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domingo, 29 de julho de 2012

Brasil sofre queda na produção de pesquisas médicas

Especialista vê situação com otimismo e acredita que o País pode virar o jogo Após alguns anos marcados pela queda na produção de pesquisas médicas, o Brasil está diante de um momento propício para resgatar sua representatividade mundial neste segmento. O risco de uma crise no setor farmacêutico tem feito grandes companhias revelarem alguns de seus segredos em parcerias com universidades e pequenas empresas que se mostrem sérias e interessadas na produção de conhecimento. Além disso, uma plataforma que promete reunir dados sobre pesquisas clínicas e favorecer a integração de instituições mundo afora está prestes e ser lançada nos Estados Unidos. À frente do projeto, um brasileiro. O pernabucano Fábio Thiers, otorrinolaringologista formado pela Universidade Federal de Pernambuco, tem circulado há mais de uma década pelos corredores de Harvard e do MIT (Massachusetts Institute of Technology), duas importantes instituições de ensino norte-americanas. Hoje, com apenas 36 anos, Thiers já alcançou a direção do programa de pesquisa sobre estratégias para estudos clínicos, projeto desenvolvido pelo Centro de Inovação Biomédica do MIT. O desafio do brasileiro não é pequeno. "Estima-se que existam de 25 mil a 30 mil hospitais no mundo desenvolvendo pesquisas clínicas", afirma. E essas informações podem ter referências na nova plataforma do MIT. Muitas pesquisas envolvem muito dinheiro. Seriam R$ 70 bilhões investidos por ano. Os Estados Unidos concentram 42,2% de todas as pesquisas mundiais. São quase 95 mil estudos, que lhe conferem o título de líder isolado no segmento. O segundo posto é ocupado pela Alemanha, com 13.252 pesquisas em andamento. Isso representa apenas 5,9% do montante mundial, quase um décimo dos estudos realizados pelo primeiro colocado. Em terceiro lugar, aparece a França (3,8%), seguida do Canadá (3,5%) e do Japão (3,4%). O Brasil aparece em 13 lugar, com 3.317 estudos em andamento, segundo levantamento de outubro de 2010. Isso representa 1,5% do montante mundial. País em queda Se comparado aos demais países da América Latina, o Brasil assume a primeira colocação do ranking. Mesmo assim, seu posto pode estar ameaçado. Nos últimos cinco anos, as pesquisas científicas registraram queda média superior a 4% ao ano. As pesquisas clínicas representam um indicador de altíssima importância às ciências médicas. Ele aponta a possibilidade de avanços tecnológicos, qualificação de profissionais da área, integração com o mercado internacional e acesso à tratamentos modernos para a população brasileira. "Podemos ganhar em tudo isso, tendo empregos e empresas de alto nível", afirma Thiers. Para aproveitar o momento oportuno e reverter sua queda na produção científica, o Brasil precisa trabalhar em duas frentes. A primeira delas, segundo Thiers, é com a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), órgão que regula o setor no País. "Eles estão bem intencionados, mas ainda são um órgão novo e pouco aparelhado", avalia. O sistema regulatório brasileiro, para Thiers, precisa ser agilizado. "O prazo regulatório é longo demais por falta de estrutura", afima. A demora na espera por aprovações e autorizações pode comprometer projetos de pesquisa. "Defendo que o setor precise ser observado, não quero o fim disso, mas o processo deve ser feito de forma mais eficiente", avalia. A segunda frente de trabalho seria com a própria imagem das pesquisas clínicas no Brasil. "As pessoas precisam entender o que é uma pesquisa clínica e para que ela serve", diz o médico brasileiro. Em todo o mundo, a opinião pública sobre pesquisas clínicas, especialmente sobre a indústria farmacêutica, sofre com percepções negativas. Segundo médico norte-americano Ken Getz, professor associado da Tufts University, cerca de 80% dos norte-americanos acreditam que participar de estudos clínicos seja como apostar com a própria saúde. "E 25% deles acreditam ainda que a motivação das esquipes de pesquisa seja a ganância", afirma, em entrevista ao iG Saúde. Exemplo disso, na opinião de Thiers, é o uso de placebos em estudos clínicos. Placebos são substâncias inócuas ao organismo, usadas para criar grupos de controle e verificar a real eficácia do princípio ativo. Como muitos grupos de controle são feitos por portadores de doenças, eles correm o risco de ter o tratamento prejudicado por usarem placebo. "Nem todos entendem que pesquisa não é tratamento. Ser voluntário, às vezes, implica em fazer um bem para a humanidade, eventualmente maior do que um bem para a própria pessoa", diz o brasileiro. Salto gigante Agindo nas duas frentes, o Brasil tem chances reais de amplicar sua participação no mercado internacional de pesquisas e inovações médicas. Hoje, o País reúne 320 hospitais que desenvolvem estudos. "Mas 40 ou 50 têm estruturas relevantes. Os demais realizam poucas pesquisas", detalha Thiers. O foco do governo para fomentar o segmento poderia começar justamente nas instituições que já se mostraram interessadas em pesquisas, porém têm pouca estrutura para ganhar notoriedade. "Isso seria um bom começo para alcançar a meta de ser o quinto no ranking mundial em 2020", afirma o médico brasileiro. O plano faz parte da política de desenvolvimento produtivo do Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Thiers observa que o Brasil já tem certas vantagens em pesquisas oncológicas, HIV e doenças tropicais (exceto pela meningite). "Faltam pesquisas sobre doenças psiquiátricas e neurológicas", aponta. Outro aspecto estratégico fundamental, segundo o médico, está na atenção básica à saúde. "Se o acompanhamento básico for melhor realizado, haverá melhorias no diagnóstico precoce de doenças e isso pode aumentar o número de participantes em pesquisas médicas", explica.

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