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terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Parto normal fortalece a saúde do bebê e tem melhor recuperação

O nascimento de um filho é certamente uma das etapas mais especiais da vida de uma mulher
 
É o momento em que ela e a família direcionam todos os seus esforços para que tudo corra bem com a mãe e com o bebê. Logo, o parto é um momento decisivo para a construção de um vínculo duradouro.
 
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), dar à luz a um bebê é um ato natural. De acordo com a instituição, se tudo estiver bem com mãe e com a criança, o parto é um processo fisiológico que requer pouca intervenção médica. A cesárea, cirurgia de médio porte, é recomendada em casos de complicações reais para a mulher e para o bebê e necessita, portanto, de indicação médica. Conforme a OMS, o índice aceitável de cesarianas fica em torno de 15%.
 
No entanto, atualmente, 55% dos partos realizados no Brasil são cesarianas. O índice – que é de 40% no SUS – chega a 84% na rede privada. Para reduzir esses números, o Ministério da Saúde e a Agência Nacional de Saúde (ANS) anunciaram, em janeiro, uma série de medidas para estimular a realização de partos normais e reduzir o alto índice de cesáreas desnecessárias no País.
 
Vantagens
Para a dentista Andreia Barroca (33), que passou pelos dois tipos de parto – cesariana na primeira gravidez e parto normal na segunda gestação – não existe comparação entre os dois procedimentos. Segundo ela, são inúmeras as vantagens do parto normal para a mãe e para o bebê, tanto física quanto emocionalmente. Andreia é mãe de Lucca (5) e de Cauã, de um mês.
 
“A recuperação do parto normal é muito melhor. É maravilhoso você estar bem e não ter a dor depois do parto, não ter aquela restrição de movimentos que a cesárea ocasiona. Você poder estar ali inteira para cuidar do bebê, para atender as necessidades do seu filho, sem as restrições que uma cirurgia geral tem”, revela.
 
Além disso, Andreia, que em sua segunda gravidez fez um parto humanizado, destaca que o parto natural estimula fortemente o vínculo entre mãe e bebê. “O meu filho nasceu e veio direto para o meu colo. Ele ficou em contato, pele a pele comigo, de uns 30 a 40 minutos. Só então ele foi levado para fazer os exames. Ele nasceu bem, porque ele nasceu na hora dele”, afirmou.
 
Segundo a obstetra Renata Reis, a cesariana é uma cirurgia extraordinária que sempre salvou muitas vidas. Entretanto, a profissional alerta que é fundamental o procedimento ser realizado quando necessário. De acordo com a médica, uma cesariana marcada representa uma chance três vezes maior de morte tanto para a mãe quando para o bebê. Além disso, há maiores chances de hemorragia, infecção, trombose, além dos riscos relacionados à anestesia.
 
Consequências para a criança
Para a criança, a principal consequência é a prematuridade e a imaturidade pulmonar. De acordo com dados do Ministério da Saúde, as cesáreas agendadas também aumentam em 120 vezes a probabilidade de problemas respiratórios para o recém-nascido e se trata da principal causa do encaminhamento de bebês para UTIs neo-natais.
 
Renata também enfatiza que a única prova existente que um bebê está pronto para o nascimento é o trabalho de parto. “Realizar uma cesariana marcada, ainda que seja em uma idade gestacional mais avançada, com 39 ou 40 semanas, não significa que o bebê está pronto para nascer. Talvez aquele bebê precisasse de mais tempo para estar completamente formado”, alerta.
 
A médica ainda destaca que o contato do bebê com as bactérias e os micro-organismos existentes no canal vaginal estimula o sistema imunológico do recém-nascido, fazendo com que o parto normal seja responsável por evitar doenças futuras como asma, obesidade e doenças autoimunes.
 
É o que também argumenta a mãe de Lucca e Cauã. Para Andreia, depois que a mulher tem acesso real à informação, é muito difícil que ela escolha uma cesárea agendada. “No meu segundo parto, eu fui atrás do empoderamento, da informação, para que bem informada eu pudesse fazer a melhor escolha. Eu acho que uma mulher que tem acesso de fato à informação vai querer, pelo menos, entrar em trabalho de parto”, afirma.
 
Ela fala do medo que muitas mulheres alimentam em relação ao parto normal: “O parto natural é trabalhoso, é cansativo, mas a recuperação é maravilhosa. É evidente que o parto normal dói, mas não é uma dor de sofrimento, é uma dor que tem como objetivo trazer o seu filho bem ao mundo”, defende.
 
Cultura
Para a coordenadora da Saúde da Mulher do Ministério da Saúde, Esther Vilela, a reversão do número de cesáreas agendadas no Brasil passa por uma mudança cultural e comportamental no processo de atenção ao parto.
 
Segundo ela, os altos índices de cesáreas agendadas no País são resultado de fatores como a comodidade, em virtude da compatibilização de agendas entre mães e médicos, a relativa praticidade do procedimento cirúrgico – que não dura mais de duas horas – além do receio que muitas mulheres cultivam em relação ao parto normal.
 
É por isso que, de acordo com a coordenadora, o Ministério da Saúde tem investido, nos últimos anos, para instituir uma mudança no modelo de atenção ao parto de modo a melhorar e qualificar a assistência obstétrica e neonatal no Brasil.
 
Nesse sentido, ela destaca a importância da presença das enfermeiras obstétricas ou obstetrizes na atenção às mulheres em partos de baixo risco, a reformulação dos centros de parto normal em ambientes mais acolhedores para as gestantes, além do respeito à privacidade e à liberdade da mulher no momento do parto.
 
Medidas
Uma das medidas anunciadas recentemente pelo Ministério da Saúde prevê que as usuárias de planos de saúde tenham direito à informação sobre o percentual de partos normais e cesáreas realizados por médico, hospital e por operadora.
 
Os planos de saúde terão prazo máximo de 15 dias para prestar as informações. Para Esther Vilela, essa é uma medida fundamental para um processo de transparência e empoderamento das mulheres em relação ao parto e ao nascimento. “A partir de agora elas vão poder saber melhor o que estão contratando”, afirma.
 
Além disso, os planos de saúde precisarão fornecer às mulheres o cartão da gestante, um registro de todo o pré-natal. De posse desse cartão, qualquer profissional de saúde tem conhecimento sobre a gestação daquela mulher, facilitando o atendimento quando ela entrar em trabalho de parto.
 
Outra novidade é que os médicos e hospitais precisarão apresentar às operadoras de planos de saúde o chamado partograma; registro gráfico da evolução do trabalho de parto. O objetivo da medida é reduzir as cesarianas agendadas e ocorridas sem as mulheres entrarem em trabalho de parto. O documento será considerado parte integrante do processo para pagamento do parto.
 
De acordo com a obstetra Renata Reis, é por meio desse registro gráfico que o profissional consegue avaliar se aquele trabalho de parto evolui de maneira satisfatória. “Se não existir trabalho de parto, evidentemente não há partograma”, destaca.
 
Humanização
Para a educadora física Carmen Palet, que trabalha como doula há 12 anos, o parto é um processo tão natural, como a concepção, a gestação e a amamentação.
 
Nesse sentido, Carmen esclarece a diferença entre a função da doula e da parteira em um parto natural. Segundo ela, o papel é prover a mulher de conforto e de apoio físico e psicológico, enquanto a técnica e o trabalho clínico ficam por conta da enfermeira, do médico ou da parteira.
 
No processo, ela destaca a criação de um vínculo de confiança entre a mãe e a doula consolidado antes, durante e depois do nascimento do bebê como o primeiro passo para o sucesso de um parto humanizado. Ela ainda relata que nestes casos, as crianças são acolhidas de forma tranquila e respeitosa, que em muitos casos, sequer choram.
 
Sobre o receio das mulheres em relação às dores do parto, Carmen enfatiza que há várias técnicas não farmacológicas para alívio da dor, como massagens, água quente e mudanças de posições. Além disso, ela destaca que há sempre um plano B para casos de complicações, que são sempre detectadas precocemente.

Fonte: Blog do Planalto

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