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quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Entenda os riscos do alto consumo de bebidas alcoólicas no verão

Excessos comuns na estação podem trazer sérios danos à saúde. Aprenda como evitá-los sem deixar de curtir o veraneio
 
Churrasco na piscina, gente bonita na beira da praia, happy hour com os colegas de trabalho depois do expediente. Razões não faltam para tornar o verão a temporada ideal para se divertir — e beber — com os amigos.
 
Mas o ritmo intenso de consumo de bebidas alcoólicas pode trazer consequências para o resto da vida, se o descontrole levar à descoberta de um quadro de alcoolismo. Como não há meios objetivos para saber quem é ou não sujeito à dependência, a recomendação dos médicos é para que todos moderem.
 
— O indivíduo corre o risco de complicações mesmo bebendo pouco ou raramente — adverte o psiquiatra Arthur Guerra, chefe do Grupo de Estudos em Álcool e Drogas (Grea) da Universidade de São Paulo (USP) e presidente executivo da ONG Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (Cisa).
 
É por isso que, apesar de a Organização Mundial da Saúde (OMS) estabelecer doses mínimas recomendadas para o consumo de álcool (veja abaixo), os especialistas preferem não se ater nem à quantidade nem à frequência do consumo, levando em conta que os efeitos são variáveis conforme o perfil de cada um.
 
De acordo com Guerra, três são os principais fatores de risco: genético, quando a pessoa tem mais enzimas capazes de metabolizar o álcool e, portanto, mais facilidade para ter prazer ao beber, convite para o excesso; psicológico, quando o álcool é usado como anestésico ou como uma droga antidepressiva; e social, quando a bebida é instrumento para aceitação dentro de um grupo de amigos.
 
O sinal de alerta é quando o uso de álcool chama a atenção, aponta o psiquiatra Carlos Salgado, membro da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas (Abead), que atua na Associação para o Incentivo à Pesquisa em Álcool e outras Drogas (Fipad) no Hospital Mãe de Deus.
 
— Pode ser pela quantidade, pelo padrão frequente de uso, porque fica muito alterado ou, se a pessoa tem um histórico familiar pesado de alcoolismo, chama atenção que ele esteja se sujeitando ao risco também — comenta Salgado.
 
Na dúvida, é melhor manter o controle. Uma dica do psiquiatra é premeditar aquilo que se pretende beber antes de sair de casa.
 
— Se a pessoa for surpreendida excedendo aquilo que ela combinou com ela mesma, é um alerta. Se ela excedeu muito o limite, sente que foi difícil parar de beber, alerta geral — destaca Salgado.
 
Maior risco de desnutrição e insolação
O prejuízo imediato do excesso de álcool no organismo é caraterizado por desconforto abdominal, dor de cabeça e nas articulações, inchaços no rosto e nos membros. Dor na boca do estômago, azia, náuseas e vômitos podem ocorrer pela inflamação aguda gástrica, chamada de gastrite alcoólica. Mas um dos mais prejudicados é o fígado.
 
— São bastante conhecidas as inflamações progressivas e severas provocadas pelo alcoolismo crônico sobre o fígado, cujo estado avançado pode ser a cirrose, até hoje incurável e sujeita ao difícil transplante hepático — afirma o gastroenterologista Cláudio Wolff.
 
Quem já tem alguma doença prévia do fígado e do pâncreas pode sofrer uma piora aguda. De acordo com o médico, a pancreatite crônica alcoólica não é rara e pode causar episódios recorrentes de dor abdominal intensa, formação de cistos e diarreia. Isso ocorre pela produção insuficiente dos fermentos digestivos básicos ao aproveitamento dos alimentos.
 
A nutricionista Michelle Troitinho, do Kurotel Centro de Longevidade e Spa, reforça que o álcool sobrecarrega o metabolismo e pode gerar excesso de ferritina, marcador inflamatório que gera intoxicação hepática. No verão, o risco de desnutrição é ainda maior e aumenta a procura por dietas de desintoxicação para amenizar os exageros das férias.
 
— O calor aumenta a retenção de líquidos, e o álcool sobrecarrega o metabolismo. O consumo excessivo pode causar hipoglicemia e levar a desmaios ou até à perda de consciência — diz Michelle.
 
Outro impacto nocivo da associação entre bebida alcoólica e exposição solar é para a pele. Além da insolação pela falta de proteção adequada, a pelagra, uma doença cutânea pouco conhecida, tem como um dos motivos principais a ingestão crônica de álcool.
 
— Quem consome bebidas em excesso e vai ao sol tem uma reação forte na pele, com avermelhamento, inchaço, ardência e bolhas nas áreas que ficam expostas — descreve o dermatologista Sérgio Dornelles.
 
Evitar o excesso de bebidas alcóolicas na beira da praia, ter uma alimentação balanceada e fugir do sol entre as 10h e 16h são dicas de prevenção simples, mas altamente eficazes.
 
Mentes e corpos mais vulneráveis
A longo prazo, o consumo frequente e exacerbado do álcool está associado ao maior risco de câncer. Conforme o Instituto Nacional do Câncer (Inca), estudos de caso no Brasil mostram associação epidemiológica entre álcool e tumores da cavidade bucal e de esôfago. O Inca aponta, ainda, que o uso combinado de álcool e tabaco aumenta o risco de câncer nessas e em outras localizações, como a faringe e a laringe.
 
Para especialistas em dependência química, como o psiquiatra Carlos Salgado, a combinação de vícios, como bebida e cigarro, é comum. Entre os jovens, o quadro se agrava pela atratividade de drogas ilícitas nas ocasiões de consumo, como maconha, cocaína e ecstasy.
 
— Os jovens começam pelas lícitas e lá adiante vão ter contato com as ilícitas, eventualmente até pelo efeito do álcool — alerta o psiquiatra.
 
Tabaco e álcool são facilitadores para outros vícios pelas vertentes do ponto de vista fisiológico e também sociológico, segundo Salgado. Como o cérebro jovem tem a parte frontal, que é a área da tomada de decisão, imatura, sob o efeito do álcool, ele toma decisões que não tomaria se estivesse sóbrio. Do ponto de vista sociológico, existe a pressão dos amigos.
 
— Se alguém oferece um baseado ou uma carreira de cocaína, e o jovem está sob o efeito do álcool, todo o clima já torna mais difícil ter uma decisão sensata — ilustra Salgado.
 
Saber o estreito limite entre a diversão e o vício ainda é uma prova de fogo para muitos.
 
Sinais de alerta de quem está abusando
Para o psiquiatra Arthur Guerra, a pessoa passou do limite quando há prejuízos para si ou para o entorno, podendo ser de diferentes ordens.
 
Física: é o caso de quem dirige depois de beber e provoca um acidente, por exemplo. Estima-se que metade das mortes em acidentes de trânsito, todos os anos, sejam provocadas por motoristas embriagados. A nova Lei Seca dobrou o valor da multa por dirigir sob efeito da bebida alcoólica.
 
Orgânica: quando há consequências para o corpo, como a cirrose. Cerca de 3,5 mil novos casos de cirrose são diagnosticados anualmente no Brasil, sendo que entre 50% e 80% dos casos há relação com o alcoolismo, segundo a bibliografia médica.
 
Familiar: quando o convívio doméstico é abalado pelo consumo de álcool, causando discussões e até agressões. Uma pesquisa do Ibope de 2006 mostra que homens agridem mulheres sobretudo após o consumo de álcool, segundo 83% dos entrevistados.
 
Psicológica: quando a bebida é usada como uma "muleta" para dar sono, driblar a depressão, etc. De acordo com uma pesquisa feita em 2011 pelo instituto Isma-BR, especializado em estudos de estresse e qualidade de vida, 48% dos entrevistados recorrem a bebidas alcoólicas quando se sentem estressados.
 
Profissional: quando o rendimento piora no trabalho por causa da bebida. Segundo cálculos do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), o Brasil perde por ano US$ 19 bilhões com o absenteísmo, acidentes e enfermidades causadas pelo uso do álcool e outras drogas.
 
Preste atenção
 
- A OMS estabelece que o consumo aceitável de álcool é de até duas doses por dia para homens e uma dose por dia para mulheres. Ambos não devem beber por pelo menos dois dias na semana.
 
- Uma dose padrão de bebida alcoólica equivale a 350ml de cerveja, 150ml de vinho ou 50ml de destilado.
 
- O uso do álcool não é recomendado, nem em pequenas quantidades, para grávidas, motoristas, pessoas em uso de medicações, pessoas com condições clínicas que podem ser pioradas pelo álcool (hipertensão e diabetes), alcoolistas em recuperação e menores de 18 anos.
 
- Diabéticos devem estar ainda mais atentos à caipirinha, pois a bebida leva bastante açúcar.
 
Táticas para não exagerar na dose
 
1. Comece por bebidas não alcoólicas e se alimente antes de beber.
 
2. Evite o destilado, mesmo que disfarçado na forma da caipirinha.
 
3. Ao longo do consumo, alterne a bebida com outros líquidos não alcoólicos.
 
4. Deixe o carro em casa.
 
5. Beba em grupo, pois assim um acaba controlando o outro.
 
6. No dia seguinte, beba suco de melancia, que é diurética, com gengibre, que tem ação antioxidante. Suco de tomate, rico em vitamina C, também com ação antioxidante, é outra boa opção.
 
7. Ao invés de carne vermelha, entre no clima litorâneo e coma peixe (grelhado ou ensopado), mais leve e mais nutritivo.
 
Fonte Zero Hora

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