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quinta-feira, 3 de julho de 2014

USP descobre substância mais eficaz no tratamento da doença de Chagas

Molécula do benznidazol: setas apontam para estruturas modificadas (Foto: Adriano Oliveira/G1)
Foto: Adriano Oliveira/G1 - Molécula do benznidazol: setas apontam para
estruturas modificadas
Medicamento atual causa efeitos colaterais e 40% suspendem uso no início. Modificação química resultou em molécula menos tóxica para as células

Dados do Ministério da Saúde apontam que cerca de 3 milhões de pessoas possuem doença de chagas no país e a maioria já na fase crônica, quando órgãos como coração e esôfago começam a inflamar e inchar. O problema é que 40% dos pacientes abandonam o tratamento nos primeiros dez dias porque o benznidazol, único medicamento usado contra a moléstia, provoca muitos efeitos colaterais. Com base nessa constatação, pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) em Ribeirão Preto (SP) conseguiram desenvolver uma substância cinco vezes mais eficiente que a atual e, principalmente, menos tóxica ao ser humano.

O pesquisador João Santana da Silva explica que o resultado foi obtido a partir de modificações na estrutura molecular do próprio benznidazol, usado no tratamento da doença de chagas há 40 anos. O remédio atua no sentido de eliminar da corrente sanguínea o Trypanossoma Cruzi – parasita transmitido pelo inseto conhecido como barbeiro. “Para esse bicho sobreviver, ele precisa de uma quantidade enorme de redes enzimáticas. Então, a ideia é fazer algo que iniba essas vias e não faça mal ao hospedeiro, que no caso é o homem, o paciente.”

Professor João Santana da Silva e a pesquisadora Carla Duque Lopes assinam pesquisa com equipe da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (Foto: Adriano Oliveira/G1)
Foto: Adriano Oliveira/G1 - Professor João Santana da Silva e a pesquisadora Carla Duque Lopes assinam pesquisa com equipe da Faculdade de Ciências Farmacêuticas
Silva afirma que, na fase inicial, a doença de chagas tem sintomas como febre e mal-estar, o que faz com que seja confundida com enfermidades mais simples. Caso não seja tratado de forma adequada, o paciente pode desenvolver a fase crônica, quando o parasita se hospeda nos tecidos e causa o crescimento de alguns órgãos. “Por isso, a maioria das pessoas que se infecta não fica sabendo, só vai descobrir que é chagásico quando tiver a sintomatologia da fase crônica, que varia de três a 10 ou até 15 anos”, diz o pesquisador.

Atualmente, a forma de eliminar o parasita do corpo e diminuir os sintomas é pela ministração do benznidazol - único medicamento aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Entretanto, o remédio não é eficaz na fase crônica e causa muitos efeitos colaterais como enjoos, dores estomacais e tontura. O resultado é que cerca de 40% dos pacientes abandonam o tratamento logo no início. “Uma das nossas estratégias para eliminar o parasita é modificar o benznidazol e transformá-lo em uma substância mais eficaz e menos tóxica”, afirma Silva.

Novo medicamento
Os testes in vitro constataram que a nova molécula é capaz de matar o parasita, sem ser tóxica para a célula humana. O próximo passo, que terá início nas próximas semanas, é testar uma quantidade maior da substância em camundongos. Só a partir destes resultados, será possível iniciar os testes em seres humanos. “Como a gente não utiliza nenhuma droga diferente das que já existem, é fácil ir para a indústria farmacêutica. Não é uma droga nova, mas uma nova abordagem. Já estamos no meio do caminho.”

O pesquisador diz, no entanto, que esse tipo de estudo não atrai a maioria dos laboratórios farmacêuticos e acaba ficando nas universidades, porque a doença de chagas é considerada uma moléstia negligenciada, ou seja, endêmica em populações de baixa renda. Exemplo disso é que 80% dos infectados estão em comunidades de baixa renda, afastadas dos grandes centros urbanos, na região norte do país.

"A importância para a indústria farmacêutica é pequena porque, se existir uma droga para matar o parasita, certamente terá que ser barata. Não tem interesse comercial. Portanto, quem acaba correndo atrás disso são as universidades", explica Silva, destacando que só a USP em Ribeirão Preto tem quatro descobertas patenteadas sobre o tema.

 G1

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