Sem acesso, há atraso em pesquisas sobre as mutações do vírus e, portanto, no desenvolvimento de novas drogas e vacinas
Cientistas de várias partes dos Estados Unidos disseram que não conseguem obter amostras do ebola, o que complica os esforços para entender como o vírus sofre mutações e prejudica o desenvolvimento de novas drogas, vacinas e diagnósticos.
Os problemas refletem a precaução crescente de agências reguladoras e empresas de transporte com o manejo da doença, assim como os recursos limitados dos países do oeste da África que lutam para ajudar milhares de cidadãos infectados.
Dez cientistas de oito grandes instituições de pesquisa contactados pela Reuters relataram não ter conseguido acesso a amostras do Ebola nos últimos meses.
Uma delas, a Universidade de Tulane, recebeu amostras nesta semana, e o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC, na sigla em inglês) disse ter chegado a um acordo para obter espécimes vivos, mas não ficou claro se os novos suprimentos irão atender a procura, e o transporte continua sendo um desafio.
O ebola passa por mutações à medida que se dissemina, e embora poucos temam que o vírus adquira a capacidade de se transmitir pelo ar, por exemplo, os cientistas precisam de levas constantes de novas amostras para rastrear estas mudanças. O gargalo no fornecimento de amostras não deve atrasar o desenvolvimento de tratamentos experimentais, mas se o vírus sofrer alterações significativas que não forem detectadas, as drogas e os exames podem não funcionar, alertaram os pesquisadores.
O doutor Charles Chiu, especialista em microbiologia e doenças infecciosas da Universidade da Califórnia, em São Francisco, necessita de amostras de pacientes com Ebola para desenvolver um novo exame genético que poderia detectar a doença em indivíduos contaminados antes do surgimento dos sintomas.
“No momento, ninguém sabe realmente que mutação o vírus sofreu ou se sofreu”, afirmou. Sem a pesquisa, “não seremos capazes de determinar antecipadamente se ele adotou ou não uma forma na qual pode driblar testes de diagnóstico ou tornar vacinas e drogas atuais ineficazes”.
Os cientistas dizem que Libéria, Serra Leoa e Guiné foram lentas na liberação de amostras, já que penam para combater o pior surto de Ebola já registrado e que já matou cerca de cinco mil pessoas na região.
Laurie Garrett, principal autoridade em saúde global do Conselho de Relações Exteriores, de Nova York, afirmou que a questão é sobretudo, e acertadamente, a segurança no transporte, especialmente à luz de episódios recentes de manipulação imprópria de patógenos como o antraz em laboratórios do governo norte-americano.
Erica Ollmann Saphire, do Instituto de Pesquisa Scripps em La Jolla, na Califórnia, dirige os cientistas que trabalham em tratamentos do Ebola, como o coquetel de três antibióticos Zmapp. Ela disse por e-mail que precisa de células especiais de sobreviventes do Ebola, mas não obteve nenhuma.
iG
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