é mais comum em mulheres, usuários de drogas e pacientes com a forma mista da doença (ou seja, que atinge os pulmões e outras partes do corpo).
A pesquisa não revela, porém, os fatores biológicos e sociais que podem estar relacionados com a incidência maior nesses grupos.
"O resultado enfatiza a importância do tratamento diretamente observado", diz o médico epidemiologista José Ueleres Braga, do Hélio Fraga. Essa forma de tratamento já é recomendada pela OMS (Organização Mundial de Saúde), mas nem sempre é colocada em prática nos países.
'FISCALIZAÇÃO' POSITIVA
O médico Luís Gustavo Bastos, gerente de projetos da MSH, diz que a falta de supervisão facilita a ocorrência de erros ou da interrupção no tratamento da tuberculose resistente a múltiplas drogas, que, nos primeiros seis meses, conta com injeções diárias e comprimidos. Após esse período, as injeções são interrompidas, mas é necessário continuar o tratamento com pílulas por mais um ano e meio.
Ele explica que, no tratamento observado, o paciente vai diariamente à unidade de saúde ou recebe a visita de profissionais em sua casa. Em outros casos, parentes ou vizinhos são orientados a acompanhar o momento em que a pessoa usa os remédios.
A tuberculose é considerada resistente quando o bacilo que causa a doença resiste a pelo menos duas das principais drogas indicadas para o tratamento padrão da doença.
Nesses casos, é preciso recorrer a medicamentos de segunda linha, mais caros, com mais efeitos colaterais e que precisam ser usados por mais tempo.
Se esse tratamento é malfeito, o paciente pode acabar desenvolvendo resistência também às drogas de segunda linha, ficando com poucas chances de cura.
Em 2010, 1,4 milhão de pessoas morreram de tuberculose em todo o mundo, segundo a OMS.
Fonte Folhaonline
Nenhum comentário:
Postar um comentário