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segunda-feira, 4 de março de 2013

Especialista defende a criação de pelo menos seis bancos de pele no Brasil

Rio de Janeiro - O Brasil deveria ter, no mínimo, seis bancos de pele distribuídos em todo o seu território, “mas o adequado mesmo seriam dez”. A opinião é do médico Marcelo Borges, responsável técnico pelo banco de pele do Recife (PE). Em entrevista à Agência Brasil ele disse que atualmente, existem três unidades no país: no Recife, em São Paulo e em Porto Alegre.
 
Para Borges, a cidade do Rio de Janeiro deveria fazer parte desse processo de expansão, já que a população da região justifica a criação de um banco de pele. “Vejo com muito bons olhos toda e qualquer iniciativa que faça com que a cidade passe a ter também um banco de pele”.
 
Marcelo Borges comentou a dificuldade que existe no país para a captação de pele depois do óbito do doador. “É uma questão cultural”, indicou. Segundo ele, a sociedade ainda interpreta a retirada de pele como uma mutilação do doador e isso não é verdade.
 
Para a retirada da pele é usado um equipamento cirúrgico especial, de forma que ela se apresenta em longas lâminas muito finas, com espessura de cerca de 1 milímetro. Essas lâminas são retiradas de áreas estrategicamente selecionadas, como a região das costas, coxas anteriores e posteriores e pernas posteriores. “De tal forma que, retirando-se nessas condições e nessas localidades, não há nenhum constrangimento, porque essas áreas não serão visíveis nos doadores”.
 
A melhor idade para a captação de pele em crianças é acima dos 10 anos e nos adultos até os 60 anos. Acima dessa faixa etária, a pele não tem a elasticidade necessária, disse à Agência Brasil a chefe do Centro de Tratamento de Queimados (CTQ) do Hospital Municipal Souza Aguiar, Maria Cristina Serra.
 
Para que possa haver a captação, é preciso que o doador não tenha doenças contagiosas como aids e hepatite. A morte por qualquer infecção anula a possibilidade de doação de órgãos, inclusive de pele, que é o maior órgão do corpo. “Tem que seguir um protocolo de banco de sangue, que é regido por lei federal”.
 
Em geral, o doador de pele é uma pessoa que teve um trauma, ou seja, uma morte por acidente de carro, por exemplo. “É o mesmo doador que vai doar coração, rim”, observou Maria Cristina. Marcelo Borges acrescentou que o modelo usado no Brasil para definir o momento da retirada de órgãos é o diagnóstico de morte encefálica (morte cerebral).
 
Os chamados órgãos quentes, como coração, rins e fígado, têm prioridade na captação. A pele é retirada no momento imediatamente posterior à captação da córnea e anterior à captação de ossos. A médica destacou que é preciso organizar primeiro a captação de pele no Rio e isso pode ser feito nas grandes emergências dos hospitais públicos da cidade. A pele captada necessita de espaço apropriado para ser estocada, com equipamentos específicos, comuns nos bancos de pele.
 
Por ocasião do incêndio na Boate Kiss no município de Santa Maria (RS), que completou um mês, o banco do Recife doou 2.500 centímetros quadrados de pele. Essa quantidade de material foi suficiente para tratar dois pacientes queimados na tragédia. A dificuldade na captação impediu que a doação fosse maior. “Nós zeramos o nosso estoque naquele momento”, revelou Marcelo Borges. Agora, o banco tem 2 mil centímetros quadrados de pele como reserva técnica.
 
O estoque mínimo do banco de pele de Recife deveria ser 3 mil centímetros quadrados por mês. “Significaria em média duas doações/mês. Estamos ainda com 50% dessa cota”. Hoje, o banco de Pernambuco trabalha com uma doação mensal. o que é considerado muito pouco pelos especialistas.
 
O banco de São Paulo está trabalhando com uma média de quatro doações por mês. Borges deixou claro que tanto São Paulo como Recife e Porto Alegre ainda têm um número bem abaixo das demandas mínimas em termos de doação. “Isso é um processo de modificação de conceito na sociedade brasileira como um todo”.
 
Borges revelou que a Europa é bem abastecida pelo Banco de Pele Internacional, sediado na Holanda. O mesmo acontece nos Estados Unidos, que contam com uma rede de dez bancos de pele. Para ele, o Brasil ainda tem um longo caminho a percorrer nessa área.
 
Segundo Borges, caso a criação do banco de pele do Rio de Janeiro venha a se tornar realidade, a unidade deveria começar com pelo menos duas doações por mês. “Porque a população do Rio de Janeiro é três a quatro vezes maior que a do Recife e região metropolitana”.
 
Fonte Agência Brasil

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