Reprodução O nível de estresse tem ficado mais exacerbado em função de todas as pressões e demandas que as crianças têm enfrentado no dia a dia |
Nervosismo, dores e tonturas são sinais de que a rotina precisa ser alterada
Por dois anos a pequena Luiza, 5 viveu em ritmo de gente grande com uma agenda superlotada de atividades entre ginástica artística, inglês, natação e a escola. Porém, os inúmeros compromissos dignos de uma “mini executiva” a levaram a ter pesadelos e a se sentir cansada.
Essas são apenas algumas das consequências emocionais do estresse tóxico – a doença infantil do século XXI –, que também costuma ter como sintomas o nervosismo, medos, irritação, impaciência, tontura, vômito, dor de barriga, cefaleia e uma série de outros indícios que podem passar facilmente despercebidos pelos pais.
Um estudo realizado com 220 crianças pela Isma-BR – International Stress Management Association, organização presente em 12 países e que trabalha a prevenção e o tratamento do estresse – revelou que oito em cada dez crianças (entre 7 e 12 anos) têm manifestações psicossomáticas e apresentam problemas de alteração de comportamento sem causa clínica determinável.
“O nível de estresse tem ficado mais exacerbado em função de todas as pressões e demandas que as crianças têm enfrentado no dia a dia. Por serem muito vulneráveis e não terem a maturidade de um adulto, elas terminam absorvendo muito essa carga negativa”, explica a presidente do Isma-BR, Ana Maria Rossi.
Foi por estar atenta e sempre presente na vida da filha que a psicóloga e mãe da Luiza, Yvana Aires, 33, conseguiu agir antes que os sintomas se transformassem em problema mais grave. “Ela só tinha a sexta-feira livre e começou a se queixar de dor de cabeça e cansaço. Percebi que eu queria que ela voltasse a ser aquela menina feliz e tranquila. E isso aconteceu imediatamente após optarmos por tirá-la de algumas atividades”, conta.
Problemas
O estresse é uma situação a que todas pessoas são submetidas em maior ou menor grau. Segundo o pediatra Ricardo Halpern, cada faixa etária da criança tem um nível de estresse compatível com o tamanho dos problemas, seja a adaptação na escola ou o vestibular, por exemplo.
“O estresse mínimo é aquele que, passado o evento, as coisas voltam ao normal. Outro um pouco mais intenso ocorre quando a criança passa por situações novas sem nenhuma dificuldade porque tem suporte familiar. E tem o estresse tóxico, que é essa forma mais intensa e permanente que afeta o comportamento da criança e até a arquitetura do cérebro”, afirma o presidente do Departamento de Pediatria do Comportamento e Desenvolvimento, da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).
Segundo Halpern, é importante buscar ajuda porque o estresse pode causar “doenças de adultos”, como alterações cardiovasculares, diabetes e transtornos de ansiedade, em crianças. Percebendo o que aconteceu com a irmã, a advogada Ysabela Aires, 31, diz que preserva os momentos de fantasia das filhas de 3 e 6 anos. “Não acho necessário que com essa idade elas façam tantas atividades, embora veja que quase todos os colegas da escola fazem. Esse tempo de criança passa muito rápido para ficarmos cobrando tanto”, diz a responsável pelo portal Para Crianças BH.
Números
- 80% das criançastêm algum sintoma de estresse infantil
- 220 crianças foram entrevistadas pela Isma-BR na pesquisa
O Tempo
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