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sábado, 1 de setembro de 2012

Dor afeta cerca de 40 milhões de brasileiros em diferentes níveis

Saiba quando é preciso procurar um especialista e o que pode ser feito para trazer alívio aos diferentes tipos de dores

Dor. Agonia que todos já passamos. Sensação enfrentada com frequência por cerca de 30% dos brasileiros adultos. No Brasil, cerca de 40 milhões de brasileiros sofrem com ela. Repetidamente. Periodicamente. Para esta parcela, a dor não é sintoma, sinal, aviso: é a própria doença.

São as chamadas dores crônicas.

– Perde a finalidade de alerta ao organismo. Passa a ser considerada doença porque produz incapacidade física, alteração psicológica e social – explica Newton Barros, ex-presidente da Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor (Sbed), membro da associação internacional, que se dedica ao tratamento da dor há 26 anos.

Alguns exemplos são as enxaquecas, sofrimentos de coluna, musculares, provocadas por câncer e outras. Podem ser sintomas de doenças existentes ou – o mais surpreendente – não ter qualquer causa. Então por que o corpo grita aparentemente sem motivo? A explicação pode estar em uma "memória da dor". Tome-se o caso da herpes ou de um câncer curado. Machuca, se trata, mas aquela área continua incomodando. Isso porque o mecanismo de defesa criou um raciocínio que diz que aquele local não pode receber um mínimo toque ou estímulo, pois está mal.

– Há uma hipersensibilização, é uma sequela da doença inicial que já foi tratada – explica Mario Luiz Giublin, um dos fundadores da Sbed, responsável pela Clínica da Dor do Hospital de Clínicas (HC) da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e um dos responsáveis pelo projeto Paraná sem Dor.

Infelizmente, ainda não há medicação que informe o cérebro de que ele está "pensando errado". Então o jeito é cuidar dos efeitos da dor e tentar evitar que ela comece. É tipo diabetes: sempre vai estar ali, mas se pode conviver com as precauções certas. Anti-inflamatório? Analgésico? Automedicação? Não, não e não. O primeiro passo é buscar um clínico geral, médico com especialidade relacionada ao local onde se sente o incômodo ou um centro de referência no tratamento da dor. Lá, poderá ser prescrita uma medicação baseada, entre outros componentes, em analgésico, mas sem anti-inflamatório – o que a maioria dos remédios de farmácia tem e podem desgastar o organismo, deixando de ter o efeito desejado com aumento das doses, segundo Giublin.

Mas nem toda dor precisa de tanto cuidado. As "agudas", por exemplo, são as "comuns". É o aviso do organismo de que algo está errado. Neste momento, vai do bom senso buscar ajuda médica: é claro que você não vai ir ao médico por causa de uma batida num móvel. Como diferenciar, portanto, a dor aguda da crônica?

Para Lúcia Miranda Monteiro dos Santos, chefe do serviço de dor e medicina paliativa do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, é simples de saber quando procurar ajuda:

– Se demora mais que o esperado para passar, a dor é crônica.

Ainda se enquadra caso for contínua, tiver períodos regulares ou crises intermitentes – com duração superior a três meses.

Saiba como diferenciar as dores:

Aguda
O que é? Serve como alerta para o organismo de que algo não está bem. É um sintoma, uma reação.

Como identificar? Dura o tempo "esperado", geralmente menos de três meses, não é contínua ou regular e surge de repente.

Exemplos? Colisão que deixa corpo machucado (como bater em uma porta, por exemplo), pedra nos rins, dor forte no peito que pode indicar um infarto, dificuldade na respiração que pode ser causado por uma pneumonia, entre outros.

Como tratar? Como é o indicador de diversas doenças, não há tratamento único. Para passar, é preciso curar a enfermidade.

Crônica
O que é? Pode ser sintoma de doenças existentes ou – o mais surpreendente – não ter qualquer causa demonstrável em exames. Portanto, ser a própria doença.

Como identificar? Dura mais que do que tempo "esperado". Ainda se enquadra caso for contínua, tiver períodos regulares ou crises intermitentes – com duração superior a três meses.

Exemplos? Dor na coluna, lombar, alguns tipo de dor de cabeça (enxaqueca), dor do câncer, do nervo ciático, entre outros.

Como tratar? Além de medicação prescrita por médico, geralmente com analgésicos, é comum necessitar de antidepressivos também, pois a dor atinge o lado psicológico do paciente, já que o imobiliza ou afeta o cotidiano. É preciso um tratamento não apenas com remédios, mas com uma equipe multidisciplinar que estude todas as causas da dor – psicológicas e físicas.

Efeitos devastadores
Helena Carvalho, 48 anos, sofre de dor de cabeça tensional. De tempos em tempos, ela tem uma crise que a impede de dar aulas. A agonia é tamanha que ela não consegue ver pessoas, escutar ruídos, só quer ficar quieta com a cabeça latejando no quarto. Chegou a ser internada no hospital mais de uma vez. No ano passado, resolveu dar um basta na situação e procurou auxílio médico.

Hoje, Helena toma medicação e faz acompanhamento psicológico para entender os problemas que geralmente desencadeiam uma crise.

– Nas últimas duas vezes, estava relacionado com o trabalho – reflete.

Nos Estados Unidos, um estudo mostrou o impacto da dor crônica no trabalho: 36% dos entrevistados perderam o emprego por causa da dor. E o custo anual para tratamento da dor superou os US$ 200 bilhões por ano. Para o especialista no tema Newton Barros, a dor impossibilita a pessoa de manter pequenos hábitos, por deixá-la mais frustrada:

– Por exemplo, se tenho dor na coluna não posso me abaixar direito ou amarrar o sapato. Então não quero ir a determinados locais, tenho receio de aceitar convites, ir ao cinema... a situação toda favorece um isolamento social, que pode gerar depressão e, assim, afetar o lado psicológico também.

Tratamento paliativo
Nas segundas e sextas-feiras, do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, os pacientes têm grandes expectativas: anseiam tanto pela cura como qualquer um que busca o alívio no prédio de paredes claras. Porém, eles não a encontram. Para eles, não há mais saída para o câncer.

Se a ciência, do alto de todo saber, ainda não descobriu como curá-los, a mesma ciência procura reconfortá-los da melhor maneira possível.

Nos cuidados paliativos, a dor crônica, que ataca os pulmões de Margarida*, é tratada com remédios, atendimentos de diversas especialidades médicas e um ingrediente especial: carinho.

– Aquele ali ó, aquele ali é meu amorzinho – diz, referindo-se ao médico que lhe atendia meia hora antes.

Margarida, 67 anos, não fala em morte, nem se queixa das dores "que passam com esses comprimidinhos". Para ela, o pior são os machucados internos, os sentimentos mal resolvidos entre a família. Safira*, outra paciente, também não se comove com as dores da metástase que atingiu a coluna. Só embaça os olhos quando fala do filho "fonte da minha força, porque se não fosse por ele eu não estaria aqui". O garoto de 10 anos não sabe da condição da mãe.

– Melhor assim. Quando eu tratei do meu primeiro câncer, e ele sabia, as notas baixaram muito na escola e ele chegou pra mim e perguntou: "Mãe, tu vai morrer?". Eu não sei qual é meu destino, mas eu imploro a Deus: Agora, não. Daqui a uns 10 anos pode ser, mas agora, não!

No tratamento da dor crônica, já é aconselhável o uso de várias especialidades em conjunto para chegar no melhor diagnóstico. Como nos cuidados paliativos a cura não é possível, é importante que a gama de profissionais consiga dar o maior conforto possível do lado físico, emocional e espiritual.

Fonte Zero Hora

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