Foto: Adriano Oliveira/G1 - Molécula do benznidazol: setas apontam para estruturas modificadas |
Dados do Ministério da Saúde apontam que cerca de 3 milhões de pessoas
possuem doença de chagas no país e a maioria já na fase crônica, quando
órgãos como coração e esôfago começam a inflamar e inchar. O problema é
que 40% dos pacientes abandonam o tratamento nos primeiros dez dias
porque o benznidazol, único medicamento usado contra a moléstia, provoca
muitos efeitos colaterais. Com base nessa constatação, pesquisadores da
Universidade de São Paulo (USP) em Ribeirão Preto
(SP) conseguiram desenvolver uma substância cinco vezes mais eficiente
que a atual e, principalmente, menos tóxica ao ser humano.
O pesquisador João Santana da Silva explica que o resultado foi obtido a
partir de modificações na estrutura molecular do próprio benznidazol,
usado no tratamento da doença de chagas há 40 anos. O remédio atua no
sentido de eliminar da corrente sanguínea o Trypanossoma Cruzi –
parasita transmitido pelo inseto conhecido como barbeiro. “Para esse
bicho sobreviver, ele precisa de uma quantidade enorme de redes
enzimáticas. Então, a ideia é fazer algo que iniba essas vias e não faça
mal ao hospedeiro, que no caso é o homem, o paciente.”
Foto: Adriano Oliveira/G1 - Professor João Santana da Silva e a pesquisadora Carla Duque Lopes assinam pesquisa com equipe da Faculdade de Ciências Farmacêuticas |
Silva afirma que, na fase inicial, a doença de chagas tem sintomas como
febre e mal-estar, o que faz com que seja confundida com enfermidades
mais simples. Caso não seja tratado de forma adequada, o paciente pode
desenvolver a fase crônica, quando o parasita se hospeda nos tecidos e
causa o crescimento de alguns órgãos. “Por isso, a maioria das pessoas
que se infecta não fica sabendo, só vai descobrir que é chagásico quando
tiver a sintomatologia da fase crônica, que varia de três a 10 ou até
15 anos”, diz o pesquisador.
Atualmente, a forma de eliminar o parasita do corpo e diminuir os
sintomas é pela ministração do benznidazol - único medicamento aprovado
pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Entretanto, o
remédio não é eficaz na fase crônica e causa muitos efeitos colaterais
como enjoos, dores estomacais e tontura. O resultado é que cerca de 40%
dos pacientes abandonam o tratamento logo no início. “Uma das nossas
estratégias para eliminar o parasita é modificar o benznidazol e
transformá-lo em uma substância mais eficaz e menos tóxica”, afirma
Silva.
Novo medicamento
Os testes in vitro constataram que a nova molécula é capaz de matar o parasita, sem ser tóxica para a célula humana. O próximo passo, que terá início nas próximas semanas, é testar uma quantidade maior da substância em camundongos. Só a partir destes resultados, será possível iniciar os testes em seres humanos. “Como a gente não utiliza nenhuma droga diferente das que já existem, é fácil ir para a indústria farmacêutica. Não é uma droga nova, mas uma nova abordagem. Já estamos no meio do caminho.”
Os testes in vitro constataram que a nova molécula é capaz de matar o parasita, sem ser tóxica para a célula humana. O próximo passo, que terá início nas próximas semanas, é testar uma quantidade maior da substância em camundongos. Só a partir destes resultados, será possível iniciar os testes em seres humanos. “Como a gente não utiliza nenhuma droga diferente das que já existem, é fácil ir para a indústria farmacêutica. Não é uma droga nova, mas uma nova abordagem. Já estamos no meio do caminho.”
O pesquisador diz, no entanto, que esse tipo de estudo não atrai a
maioria dos laboratórios farmacêuticos e acaba ficando nas
universidades, porque a doença de chagas é considerada uma moléstia
negligenciada, ou seja, endêmica em populações de baixa renda. Exemplo
disso é que 80% dos infectados estão em comunidades de baixa renda,
afastadas dos grandes centros urbanos, na região norte do país.
"A importância para a indústria farmacêutica é pequena porque, se
existir uma droga para matar o parasita, certamente terá que ser barata.
Não tem interesse comercial. Portanto, quem acaba correndo atrás disso
são as universidades", explica Silva, destacando que só a USP em
Ribeirão Preto tem quatro descobertas patenteadas sobre o tema.
G1
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