Autores de estudo que resultou em uma versão mais agressiva do H5N1, causador da gripe aviária, anunciam paralisação dos trabalhos por 60 dias. O objetivo é permitir que autoridades entendam melhor a investigação e cheguem a um acordo sobre a forma de divulgá-la
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Uma pesquisa que resultou em uma versão mais agressiva do H5N1, vírus causador da gripe aviária, foi suspensa ontem por 60 dias. Em comunicado, os autores do trabalho afirmaram que a decisão foi voluntária. Segundo os cientistas, a medida foi tomada para que organizações e governos possam discutir possíveis problemas e, principalmente, “achar as melhores soluções para as oportunidades e os desafios que derivam do trabalho”. Desde que veio a público, o estudo tornou-se alvo de acaloradas discussões, pois teme-se que, com a divulgação da íntegra dos trabalhos nas revistas científicas Nature e Science, interessadas em publicar os resultados, a fórmula de fabricação do patógeno possa ser copiada e usada por bioterroristas.
A mutação do vírus, capaz de ser transmitida entre furões — logo, entre mamíferos, o que inclui o homem —, foi criada em setembro do ano passado. A partir de então, cientistas e governantes discutem as possíveis consequências da descoberta. Encabeçado pelos cientistas Ron Fouchier e Ab Osterhaus, do centro médico holandês Erasmus, o estudo precisa ser publicado para que ganhe respaldo na comunidade científica. O Painel Consultivo sobre Biossegurança dos Estados Unidos (NSABB, na sigla em inglês) solicitou, em 20 de dezembro, que a Nature e a Science publicassem apenas uma versão resumida dos estudos, sem detalhes sobre a metodologia científica usada. As duas publicações ainda refletem sobre como e se as pesquisas serão divulgadas. Na ocasião, os editores da Science afirmaram estar preocupados, pois a não veiculação das pesquisas poderia “censurar informação potencialmente importante para a saúde pública”.
A mutação do vírus, capaz de ser transmitida entre furões — logo, entre mamíferos, o que inclui o homem —, foi criada em setembro do ano passado. A partir de então, cientistas e governantes discutem as possíveis consequências da descoberta. Encabeçado pelos cientistas Ron Fouchier e Ab Osterhaus, do centro médico holandês Erasmus, o estudo precisa ser publicado para que ganhe respaldo na comunidade científica. O Painel Consultivo sobre Biossegurança dos Estados Unidos (NSABB, na sigla em inglês) solicitou, em 20 de dezembro, que a Nature e a Science publicassem apenas uma versão resumida dos estudos, sem detalhes sobre a metodologia científica usada. As duas publicações ainda refletem sobre como e se as pesquisas serão divulgadas. Na ocasião, os editores da Science afirmaram estar preocupados, pois a não veiculação das pesquisas poderia “censurar informação potencialmente importante para a saúde pública”.
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Na quinta-feira passada, os pesquisadores chegaram a divulgar uma carta em que defendiam a publicação do trabalho. No comunicado, os cientistas argumentaram que “as recomendações sobre os riscos do vírus HPAI H5N1 causar uma pandemia mundial são baseadas apenas em opiniões, não em fatos”. Ontem, porém, as duas revistas científicas divulgaram um novo comunicado, assinado por 40 especialistas envolvidos, anunciando a suspensão temporária dos estudos.
No texto, os cientistas dizem que a descoberta de que a nova variante do vírus H5N1 é transmissível entre furões é “uma informação crítica que avança nossa compreensão sobre a transmissão da gripe”. Os altos padrões internacionais de biossegurança adotados nos laboratórios, fator que excluiria a possibilidade de reprodução do vírus por qualquer pessoa, foi outro argumento apresentado pelos cientistas.
Novos parâmetros
Os cientistas e as revistas solicitam que seja estabelecido outro mecanismo de divulgação da gripe à sociedade. Agora, o governo americano, com a Organização Mundial da Saúde (OMS) e outros órgãos envolvidos, tenta encontrar qual seria esse novo método, além de estabelecer parâmetros de supervisão internacional para a investigação. Em declaração à Nature, Yoshihiro Kawaoka, da Universidade de Wisconsin Madison e um dos autores do comunicado, afirmou que “os cientistas precisam ter suas vozes ouvidas nesse debate”. O pesquisador disse ainda que a equipe científica envolvida espera que, “com uma discussão calma e racional dos fatos, cientistas e especialistas em biossegurança possam ter um melhor entendimento e descobrir maneiras de viabilizar que a pesquisa evolua enquanto se diminui os riscos”.
Além do bioterrorismo, o que preocupa alguns pesquisadores é que o vírus mutante escape do laboratório e chegue às pessoas, o que poderia causar uma pandemia do H5N1 com consequências imprevisíveis. O estudo é classificado como BSL-3, sigla inglesa para “biosafety level”, medida que leva em conta o nível de precauções de biocontenção necessárias para que agentes biológicos considerados perigosos permaneçam isolados em instalações fechadas. Alguns cientistas defendem, contudo, que pesquisas relacionadas ao vírus mutante devem ser feitas apenas em laboratórios BSL-4, a mais alta classificação de biossegurança existente.
Doença surgiu em 1997
A transmissão direta do vírus H5N1 de uma ave para o homem se deu pela primeira vez em 1997, em Hong Kong. Na ocasião, foram contabilizados 18 casos e seis mortes. Em fevereiro de 2003, também em Hong Kong, houve outros dois casos de gripe aviária. Em dezembro do mesmo ano, uma epidemia da doença atingiu o sudeste asiático, com cerca de 100 casos em quatro países da região. Até 2005, estimava-se que 115 pessoas tinham tido a gripe aviária, com a taxa de letalidade de 52%. Segundo o site do Ministério da Saúde, o principal fator de risco é o contato com aves infectadas, mas os ovos também podem ser fonte de transmissão, uma vez que o vírus permanece na casca por três a quatro dias. As medidas de controle se baseiam no abate das aves infectadas, além do descarte adequado das carcaças contaminadas. As granjas devem ficar em quarentena, para que sejam desinfetadas.
Fonte CorreioBraziliense
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