Foto: Rafaela Martins / Agencia RBS Quantidade de proteína considerada ideal ainda é um tema bastante controverso |
Aquele bife grelhado aparentemente inofensivo pode ser tão mortal quanto um cigarro. Um novo e amplo estudo acompanhou adultos por quase duas décadas e revelou que uma dieta rica em proteínas animais durante a meia idade pode quadruplicar as chances de morrer de câncer, um risco comparável ao do fumo.
Além do maior risco de morte por câncer, as pessoas de meia idade que consomem uma grande quantidade de proteína animal — incluindo carne, leite e queijo — também são mais suscetíveis a morte precoce em geral, revela o estudo publicado na "Cell Metabolism". Elas também são muito mais propensas a morrer de diabetes.
— A grande maioria dos americanos poderia diminuir seu consumo de proteína. A melhor mudança a se fazer seria reduzir a ingestão diária de proteínas, sobretudo as derivadas de animais — afirma um dos coautores do estudo, Valter Longo, professor de gerontologia da Universidade do Sudeste da Califórnia e diretor do Instituto da Longevidade.
Mesmo quem come uma quantidade moderada de proteína apresenta um risco três vezes maior de morrer de câncer do que aqueles que comem pouca proteína, revela o estudo. De forma geral, pequenas reduções na quantidade de proteína ingerida diariamente podem reduzir o risco de mortalidade precoce em 21%.
Mas a quantidade de proteína considerada ideal ainda é um tema bastante controverso, especialmente pela popularidade de dietas ricas em proteínas como a paleolítica e a Atkins. Embora, a curto prazo, essas dietas funcionem, segundo Longo, elas podem estar levando a uma deterioração da saúde a médio e longo prazo.
No estudo, os cientistas definem uma dieta "rica em proteína" como aquela em que pelo menos 20% das calorias ingeridas provêm de proteínas. A alimentação pobre em proteína teria menos de 10%. O ideal, diz o cientista, seria seguir as recomendações das principais agências de saúde do mundo e consumir cerca de 0,8 grama de proteína por quilo de seu peso total por dia — algo como 55 gramas para uma pessoa de cerca de 70 quilos.
De acordo com Longo, o problema é que um número crescente de pessoas em nações desenvolvidas e em desenvolvimento come duas ou três vezes mais do que isso, sendo que boa parte vem de proteína animal e não de vegetal, como sementes, feijões e castanhas. Os pesquisadores descobriram que as proteínas de origem vegetal não têm o mesmo efeito sobre a mortalidade que as proteínas animais. O risco de câncer e morte precoce também não parece ser alterado por dietas pobres em carboidrato ou gorduras, indicando que a proteína animal é mesmo a maior culpada.
— Quase todo mundo vai ter uma célula cancerosa ou celular pré-cancerosa em algum momento da vida. A pergunta é: será que ela vai progredir? Um dos principais fatores para determinar se isso vai acontecer ou não é a ingestão de proteínas — disse Longo.
Necessidades diferentes ao longo da vida
Mas as recomendações não valem para todas as fases da vida. Diferente do que fazem muitos estudos, que consideram a vida adulta como um período único, a pesquisa de Longo examinou mais de perto as mudanças que ocorrem em nosso organismo à medida que envelhecemos. Estudando dados sobre o consumo de proteína ao longo de muitos anos, os cientistas concluíram que o que é bom para uma faixa etária pode ser ruim para outra.
Isso porque a proteína controla o hormônio do crescimento IGF -I, que ajuda o nosso corpo a crescer e tem sido associado ao risco de câncer. Os níveis de IGF -I caem drasticamente após os 65 anos, causando fragilidade e perda de massa muscular. Segundo o estudo, apesar da proteína ser muito prejudicial durante a meia idade, ela é protetora para os mais velhos e os torna menos suscetíveis ao câncer.
— A pesquisa mostra que uma dieta com pouca proteína na meia idade é útil para prevenir o câncer e a mortalidade em geral, pois regula o IGF-I e, possivelmente, os níveis de insulina. No entanto, nós também propomos que em idades mais avançadas o seu consumo pode ser importante para manter um peso saudável e proteger da fragilidade — afirma outra coautora do estudo, Eileen Crimmins.
Zero Hora
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