Rio - 'O meu prazer, agora é risco de vida’. Os versos de Cazuza, gravados em 1988, referiam-se à Aids que, àquela época, causava medo e tornava as relações sexuais atividade de risco.
A situação é de tal gravidade que o problema passou a ser colocado no mesmo patamar da dependência de tabaco, álcool e outras drogas. E será incluído como mais uma doença na próxima Classificação Psiquiátrica do país, que será divulgada no ano que vem.
No Brasil, as estatísticas não são tão precisas, mas é sabido que o problema cresce, principalmente em adolescentes e jovens. A psiquiatra Analice Gigliotti, chefe do Programa de Álcool e Drogas da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro, alerta para o aumento contínuo dos que precisam de tratamento contra o vício.
Segundo ela, estudos indicam semelhanças entre a compulsão por jogos eletrônicos e por Internet e dependência de drogas e álcool. E explica: nos dois casos, são ativadas áreas do cérebro ligadas à sensação de prazer.
Mas nem sempre é fácil identificar o momento dessa passagem. Como o problema afeta cada vez mais crianças e, principalmente, adolescentes, Analice ressalta que cabe aos pais e parentes mais próximos estarem atentos aos sinais de que há algo errado. “Quando a criança ou adolescente deixa de fazer outras coisas, de dormir, sair, jogar futebol etc, para ficar preso no computador, os pais devem se preocupar.”
Geralmente, isso basta para contornar o problema. Mas, se a criança ou adolescente apresentar outros sinais ou sintomas e reagir com agressividade e não conseguir se controlar, é hora de procurar um especialista.
Analice explica que o tratamento é feito caso a caso e pode incluir terapia comportamental, uso de remédio e, em caos extremos, exigir um período de internação.
Fatores genéticos, psicológicos e sociais determinam a propensão a criar dependência
Há vários fatores para o desenvolvimento do vício, como genéticos — filhos de depressivos são mais propensos, por exemplo. Da mesma forma, crianças e adolescentes que não recebem atenção e carinho dos pais ficam mais vulneráveis. “Metade da pré-disposição é genética. A outra metade depende das relações familiares e sociais”, explica a psiquiatra Analice Gigliotti.
O tratamento de dependentes, como o de outros viciados, é feito por psiquiatra e uma equipe multidisciplinar. No Rio de Janeiro, é possível ter acesso a serviço especializado de graça ou a preço simbólico na Santa Casa de Misericórdia.
A psicóloga Viviane Fukugawa, uma das voluntárias da equipe, explica que o atendimento é oferecido a adolescentes a partir de 16 anos. Segundo ela, o perfil dominante dos pacientes é dos que começaram crianças jogando em videogames e evoluíram para a dependência a partir de jogos em grupo, pela Internet.
Na Santa Casa, o tratamento inclui a familiais. Há um grupo de orientação para os pais e outro para os dependentes. A equipe conta psicólogos, terapeutas da família e psiquiatras. Os interessados devem ligar para 2221-4896 e relatar o problema para entrar na lista de atendimento
Sinais de alerta
Retraimento
O adolescente abre mão do convívio com a família e colegas, deixa de ir ao cinema, sair em grupo, praticar esportes, etc, para ficar jogando ou conectado à Internet.
Descontrole do sono
O menino ou menina passa a dormir cada vez menos, fica até a madrugada conectado e, em consequência, apresenta sinais de cansaço, mas repete a rotina.
Rendimento escolar
O desempenho ruim nas tarefas escolares e notas baixas são evidências de que a permanência por períodos longos jogando ou conectado está prejudicando.
Agressividade
Reações agressivas, irritabilidade, ansiedade e reações desproporcionais quando impedidos de jogar ou ter acesso à Internet são sinais de que é hora de procurar um especialista.
Fonte O Dia
Nenhum comentário:
Postar um comentário