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quinta-feira, 8 de maio de 2014

Discurso da revolução sexual do idoso é exagerado, afirma antropóloga

Antoninho Perri – Ascom – Unicamp.
Professora de Antropologia da Unicamp, Guita Grin Debert
pesquisou sexualidade dos idosos
Guita Grin Debert entrevistou idosos e percebeu que vida sexual ativa - presencial ou virtual - é coisa para os velhos do futuro
 
O mito da velhice assexuada caiu por terra e, cada vez mais, seja na rua, na novela, ou na publicidade está estampado o namoro de idosos. A antropóloga Guita Grin Debert analisou o discurso que constrói a sexualidade como fator de qualidade de vida na velhice . Paralelamente, ela entrevistou idosos que participavam de grupos de convivência. A conclusão? Embora a velhice não suprima a sexualidade, o dia a dia dos idosos da vida real não coincide com essa sexualidade ativa que se vê na televisão.
 
Leia abaixo a entrevista:
 
iG: Por que há ainda tanto tabu em relação ao sexo na velhice?
Guita Grin Debert: Atualmente ele já diminuiu bem. Mas, antigamente, prevalecia uma ideia de que a partir de uma certa idade se extinguia a sexualidade. A boa velhice era aquela em que a atividade sexual não estava presente, era a velhice com dignidade.
 
Quando os médicos falavam de sexualidade na velhice era uma coisa mais de charlatanismo. O velho era aquela pessoa que estava meio gagá e ficava com uma sexualidade desvairada. Hoje as coisas mudaram. A sexualidade é vista como uma coisa positiva. Ela não se extingue com o avanço da idade. Pelo contrário: é um indicador de boa saúde, de qualidade de vida.
 
iG: A senhora pesquisou tanto a literatura médica quanto entrevistou idosos. Esses dois discursos estão em compasso?
Guita: Pois é. Existe o discurso de que a sexualidade não se extingue na velhice, mas não quer dizer que os velhos que eu entrevistei concordam com isso. Os homens ainda estão muito voltados para dizer que não são velhos porque a função erétil está em bom funcionamento.
 
Eles ainda apostam nisso. Já as mulheres, muitas delas disseram “ainda bem que eu fiquei livre agora que eu estou viúva”. Quer dizer, elas acham que é uma vantagem a vida sexual ter se extinguido, porque isso era pensado como uma obrigação do casamento e não como prazer propriamente dito. Essas mulheres, de 70, 80 anos, foram educadas para não ter prazer sexual.
 
A obrigação delas era darem prazer sexual ao homem. Por isso, agora libertas da obrigação, não acreditam muito no discurso de que a velhice saudável é aquela em que a vida sexual está efetivada, concretizada.
 
iG: A senhora acredita que isso pode mudar?
Guita: Acho que as novas gerações vão ter uma visão muito diferente da sexualidade na velhice porque certamente houve uma liberação da vida sexual das mulheres. As pessoas que têm trinta hoje provavelmente vão ter uma vida sexual, seja presencial ou via internet (risos) mais efetiva.
 
iG: Talvez quando chegarem na velhice. Porque, ainda longe dessa idade, os jovens mantêm ainda uma visão pudica sobre o sexo entre os velhos, não é?
Guita: Sem dúvida. Mas isso está mudando. Tem uma novela agora [Em Família] que tem um asilo de velhos e eu achei interessante o modo como isso está sendo apresentado. A diretora do asilo quer exercer um controle muito forte sobre a vida sexual dos velhos. É uma personagem chata, desagradável e que tenta controlar uma sexualidade que ainda esta muito ativa. Tanto que eles usam a internet para procurar relacionamentos e agora ela proibiu a internet no asilo (risos).
 
Acho que o tema está sendo trabalhado de um jeito muito sensível e que reflete o que deve acontecer em vários asilos por causa desse moralismo persistente e que não tem relação com o modo com que a ciência gerontológica está tratando da questão.
 
iG: No estudo, a senhora usou o termo erotismo politicamente correto. Por quê?
Guita: Emprestei esse termo da socióloga Maria Filomena Gregório, que estuda o erotismo. Ela usa esse termo para mostrar que, hoje, a boa vida sexual tem a ver com a saúde. Faz com que o sexo não seja visto como deturpação, como alguma coisa que seja nociva, própria das pessoas irresponsáveis, ou do modo como a sexualidade era vista do ponto de vista moralista, apenas ligada à reprodução.
 
Hoje não, a sexualidade passa a ser bem vista, pois esta associada com uma boa saúde. Isso torna a imagem da velhice mais gratificante
 
iG: O que muda no sexo na terceira idade?
Guita: O que me parece muito interessante na forma como a gerontologia trata essa questão é mostrar que o corpo envelhecido se modifica. O jovem tende a valorizar mais essa visão própria da nossa sociedade, em que o prazer masculino esta basicamente na genitália. O que a gerontologia tende a mostrar é que a velhice é um momento em que todas as áreas do corpo são áreas que podem ser erotizadas.
 
Na velhice, tudo é feito com mais calma e mais atenção. Isso é muito próprio da gerontologia, pensar em sexualidades alternativas, prazer sexual alternativo. E, nesse sentido, vai contra a indústria farmacêutica, que ao oferecer produtos como o Viagra, coloca a função erétil como central na sexualidade dos idosos. O que se propõe é um novo pensamento: não é aquele que defende que a sexualidade se extingue e nem que o prazer sexual só persiste se atrelado à ereção. Para a gerontologia, na velhice, diminui a frequência, mas o prazer é mais intenso porque se tem mais calma e o corpo inteiro pode ser objeto do prazer sexual.
 
iG

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