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quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Grávida exposta à poluição tem risco maior de ter filho com déficit de atenção

Getty Images: Grávidas expostas à poluição tiveram cinco
vezes maior risco de que filhos desenvolvessem TDAH
Estudo em Nova York mostrou que risco aumenta em cinco vezes; São Paulo tem o triplo do poluente encontrado em NY
 
A exposição à poluição do ar traz consequências para a saúde antes mesmo de a criança nascer e que vão muito além de doenças cardiorrespiratórias. Pesquisa realizada na cidade de Nova York relaciona um componente da poluição do ar ao aumento das chances de a criança desenvolver transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, ou TDAH.
 
O estudo realizado pela renomada Universidade de Columbia monitorou 233 grávidas de Nova York, desde a gravidez até quando as crianças completaram nove anos de idade. Os resultados mostram que gestantes expostas a altos níveis de hidrocarbonetos aromáticos policíclicos, um componente da poluição do ar, tiveram cinco vezes mais chance de que os filhos tivessem TDAH mais grave – e do tipo desatento -, em comparação às mães que não sofreram exposição.
 
"De acordo com os resultados, vemos que a exposição à poluição encontrada em Nova York pode ter um papel importante na ocorrência de TDHA," diz a autora do estudo Frederica Perera, do Centro de Saúde Ambiental para Crianças da Faculdade de Saúde Pública de Columbia.
 
O TDAH é um conjunto de sintomas marcado pela dificuldade em manter a concentração. A causa ainda não é claro, mas geralmente está ligada apenas à genética. Imagens mostram que há menor ativação das áreas frontais em portadores de TDAH.
 
Frederica afirma que os mecanismos pelos quais a exposição à poluição pode afetar o cérebro dos fetos em desenvolvimento não são totalmente compreendidos. “Temos algumas suposições, que incluem a interrupção de vias hormonais, efeitos sobre a placenta, resultando em diminuição da troca de oxigênio e nutrientes, danos diretos do DNA, estresse oxidativo e alterações epigenéticas. O período pré-natal é crítico por causa de uma série de mudanças estruturais e de nível celular que ocorrem nos estágios do desenvolvimento.”, afirma.
 
No estudo, o nível de exposição ao poluente das grávidas – todas não fumantes – foi medido por exame de sangue e o das crianças foi obtido a partir da análise de amostras de urina. Os problemas de TDAH foram avaliados utilizando a escala de classificação.
 
Vários problemas
O estudo é o primeiro a explorar a relação entre pré-natal, este tipo de componente e TDAH em crianças em idade escolar ao longo do tempo. Porém, estudos anteriores já haviam relacionado à exposição á poluição do ar com maior ansiedade, depressão e atrasos no desenvolvimento e o risco de bebês nascerem abaixo do peso.
 
“É um problema muito sério e atinge, principalmente aqui no Brasil, os mais pobres, que passam mais tempo nos corredores de ônibus, local com o ar mais poluído”, afirma Paulo Saldiva, professor da USP e especialista em poluição atmosférica. Saldiva não participou do estudo realizado nos Estados Unidos.
 
Saldiva explica que os poluentes atuam nos neurônios e o estudo provou que isto também no momento em que o cérebro está se desenvolvendo. “Eles atravessam a placenta e interfere no sistema nervoso do bebê”, afirma.
 
De acordo com Saldiva, os hidrocarbonetos aromáticos policíclicos presentes no ar impedem que neurônios migrem e estabeleçam circuitos (sinapse), além de inibir que conexões pouco utilizadas sejam eliminadas para que a capacidade cerebral fique disponível para conexões mais frequentes.
 
“O estudo realizado em Nova York reforça a teoria de que os poluentes atuam em dois fatores: o impedimento da migração neuronal e inibidor de poda neuronal“, disse.
 
É pior ainda aqui
Se os resultados do estudo já são preocupantes para nova iorquinos, se torna ainda mais para paulistanos e cariocas. Os níveis de poluição nas duas cidades brasileiras são maiores que na cidade americana.
 
De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde, a concentração de material particulado no ar do Rio de Janeiro é 67μm/m3; em São Paulo, 35 μm/m3 e em Nova York, 23 μm/m3. O limite estabelecido pela OMS é de 20 μm/m3.
 
Os hidrocarbonetos aromáticos policíclicos são compostos encontrados tanto na forma de material particulado quanto gasosa. Eles são derivados principalmente de processos de combustão incompleta em indústrias, incineração, e também em emissões de veículos automotivos.
 
“A única solução é reduzir a poluição, não tem como escapar disso. Os carros com menos emissão de poluentes fizeram o seu papel, mas não adianta ter uma frota de carros que só cresce e fica parada nas vias. É preciso valorizar o transporte público”, diz.
 
iG

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