Até agora, o único tratamento eficaz para doença celíaca é uma dieta sem glúten |
Um grupo de pessoas com doença celíaca aceitou se submeter a uma terapia inusitada para tentar controlar o problema: uma infestação de vermes parasitas
A doença celíaca é resultado de uma alteração no sistema imunológico que provoca um ataque desordenado de células do próprio doente ao seu intestino quando ingere glúten, proteína presente em alimentos à base de trigo, como, macarrão e pães.
Entre os sintomas estão diarreia crônica, inchaço, fadiga e até prejuízo de desenvolvimento em crianças.
Até agora, o único tratamento eficaz para doença celíaca é uma dieta sem glúten.
A terapia em teste usou o verme Necator americanus, um primo distante da lombriga. Mas, diferentemente dela, que mede até 30 cm, o necator fica em torno de 1 cm.
Entre sintomas da verminose estão febre, diarreia, baço e fígado aumentados e perda de peso.
O experimento foi feito na Austrália com 12 (corajosos) voluntários. Vinte larvas número considerado seguro foram colocadas sobre a pele do braço dos pacientes.
Paul Giacomin, um dos autores do trabalho, da Universidade James Cook, explica que as larvas penetram a pele e viajam pela corrente sanguínea até o pulmão, onde se desenvolvem. Depois sobem as vias aéreas, são tossidas, engolidas e chegam, então, ao intestino, e lá se alojam
Larva de Necator americanus |
Em seguida, foi feita uma dessensibilização progressiva ao glúten: os pacientes começaram comendo uma quantidade bem pequena de macarrão (0,5 g) e chegaram, no final do período, à “generosa” porção de 100 g.
O papel dos vermes, segundo os cientistas, foi mudar o padrão de resposta do sistema imune ao glúten, de modo a reduzir a reação inflamatória causada pela proteína.
Dois dos 12 pacientes acabaram tendo reações adversas mesmo com baixas quantidades de glúten.
Por outro lado, ainda que o fim da pesquisa previsse o uso de remédios para acabar com a infestação por vermes, os outros dez pacientes nos quais a terapia foi bem-sucedida decidiram manter as “novas aquisições”.
Para a secretária Rosalie Webb, 62, que participou do estudo, o glúten não faz falta, mas ela tem medo de ingerir a proteína acidentalmente por contaminação cruzada. Neste ano, por exemplo, ela visitou países na América do Sul, entre eles o Brasil, e teve dificuldade de achar comida sem glúten.
“Não fiquei doente nenhuma vez, o que é fantástico talvez os vermes estivessem trabalhando!”
O investidor Hugh Sheardown, 64, também voluntário do estudo, considera que os vermes que ele carrega há cerca de dois anos são um “seguro” contra a ingestão acidental de glúten.
Cientistas, no entanto, são firmes ao dizer que o tratamento com larvas de necator é experimental e ainda não é uma alternativa viável à dieta sem glúten.
Os trabalho foi publicado no “Journal of AllergyClinical Immunology”.
Folha de São Paulo
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