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O corpo humano, de uma maneira geral, obedece a uma regra universal
muito simples: quanto mais você usa alguma coisa, quanto mais você gasta
um recurso, mais ele vai ficando escasso. Até que uma hora pode até
acabar.
Por isso, é normal a gente ver em nossos pais, avôs e tios pequenas
falhas de memória que vão sendo cada vez mais frequentes com o tempo.
Perguntas como “o que eu vim fazer aqui mesmo?”, “onde é que eu deixei
as chaves do carro?”, “qual é mesmo o nome daquela moça?” começam a se
tornar parte da rotina.
Mas se isso era inevitável, a história acabou de mudar.
O tipo de memória que é responsável por guardar informações por
curtos períodos de tempo é chamada de “memória de trabalho”, ou “memória
de curto prazo”. Essa memória se baseia em um equilíbrio de substâncias
químicas no cérebro. Segundo um estudo desenvolvido pela Universidade
da Flórida, nos Estados Unidos, esse equilíbrio químico é deslocado em
adultos mais velhos com o passar do tempo, e a memória de trabalho
diminui. A razão disso poderia ser porque o cérebro passa a produzir
muitas substâncias que reduzem a atividade neural.
As células que normalmente freiam essa atividade são chamadas de
GABA, que é um neurotransmissor inibitório.
Apesar de parecerem vilões
nessa história toda, elas são essenciais para o bom funcionamento do
cérebro. Sem GABA, as células cerebrais poderiam se tornar muito ativas –
nosso cérebro ficaria semelhante ao cérebro de pessoas com
esquizofrenia e epilepsia. De acordo com o professor de psiquiatria e
neurociência Barry Setlow, um nível normal de GABA ajuda a manter os
níveis ideais de ativação celular.
Para determinar o culpado pelo declínio da memória, os pesquisadores
fizeram um teste com ratos que tinham que lembrar a localização de uma
alavanca em curtos períodos de tempo, de até 30 segundos. Assim, os
cientistas descobriram que tanto ratos novos quanto velhos cumpriam bem a
tarefa. Mas quando o período de tempo era prolongado, os ratos velhos
tinham dificuldades. Não todos, assim como nem todos os adultos mais
velhos têm problemas de memória.
O estudo mostrou, então, que os ratos mais velhos com problemas de
memória tinham mais receptores GABA em seus cérebros, e que os cérebros
de ratos idosos que não tinham problemas de memória podiam compensar
esse sistema inibidor. Ou seja: eles eram capazes de produzir menos
receptores de GABA. Logo, a grande culpada é na verdade a alteração dos
níveis de GABA.
O medicamento
Todos esses experimentos resultaram na fabricação de um medicamento
que, após concluída a fase de testes, poderá ser usado em humanos para
evitar a perda de memória – não em pessoas com Alzheimer ou outras
doenças do tipo, mas em pessoas que têm problemas em lembrar pequenas
informações do dia a dia. Sua função é justamente bloquear os receptores
GABA para resgatar a memória de trabalho da juventude, imitando o
funcionamento do cérebro dos ratos mais velhos que não têm problema de
memória.
A medicina moderna tem feito de tudo para que a gente viva por mais
tempo. E com isso, vem o desafio de fazer com que a gente consiga viver
esse “mais tempo” com mais qualidade também. Iniciativas como esta são
um bom indício de que, em breve, esse sonho da medicina será realidade.
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