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sexta-feira, 25 de maio de 2012

Osteoporose é causa líder das 334 fraturas de quadril diárias no País

Pesquisa mostra ainda que, no Brasil, 20% não sobrevivem após a quebra e 45% perdem a independência

Todos os dias, 334 brasileiros sofrem fraturas no quadril e cada um deles dá início a um tratamento que tem custos estimados em R$ 7 mil – valor destinado para sanar as sequelas acarretadas após o tombo.

Os dados fazem parte da primeira auditoria sobre osteoporose, realizada pela International Osteoporosis Foundation (IOF) no Brasil e em outros 13 países latino-americanos.

Segundo o reumatologista Cristiano Zerbini, pesquisador responsável por coletar os dados brasileiros, esta doença que fragiliza a estrutura óssea do organismo é a principal responsável pelo excesso de quebras do fêmur e da bacia.

As mulheres com mais de 50 anos, muitas que nem sabem ser portadoras do problema, são as principais vítimas. “O diagnóstico e a intervenção médica precoce na osteoporose seriam as maneiras mais eficientes de reduzir esta epidemia de fraturas, que é muito grave e vai além da necessidade de imobilização”, disse Zerbini no evento que reuniu médicos de todos os países envolvidos no levantamento na América Latina.

“Os nossos registros – conseguidos por meio da revisão dos 8 principais estudos nacionais sobre osteoporose – mostram que dois em dez pacientes que quebram o fêmur morrem no primeiro ano após o tombo (a maioria exige hospitalização e fica vulnerável às embolias, infecções e sedentarismo) e 45% deles perdem a independência até para tomar banho sozinhos”, completou o especialista.

A fisioterapeuta e diretora executiva da IOF, Judy Stenmark, reforça que este impacto devastador da osteoporose nos pacientes brasileiros foi semelhante ao encontrado em todos os países envolvidos na auditoria (Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Guatemala, México, Nicarágua, Panamá, Peru, Uruguai e Venezuela).

Na avaliação de Judy, de fato, melhorar a rede de atendimento clínico para a população que está cada dia mais velha seria mesmo a forma ideal de prevenção.

Mas a professora aposentada Vera Matilde Magalhães, 83 anos, que há cinco anos descobriu possuir ossos frágeis, evidencia a fragilidade do serviço de saúde.

“Já tinha quebrado o punho, o fêmur, o pé e todos os ortopedistas que passei nunca nem sequer desconfiaram da osteoporose”, diz ela que, apesar dos acidentes, não deixou de ser ativa.

“Até que um dia, quando estava fazendo musculação (Vera adora puxar ferro e fazer ginástica), senti uma dor muito forte na coluna.”

“Nenhum remédio ajudava, até que a quinta doutora que eu visitei, pediu o exame que detectou a doença”, lembra.

“Precisei mudar de vida e fui proibida de fazer mil coisas. Mas como sou um pouquinho desobediente, voltei a fazer metade daquilo que a médica não deixa mais”, diz tentando esconder a bota de salto alto que vestia no dia e falando baixinho ao confessar que ainda faz faxina na casa que mora sozinha em São Paulo – só dois exemplos das 500 desobediências confessadas pela aposentada.

Se os médicos mostraram desconhecimento ao atender Dona Vera, a “bronca” também pode ser estendida aos educadores físicos que trabalham na academia de ginástica frequentada pela aposentada. Nenhum exame clínico ou atestado de saúde foi pedido antes dela começar a musculação.

Sueli Roitman, presidente da Federação Nacionação de Pacientes com Osteoporose (Fenapco) faz o alerta: a atividade física é uma excelente forma de prevenir a saúde dos ossos, mas também é necessária uma cautela maior por parte das academias.

“Não são raros os idosos, cada vez mais ativos, nos contarem que nenhum cuidado com a osteoporose existe por parte dos treinadores.”

Prevenção desde sempre
Capacitar os médicos de todas as especialidades, sensibilizar os olhares dos educadores físicos e ampliar o acesso aos exames que detectam a osteoporose – densitometria óssea é o principal – estão na esteira de cuidados preventivos da doença junto com a melhora dos hábitos de vida, avalia Bruno Muzzi Camargos, ginecologista e presidente da Associação Brasileira de Avaliação da Saúde Óssea (ABraSSo).

“Também é preciso disseminar na população, homens e mulheres, que o passar dos anos aumenta o risco de osteoporose devido a mudança hormonal, assim como o fumo, o hábito de beber álcool, o baixo peso e a obesidade, além do sedentarismo e da influência genética”, explica Camargos.

“A alimentação também é fundamental. Há uma deficiência de cálcio e vitamina D, dois nutrientes essenciais para os ossos saudáveis. Ao mesmo tempo, os pratos têm excesso de sal (sódio), um dos grandes vilões.”

A médica do Centro Especializado do Uruguai, Diana Wiluzanski, acrescenta que a prevenção precisa começar desde cedo. “Osteoporose é uma doença que começa na infância mas só se manifesta anos mais tarde. Os meninos e meninas que só ficam no computador, não comem direito, não tomam sol e não fazem exercícios provavelmente terão problemas no futuro”, diz.

O professor do Instituto de pesquisa Metabólica de Buenos Aires (Argentina), José Zanchetta – um dos responsáveis pela auditoria na América Latina – alerta que caso esta cultura preventiva não seja adotada a projeção é que o número de fraturas no quadril cresça 16% até 2020 e 32% até 2050.

“A queda é um desequilíbrio em toda a vida do idoso. Compromete o bem-estar e impede que eles desfrutem os anos extras que o aumento da expectativa de vida trouxe”, diz.

A aposentada Vera Matilde sabe dos prejuízos da fratura e diz que a principal mudança após saber que tem osteoporose é que, agora, vive com medo de cair.

“Mas mantenho uma dieta adequada, não falho na medicação, vou sempre ao médico. E pago R$ 2 mil reais todo mês pelo medicamento, não coberto pelo plano de saúde e não distribuído pelo governo. É caro. Mas o preço para eu conseguir fazer ginástica e outras desobediências”, brinca.

Fonte iG

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