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quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Pesquisadores de saúde pública são financiados pela indústria alimentícia no Reino Unido, diz periódico

Investigação do British Medical Journal aponta que diversas pesquisas receberam apoio financeiro de companhias como Coca-Cola e Nestlé
 
Londres - Cientistas de saúde pública e uma comissão do governo que trabalha no aconselhamento nutricional para os cidadãos ingleses receberam financiamento das mesmas empresas cujos produtos são considerados responsáveis pela crise de obesidade que a atinge o Reino Unido. É o que revela uma investigação do periódico "British Medical Journal" (BMJ).

Os resultados do relatório especial levantam questões importantes sobre uma potencial parcialidade e o conflito de interesses entre os especialistas de saúde pública britânicos diante do problema da obesidade.

Os beneficiados pelos financiamentos oriundos de companhias da indústria alimentícia, entre outras, incluem membros do Comitê Científico Consultivo de Nutrição (SACN, na sigla em inglês), que está sendo atualizado com as recomendações oficiais sobre o consumo de carboidratos, e pesquisadores que trabalham na unidade de Pesquisa Nutricional Humana (HNR, em inglês), do Conselho de Pesquisa Médica.

Os cientistas da HNR receberam financiamento para pesquisas de vários tipos de empresas, como Coca-Cola, Mars, Nestlé, Sainsbury's, Institute of Brewing e Distilling, Vigilantes internacionais do peso, entre outros.

Uma ex-pesquisadora do HNR, Susan Jebb, professora de dieta e saúde populacional da Universidade de Oxford, e presidente da Rede de Responsabilidade do Negócio de Alimentos do governo, recebeu apoio financeiro para o seu trabalho da Coca-Cola, Sainsbury, Cereal Partners e Rank Hovis McDougal, entre outros. Entre 2008 e 2010, a Coca-Cola doou £ 194 mil a um estudo da pesquisadora na qual ela era a principal investigadora.

Listada como pesquisadora única ou co-principal em dez projetos apoiados por empresas entre 2004 e 2015, Jebb atraiu financiamentos que totalizam £ 1,37 milhões da HNR. Algumas das companhias que apoiaram o seu trabalho, incluindo a Unilever e a Coca-Cola, são agora membros do Acordo de Responsabilidade, presidido por Jebb.

Questionada sobre esses fatos, Jebb disse à BMJ que todas as suas pesquisas foram analisadas e relatadas de forma independente da indústria, e acrescentou:

"Tudo o que faço, seja em minha pesquisa ou na cadeira de presidente do Acordo de Responsabilidade é tentar melhorar a saúde pública".

De forma similar, a pesquisa realizada por membros da SACN tem sido apoiada por empresas como PspsiCo, Coca-Cola, Mars e Nestlé.

Uma análise das declarações anuais de interesses dos membros da SACN mostra que, entre 2001 e 2012, houve uma média de 45 declarações por ano envolvendo companhias de comida, bebidas e indústria farmacêutica.

Dos 40 cientistas filiados à SACN entre 2001 e 2012, apenas 13 não tiveram interesses a declarar.

David Stuckler, professor de economia política e sociologia na Universidade de Oxford, diz que o engajamento de empresas como a Coca-Cola no trabalho das organizações de saúde pública "se enquadra na categoria de esforços para desencorajar a regulamentação pública para tentar enfraquecer a saúde pública ao trabalhar com ela".

O BMJ também relata evidências de que o Acordo de Responsabilidade não está funcionando. Não só os pedidos da indústria feitos no âmbito do acordo não são adicionados à meta do governo de uma redução de 5% no consumo de calorias, mas o mais completo levantamento do Reino Unido de hábitos de compras dos cidadãos mostra que, entre 2006 e 2014, o número de calorias nas compras nacionais semanais aumentou em quase 12%.
 
O Globo

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