Solidão crônica está associada a problemas de pressão arterial alta, doença
cardíaca coronária, diminuição da resposta imunológica, depressão, dificuldades
de sono, declínio cognitivo e demência
Morremos sozinhos, dizem os filósofos. Mas podemos morrer mais cedo se
passarmos a vida sozinhos. Vínculos próximos com amigos e familiares podem
afastar problemas de saúde e uma morte prematura, sugerem pesquisas
recentes.
A solidão é um fator de risco quanto ao declínio funcional e à morte
prematura em adultos que têm mais 60 anos, de acordo com uma pesquisa da
Universidade da Califórnia, em São Francisco, publicada em julho. Mais de 43%
dos 1.604 participantes do estudo, que durou seis anos, relataram que se sentiam
excluídos, isolados e sem companhia com frequência. A maioria das pessoas
solitárias (62,5%) era casada ou não morava sozinha — uma indicação de que se
sentir solitário e estar sozinho não são a mesma coisa.
— Não é a quantidade, mas a qualidade de seus relacionamentos que importa —
diz a geriatra Carla Perissinotto, que liderou o estudo.
A pesquisa não investigou por que as pessoas diziam se sentir solitárias. A
solidão é biológica? Ou ela é socialmente mediada? Quais são os mecanismos em
jogo? De quais intervenções práticas poderíamos nos utilizar? Para Carla, esse
precisa ser o próximo passo da pesquisa.
— Os efeitos da solidão para a saúde não devem ser ignorados. As pessoas
solitárias não têm a iniciativa de conversar com um médico ou com os filhos. E
se elas não conversarem com ninguém a respeito, ninguém vai tomar conhecimento —
alerta.
Outras pesquisas descobriram que a solidão crônica está associada a problemas
de pressão arterial alta, doença cardíaca coronária, diminuição da resposta
imunológica, depressão, dificuldades de sono, declínio cognitivo e demência.
— Até o momento, os pesquisadores ainda não compreenderam o modo como a
solidão prejudica a saúde e acelera o envelhecimento — diz a psicóloga Louise
Hawkley, da Universidade de Chicago.
As pessoas cronicamente solitárias, estimadas em 20% da população em geral e
até 40% dos adultos com mais de 65 anos, podem ter problemas por causa da
maneira como concebem as outras pessoas, conforme Louise.
— Em vez de procurar por sinais de aceitação vindos dos outros, as pessoas
solitárias ficam em alerta procurando por sinais de rejeição — diz a
psicóloga.
Segundo ela, a terapia cognitiva comportamental focada na identificação e
reformulação de pensamentos sociais negativos pode ajudar as pessoas que têm um
senso de isolamento social.
É preciso aprender a renovar as amizades
Mudanças de endereço, doenças e a aposentadoria são eventos comuns na vida da
população de meia-idade, exigindo um esforço consciente para reconstruir uma
rede social, comenta o psiquiatra George Vaillant, professor da Escola de
Medicina de Harvard.
— Da mesma forma que nos exercitamos, pagamos impostos e mantemos uma
alimentação saudável, precisamos começar a substituir os amigos assim que os
perdemos, particularmente quando chega a época da aposentadoria — recomenda
Vaillant, autor do livro "Triumphs of Experience: The Men of the Harvard Grant
Study" ("Triunfos da Experiência: O Homens do Grant Study de Harvard"), baseado
em uma das maiores pesquisas sobre o envelhecimento já realizadas no mundo.
Iniciada em 1938, a pesquisa monitorou a saúde física e emocional de 268
alunos de Harvard. O estudo mostra que os relacionamentos são o segredo do
envelhecimento saudável. Vaillant aconselha a cultivar amizades com pessoas mais
jovens por conta de sua energia e do frescor de sua visão de mundo.
— É preciso se interessar em alguém diferente de si mesmo. É por isso que o
voluntariado é tão importante, é a única maneira de parar de pensar no seu
próprio, único e maravilhoso ego é pensar nos outros — ensina.
O egocentrismo não foi problema para o bibliotecário Richard Anderson, 67
anos. Ele se tornou voluntário da Associação Well Spouse, um grupo de apoio,
depois de muito tempo sendo o principal cuidador de sua esposa, que morreu em
2004, após décadas sofrendo de uma enfermidade debilitante. Cuidando da esposa,
Anderson descobriu que as próprias doenças podem provocar isolamento.
— À medida que uma doença avança, os amigos passam a ter mais dificuldade de
se relacionar conosco. E se não há possibilidade de cura, algumas pessoas não
conseguem lidar com isso e se afastam — conta.
Depois de entrar no grupo, ele conheceu cuidadores de cônjuges com quem
manteve contato.
— Mesmo que percamos amigos antigos durante uma doença, ainda é possível
fazer novos amigos que vão aceitar a nossa situação pelo que ela é — revela
Anderson, que veio a se casar novamente.
Fonte The New York Times
Por Zero Hora
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