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terça-feira, 8 de novembro de 2011

SP pode perder 3 centros de radioterapia

O déficit no tratamento com radioterapia em São Paulo, que no ano passado deixou desassistidos 7.464 paulistas com indicação para a técnica, pode atingir mais 3 mil pacientes oncológicos da região.

Isso porque três unidades do Estado que atualmente prestam esse tipo de atendimento só têm autorização para funcionar até o próximo mês. Ao todo, no País, 15 serviços isolados de radioterapia podem ser descredenciados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em dezembro, segundo um relatório do Tribunal de Contas da União (TCU) divulgado ontem pelo Jornal da Tarde.

O documento faz uma crítica à Política Nacional de Atenção Oncológica. No Estado paulista, o descredenciamento das três unidades (em Santo André, São José dos Campos e Presidente Prudente), elevaria em 40% o déficit estadual no atendimento em radioterapia. A estimativa é do médico Carlos Manoel Mendonça de Araújo, presidente da Sociedade Brasileira de Radioterapia (SBRT). De acordo com ele, como o Estado já deixou de atender mais de 7 mil pacientes no último ano, se perder três centros serão 10.464 pessoas desassistidas.

Com a medida, o Ministério da Saúde pretende que esses serviços estejam sempre vinculados a hospitais, e não na forma de unidades isoladas, já que a maioria dos tratamentos contra câncer demanda várias modalidades terapêuticas. Procurado pelo JT, o Ministério da Saúde não se pronunciou sobre o descredenciamento dos centros, mas afirmou que uma equipe técnica da pasta analisará o conteúdo do relatório em até 90 dias.

Madrugada
Para dar conta da demanda por radioterapia, alguns centros funcionam 24 horas por dia, com pacientes oncológicos atendidos em plena madrugada, segundo Araújo. Um exemplo é o Núcleo de Amparo a Crianças e Adultos com Câncer (Nacac), de Santos, na Baixada Santista, que tem cerca de 140 pacientes. A assistente social Nadja Waleska Lima Gomes Andrade conta que o serviço funciona ininterruptamente para suprir a demanda da região e evitar longas esperas.

Araújo cita ainda o caso do Hospital de Câncer de Barretos, que atende até meia-noite. O problema, nesse tipo de funcionamento, é o desgaste que a máquina sofre. “Elas não foram projetadas para trabalhar esse período todo, mas existe a pressão de atender todo mundo”, diz o rádio-oncologista do Hospital A.C.Camargo, Ricardo César Fogaroli. A jornada estendida do equipamento, que chega a funcionar o dobro de horas do tempo recomendável, faz com que quebre com mais frequência, lembra o especialista.

A situação do A. C. Camargo mostra o quanto o atendimento oncológico no Estado é desigual. Ali, o paciente do SUS espera no máximo 15 dias para ser atendido. Um deles é o corretor de imóveis Paulo Monteiro Prado, de 65 anos, que tem câncer de laringe. Mas, antes de chegar à instituição, passou quase nove meses à espera de tratamento em Mogi das Cruzes, onde mora.

A criação, em 2008, do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp), que têm seis equipamentos especializados em radioterapia, contribuiu para melhorar a situação do tratamento oncológico em São Paulo. Mas, com o possível descredenciamento de unidades em cidades próximas, a demanda do interior pode migrar para a capital, aumentando novamente a espera na cidade.

Outros Estados
Se a rede pública de São Paulo enfrenta dificuldades na prestação de atendimento oncológico, a situação é ainda mais grave em outros Estados do País.

“Aqui, o paciente passa pela radioterapia quando o tumor já teve mutação e já está apresentando metástase. O paciente já chega com problemas neurológicos e outras complicações. Estamos assistindo às pessoas morrerem antecipadamente”, desabafa Romilza Medrado, que fundou o Núcleo Assistencial para Pessoas com Câncer (Naspec), em Salvador, na Bahia, há 35 anos.

A longa espera pela radioterapia é uma situação vivenciada diariamente ali. Romilza conta que os pacientes que receberam indicação para o tratamento em outubro conseguiram marcar a primeira sessão para fevereiro ou março. “É lamentável, porque há um índice de mortalidade muito grande. Os pacientes do interior são mandados de volta para casa enquanto esperam. Lá, eles não têm oxigênio, curativo ou higiene.”

Romilza conta que o paciente passa por um estresse acentuado com a falta de perspectiva de acesso ao tratamento. “O ponto mais terrível de tudo isso é olhar para cidadão todos os dias e saber que foi negado a ele uma chance de viver ou, pelo menos, de poder morrer com um pouco mais de dignidade”, explica.

“Todos os dias temos aparelhos quebrados, é um desrespeito e uma desumanidade por parte do SUS”, completa Romilza. Segundo ela, dos pacientes atendidos pelo Naspec, 98% não foram diagnosticados precocemente.

Dessa forma, quando o indivíduo volta para fazer o tratamento agendado, ele já tem a saúde muito debilitada. “Muitas vezes, não sobrevive ao procedimento”, constata.

A Sociedade Brasileira de Radioterapia estima que cerca de 60 % dos pacientes oncológicos necessitem passar pelo procedimento. O tratamento costuma ser indicado, sobretudo, para tumores de mama, de próstata e contra neoplasias de cabeça e pescoço.

Fonte Estadão

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